Vício em cafeína

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Callie

Assim como em todas as outras manhãs, eu tive que promover um debate interno comigo mesma antes do trabalho. Um tipo de incentivo, ou autoafirmação.

Eu estava sentada na cabine da minha picape, com um copo de café fervendo em uma mão, já estacionada na minha vaga do estacionamento na Corporação Internacional Robbins, murmurando para mim mesma como uma verdadeira louca.

"Callie Torres, você é sortuda de ter este emprego. Então, grande coisa se sua chefe é sensual como o diabo em pessoa e não faz ideia que você existe. Contente-se com o fato de poder ao menos pagar o aluguel."

Este era um argumento válido. Minhas amigas de infância April Kepner e Amélia Sheperd, haviam escolhido um apartamento particularmente caro pra nós todas dividirmos. Eu teria ficado feliz em morar sozinha, mas April havia feito um pacto — Aos cinco anos de idade — de morarmos juntas, um pacto muito sério. E quando April levava algo a sério, ceder as vontades dela era a melhor opção.

Nós três tínhamos vinte anos, e enquanto as duas estavam em seus últimos anos de estudos, meu curso de administração exigia um ano de experiência. — Como um estágio — entre o segundo e o último ano de faculdade. Minhas notas eram altas o suficiente para que eu conseguisse uma posição medíocre de secretária de Arizona Robbins. Eu passei os dois primeiros meses de experiência lá como a terceira secretária de Arizona Robbins, correndo de um lado para o outro, para pegar café para ela, pegar as roupas dela na lavanderia, e sem qualquer contato com os chefes, além de olhares ocasionais no corredor.

Enquanto isso podia ser suficiente para algumas pessoas, especialmente se considerar o generoso contracheque, me deixava frustada saber que nada do que eu havia estudado era realmente colocado em uso. A empresa Robbins, estava passando por um período de transição do comando; o CEO, Daniel Robbins, estava deixando o cargo, dividindo as responsabilidades entre seus três filhos, Timothy, Arizona e Alex. Com cada filho implementando novas estratégias de negócios, alterando equipes de alguns setores, e de uma forma geral trazendo a companhia para a idade moderna, eu sabia que podia ter um impacto maior do que fazer café expresso duplo da Srta. Robbins toda manhã.

Entretanto, qualquer ideia que eu dava para Carina Deluca, a segunda secretária de Arizona, era ignorada, então eu escolhi ignora-la também.
Instalei um programa para filtrar e-mails, contatos e cronogramas com extrema eficiência sem a permissão dela.

Não é preciso dizer que Carina levou todo crédito por isso, mas quando houve um problema com os computadores, e a primeira secretária, Lauren, pediu auxílio pra Carina reinstalar o programa, a verdade apareceu. Não demorou muito até que Carina fosse despachada para o décimo andar, e Lauren e eu nos tornamos um time.

Ela fazia todo o contato pessoal com Arizona, e eu passava meu tempo mexendo nos sistemas e organizando informações. Ao fim de mais um mês, eu havia aumentado a produtividade do escritório em 45% e Lauren estava em seu terceiro trimestre de gravidez, pronta pra tirar sua licença maternidade.

Quando descobri que ela não somente havia dado a sugestão para Arizona de que eu ficasse no seu lugar, como a secretária principal dela sem me avisar antes, e que ela havia "concordado prontamente", eu cuspi café por cima de toda a minha mesa.

E agora, sentada dentro da minha picape depois de 4 meses trabalhando para os Robbins, um mês depois de ter me tornado a secretária de Arizona Robbins, e duas horas depois de ter um sonho vivido com minha chefe me imobilizando sobre a cama onde ela planejava tirar minha virgindade, eu sabia que estava encrencada.

Eu passava o dia todo como uma sombra dela, não apenas pelo fato de que ela era linda, mas também muito inteligente — a mulher tinha vinte e quatro anos, se formou três anos antes do normal e já era mais do que capaz de comandar uma companhia de um bilhão de dólares — e até onde eu podia dizer, era extremamente justa e educada.

