Saí a correr o mais depressa que as minhas pernas me permitiram. Que desastrada que eu sou! Retraí-me ao pensar no que Toby acharia de mim.
Agora que também já tinha fugido da escola, fui em frente. Segui em direção à praia. O calor do Sol era abafador. As ruas atrás da baía eram estreitas e os prédios altos.
Abriguei-me numa sombra para descansar e respirar um pouco daquele aroma marítimo e fresco. Sentei-me no degrauzinho de uma casa ali perto. As habitações eram coloridas. Casas amarelas, azuis e até verdes, com grandes paredes eram muito avistadas naquela área. Olhei o meu reflexo no vidro da montra de uma loja que estava à minha frente. Por trás de mim estava, segundo o reflexo, uma casa abandonada. "Espera, uma casa abandomada" pensei eu. Levantei-me de um salto. Olhei-a de cima a baixo. Tinha o telhado desgastado e preto do bolor, faltavam algumas telhas. A cor branca das paredes estava lascada e amarelada pelos anos. As janelas estavam partidas e com papelão por cima - nalgumas janelas, nem vidro tinha. A porta estava entreaberta. Era vermelha desbotada. Ao lado estava uma pequena casinha, de ferramentas - pensava eu - com uma porta igual à casa e com tão poucas condições como ela. Fez-me lembrar os piratas marinhos; tritões esperando barcos passar para os levarem a baixo, só para roubar os seus tesouros - algumas sereias também alinhavam na "brincadeira" que já passara das marcas e de moda; se eles fossem humanos podiam esconder aí as riquezas roubadas. Automaticamente lembrei-me da minha missão e do papel que Jacob me passara. Afinal Theodor era um ladrão!
Abri o portãozinho verde que acessava ao jardim mal tratado. Fui direta ao compartimento mais pequeno e desencostei a porta perra. Em vez de ferramentas e materiais de trabalho, estavam umas escadinhas estreitas. Olhei à volta, para ver se não estava ninguém nas redondezas. As ruas estavam desertas. "Deve estar tudo na praia, com este calor!"
Pensei, alheia ao pormenor de ser dia de semana. Desci as íngremes escadas e fui dar a uma divisão muito grande e escura. Tacteei a parede de cimento, à procura de um interruptor. Encontrei um, depois de muita procura, todo sujo de terra. Demorou um bocado para todas as luzes se acenderem. Era uma luz muito arteficial e amarela.De repente, tudo ficou escuro. Via-se apenas alguns pontinhos de luz, que era buraquinhos do saco de palha que me tinham enfiado na cabeça. Eu não tinha consciência de quem poderia ter feito isso. Logo dei um encontrão a quem me segurava pelos pulsos e um pontapé no ar que devia ter acertado noutro. Tirei o saco da cabeça e corri para um canto. Havia um grande aquário, mesmo enorme, no centro da sala. Percebi o que se passava. O meio irmão do Rei devia ter previsto que vinham atrás dele e pensou em capturar-nos primeiro. Os capangas eram altos e musculados. Eram dois e correram para mim, mas eu fiz uma bolha de água com o conteúdo do aquario e lancei-lhes. Era difícil controlar os meus poderes quando não estava transformada, cheguei eu à conclusão. Os homens não podiam ser tritões, porque senão teriam parado a água com facilidade. Ficaram encharcados e com mais raiva e vingança no espirito, eu podia senti-lo. Refugiei-me atrás das grandes paredes de vidro daquele aquário. De repente, Theodore, alto e imponente, assumou à porta. Tinha cabelos louros torrados e um olho de cada cor, verde e azul. Os meus movimentos cessaram com a sua entrada dramática. Os homens tentaram aproximar-se, mas Theodore empurrou-os para trás. Olhou para mim com interesse. Depois falou, mais para si próprio do que para qualquer um.
- Interessante...pensei que as missões de grande importância eram confiadas a homens experientes e não a rapariguinhas ingênuas e tolas.
Os meus lábios tremelicaram. A vontade de acabar com ele no momento era grande.
Ganhei coragem e os músculos dos meus braços frágeis relaxaram. Elevei-os e lancei uma parede de água enraivecida contra aquele tritão desprezível.
Ele reagiu com a mesma quantidade de carga de água.
- Se fosses um pouco mais inteligente tinhas ficado em casa do teu pai, lá no fundo do oceano.
Ficamos nisto durante alguns momentos. Uma pinga de suor ameaçava fugir da minha testa. Estava quase a fraquejar, os meus membros cansados.
Até que ele lançou uma onda mais forte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aline, Destino Imprevisível
FantasyOBRA COMPLETA! Aline é uma sereia. Cabelo platinado, olhos verdes, orelhas bicudas e uma cauda azul. Ela é escolhida para ir numa missão com vários riscos, na terra. Tem de encontrar o Coração do Mar, que fora roubado ao Rei dos oceanos, pelo se...