capítulo 16

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—Olha só, eu fiz algo pra você? Tipo

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—Olha só, eu fiz algo pra você? Tipo...Não precisa abrir a porta e nem olhar pra mim, mas é bem preocupante seu comportamento, se eu não visse você as vezes de noite levando garotas pra sua casa, eu acharia que você surtou de vez. ‐Falo sentada em frente a porta dele, pelo vigésimo nono dia. —Não sei como ainda não chamaram a polícia.

Falo rindo, encostando a cabeça na porta, era isso o que eu faço a vinte e nove dias, estou fazendo a mesma coisa que falei que não iria fazer nunca mais.

Tentar abrir os olhos de alguém.

Por anos vivi com uma mãe armaga, preferia ficar no trabalho do que na própria casa, uma mãe que nunca comemorava aniversários, convivi ouvindo o choro alto por trás da porta, vivi minha vida toda assim, até que eu tentei mostrar a ela o que ela estava perdendo.

Foram meses tentando, quando fiz um bolo de aniversário pra ela, ela simplesmente surtou e felizmente ou infelizmente eu surtei também.

Mostrei a ela que ela não estava perdendo só a felicidade, mais a única família que restou pra ela, eu.

Ela estava me perdendo todos os dias, mas eu continuei tentando trazer minha mãe de volta até aquele dia, até que ela me perdeu, literalmente. Depois de eu falar tudo que estava guardado pra mim, eu simplesmente fugi, fiquei quase uma semana gastando minhas economias em hotéis baratos acompanhada de ratos e quando eu voltei, minha mãe cheia de vida estava de volta.

E isso tudo machucou muito, o único motivo que me impede de falar que meu pai me procura de vez em quando é porque tenho medo de perde-la de novo.

Suspiro enquanto tento me controlar nos sons que vinha de trás da porta, eu sei que ele está ali, eu sempre vejo a sombra dele.

Não estou aqui pelo que sinto por ele e mas sim por que ele é muito novo pra se perder assim, eu simplesmente não consigui escutar a voz da razão mandando eu ficar longe.

—Isso é por causa da sua família? -pergunto e não obtenho resposta como sempre. —Eu não entendo caso for.

Falo enquanto despedaço a folha que caiu do meu lado.

—Aqui fora é meio tedioso. -jogo os pedaços de folha longe. —Meu pai meio que me abandonou...meio por que ele abandonou minha mãe e eu estava dentro dela, então dá no mesmo, não foi triste pra mim por que na época eu nunca tinha o visto, mas minha mãe ficou devastada, sabia que por longos anos minha mãe não comemorava aniversários? - falo enquanto lembro a sensação que era. —Nos meus aniversários, os pais da Laria faziam umas minis festinhas pra mim, foi bem difícil. Ela mal ficava em casa e...Bom, vivi boa parte da minha vida sozinha, mas a vida não é só dor e sofrimento, não é? um dia essas merdas passam e somem por um bom tempo.

Falo sentindo a armagura, o tempo demorou muito pra mim, eu nem tinha culpa de nada e sofri mesmo assim.

—Sabe o Joshua? Meu primeiro peixe. –falo com um sorriso triste. —Minha mãe me deu quando finalmente estava conseguindo viver de verdade e quando ele morreu por minha culpa, eu me senti cúmplice de um assassinado... -Paro de falar quando escuto a gargalhada baixa dele, fiquei tanto tempo sem ouvir nada dele que fiquei hipnotizada, nem percebi quando o silêncio voltou.

—Agora eu tenho o Joshua número 2, esse é estranho, tipo, ele gosta de carinho, o primeiro Joshua corria das minhas mãos como se fossem arame farpado.

Falo enquanto me levanto.

—Eu vou indo, preciso urgentemente fazer absolutamente nada em casa. ‐falo irônica enquanto tiro a areia da minha bunda. —E vê se varre isso aqui, tá podre.

Falo olhando pro chão todo empoeirado.

—Até amanhã.

—Retiro o que eu disse de respeitar o tempo dele, arromba logo aquela maldita porta

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—Retiro o que eu disse de respeitar o tempo dele, arromba logo aquela maldita porta. -Laria diz pelo skype.

—Bom, no máximo só serei presa por invasão de propriedade. -falo enquanto jogo grãozinhos um por um pra o Joshua número 2.

—Você precisa viver novas aventuras. ‐ela diz rindo. —E aquele gostosão?

Laria pergunta se referindo ao Elias, do cinema.

—A gente só troca mensagens de vez enquanto. ‐falo indiferente. —Ele é legal, mas eu prefiro ele como meu amigo.

Digo firme na tentativa que ela finalmente entenda de uma vez por todas que não o vejo de outra forma.

—Você não pode se guardar pro logan pra sempre Eva. ‐Ela diz fingindo está brava e eu reviro os olhos.

—Eu não tô...esquece, preciso estudar. –Falo e ela só manda um beijo e um tchau debochado pela tela do notbook e desliga.

Deixo o notebook de lado, ainda com um sorriso bobo de lado, por mais que as coisas em minha volta não estejam agradaveis, eu raramente venho me deixando abater.

Mamãe aceita turnos que não são dela,praticamente morando no trabalho. Meu pai me ligou dizendo que queria se aproximar e bla bla blaaa, minha resposta obviamente foi "não", não vou perder uma mãe por causa de um pai ausente.

Joshua número 2 continua saudável e até agora nenhum risco de ser devorado por algum gato, Logan surtou e simplesmente me ignora, literalmente.

E desde então eu fico sentada na porta dele conversando com ele, bom, ele só escuta, mas sinto que não perdi meu tempo indo la, é gratificante ver a sombra dele pela fresta da porta.

E não, eu não faço isso pelos sentimentos que eu nutria por ele, mas por quase entender como ele se sente. É melhor ficar la do que aqui sozinha com o Joshua.

 É melhor ficar la do que aqui sozinha com o Joshua

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