Mas, minha paixonite era ainda pior porque, claramente, não era requisitada por ela. Arizona nunca havia me tratado com nada além de formalidades profissionais. Ela era uma chefe justa, porém exigente, e apesar de jogar um pouco de conversa fora, sempre mantinha o assunto dentro dos parâmetros profissionais.

Minha conversa íntima de como eu era sortuda por ter um emprego já havia escapado da mente, e eu bati minha testa contra o volante da picape em desespero. Isso não ajudava em nada, claro, exceto que agora eu tinha quase certeza de que teria uma bela dor de cabeça. Aparentemente, nem ficar brava de modo apropriado eu era capaz.

— Patética. — eu repetia pra mim mesma, acomodando minha testa dolorida entre as mãos, e como que pra provar meus argumentos, ouvi uma batida na janela do meu carro.

— Srta. Torres? — a voz aveludada de Arizona parecia preocupada, possivelmente se perguntando por que eu estava curvada feito uma idiota com as mãos na cabeça.

Mais um dia perfeito começando perfeitamente.

Endireitei minha postura e pude vê-la usando uma saia social, uma blusa branca e um blazer preto que estava desabotoado, enquanto ela franzia a testa, ainda que polidamente, numa expressão confusa.

E sensual como o diabo, não esqueça disso, Callie — lembrei a mim mesma sarcasticamente. Como se fosse possível esquecer. Ela estava apoiada em sua Range Rover Sport, na sua vaga do estacionamento, exatamente ao lado da minha, com uma pasta muito elegante em uma das mãos.

Só mais uma demonstração de como Arizona era a chefe perfeita — ela havia distribuído as vagas do estacionamento ao lado da dela assim como o uso de seu elevador privativo, para mim e minha assistente, a segunda secretária, baseado na lógica de que nós passamos a maior parte do tempo organizando o escritório dela.

Eu rapidamente peguei meu café e minha pasta em uma mão, movendo a outra para abrir a porta. Arizona já estava nisso antes que eu pudesse pensar, abrindo a porta pra mim. Eu me contorci internamente pelo ranger da lataria, mas sorri timidamente pra ela.

— Obrigada, Srta. Robbins.

Ela sorriu abertamente em resposta, embora de que jeito ela conseguia ser tão alegre as 6:45 da manhã — não apenas hoje, mas em todas as manhãs — era algo além da minha compreensão; em seguida, ela esperou que eu a acompanhasse até o elevador. Arizona caminhou mantendo um metro de distância entre nós, e o único som que havia era o dos nossos saltos sobre o concreto até que chegamos ao elevador.

— Há algo de errado com... a sua cabeça? — ela perguntou educadamente, enquanto apertava o botão que nos levaria ao último andar do edifício, olhando-me sorrateiramente pelo reflexo das portas do elevador.

Esse era o modo como ela sempre olhava pra mim — educadamente, sorrateiramente, suavemente e indiferente. Não era à toa que meu subconsciente conjeturava uma Arizona possessiva e dominadora nos meus sonhos — porque à ideia dela me olhar assim com algo mais do que esse tom distante e profissional nos seus olhos azuis seria um verdadeiro milagre.

Eu corei ao pensar no meu sonho, grata por ela presumir que era uma reação à pergunta dela, e rapidamente formulei uma resposta.

— Não, não, é só assim que eu fico mesmo antes de tomar minha dose diária de cafeína.

— Hmm, bom, eu imagino que haja substâncias mais fortes para se viciar do que cafeína. — ela respondeu, num tom tão contemplativo que eu não pude evitar soltar um gracejo.

— Claro. — eu concordei, enquanto entrávamos no escritório — Isso é o que o meu fornecedor me diz.

A estupidez da minha piada me fez contorcer por dentro, mas eu podia jurar que a vi resfolegar atrás de mim.

Minha Querida Chefe RobbinsOnde histórias criam vida. Descubra agora