Capítulo número 14

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- O que achas-te da surpresa? - perguntou Toby, com um certo entusiasmo no olhar.

- Criativo! Mesmo depois de te ter deixado pendurado. Desculpa lá... - respondi, lembrando-me do momento embaraçoso que devia ter passado Toby, ao aperceber-se que eu não iria ao encontro.

Ele continuava a olhar-me abrasadoramente. Eu não sabia quanto a ele, mas uma parte de mim, uma parte que eu não tinha noção do quão grande e intensa era, desejava-o; desejava-o desesperadamente.

- Porque é que não estas matriculada na escola? Revela-me os teus segredos - Toby falava irresistivelmente atrevido.

À medida que as suas palavras se soltavam dos lábios, a proximidade que nos separava ia diminuindo.

- Andas a investigar-me? - perguntei eu, com os olhos franzidos num gesto caloroso.

- E se andar? - eu não precisava de o ouvir para saber o que ele dizia, porque o meu olhar concentrava-se na sua boca, e percebia os seus movimentos.

Já conseguia sentir o seu hálito quente e razoavelmente agradável.

O meu olhar variava entre os seus lindos olhos e a sua boca pequena.

Ele virou a sua cara de lado, para não haver confusão de narizes. Fechei os olhos e beijei-o com força e convicção. Os meus braços levantaram-se com uma força magnética e pararam no seu pescoço. Ele agarrou-me pelas costas e empurrou-me para mais perto do seu corpo. Eu podia sentir o seu cheiro, que irradiava dele como raios de sol. Os seus finos cabelos a entrelaçarem-se nos meus dedos. A sua ância em relação de eu gostar ou não. Estavamos numa espécie de dança de pares amorosa, em que os dois nos tornávamos um.

Quando descolei a minha boca da dele, senti-me uma pessoa diferente. Eu não podia estar com um humano! Era estritamente proibído!!

Os meus olhos demoraram a abrir-se, graças à força com que eu os tinha fexados. Pareciam até cosidos!

Quando os consegui abrir, percebi que Toby me observava com interesse e carinho. Eu retribuí o olhar, mas com uma pitada de pena misturado. Eu não podia continuar assim. Em breve teria de me ir embora!

Olhamos simultaneamente para o sol "ao nosso lado". Estava a dar as últimas! Uns raios de sol que conseguiram escapar, brilhavam ainda, mas não com a intensidade de um sol, de todos os raios juntos. Quando finalmente a luz do dia tinha ido em bora, dando lugar à noite, um calafrio percorreu-me. Não havia sol, logo não havia muito calor, mas eu gostava do frio.

Olhei para o outro lado, o lado de onde tinhamos partido da costa. A lua estava enorme. Parecia tão perto! Que linda a Lua Cheia... pensei eu. Mas espera! Lua Cheia?! Voltei a remoer e parei aí. 

A Lua Cheia significava para as sereias e tritões que bastava apenas uma gota de água para se tranformar num ser com cauda e guelras.

Tinha de ter cuidado.

O brilho do luar insidia nos olhos de Toby, criando um cintilar resplandecente que realçava os seus olhos e fazia-o parecer calmo e inocente...e ainda mais bonito.

- É melhor voltarmos para a praia - comecei eu, para tentar evitar que nenhuma pinga me pudesse atingir na presença de Toby.

- Já te queres ir embora!? - perguntou ele em tom de brincadeira.

Encolhi os ombros.

Ele tocou com a ponta dos dedos na água.

- Não está assim tão mau, para uma noite de verão! - exclamou ele, para ver se eu também tocava no líquido por baixo de nós. Eu, no entanto, não me mexi.

Ele levantou a mão e, imprudentemente, atirou-a contra a minha cara, com objetivo de uma pequena refrescadela engraçada.

Olhei para ele aterrorizada, antes de me atirar para dentro de água.

Apesar de estar escuro, sabia que Toby podia ver as correntes de luz que me rodeavam enquanto as minhas pernas se uniam e o meu corpo se mudificava numa motação.

O rapaz saltou para a água e eu conseguia decifrar a sua preocupação, como se fosse algo físico.

Quando a luz cessou, ele agarrou-me por uma mão, mas logo a largou, ao sentir as minhas unhas compridas.

Voltou a subir para o barco, de testa franzida. Eu apareci à tona, deixando apenas a cabeça e os ombros de fora da água.

- Tu...és...uma...sereia! - disse ele, gaguejando audivelmente.

- Pois... - deixei escapar entre os dentes afiados de caça submarina.

Aline, Destino Imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora