Capítulo número 6

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Formei uma bola de água no ar e atirei-a para longe. Um movimento que repeti muitas vezes, até ficar com o braço dorido. Estava a ficar noite cerrada. Olhei à mimha volta. Já não conseguia destinguir onde estava o saco da Lilian com a roupa dela. Atirei mais uma bola de água antes de voltar a olhar para os lados. Para minha grande surpresa estava lá um vulto. Assustei-me ninguei podia vir a saber do meu segredo! Pensei que estava condenada! Saltei para dentro de água. Ia começar a nadar para longe, até que uma voz me chama.

- Precisas de ter mais cuidado, ou ainda nos pões em risco! - disse a voz.

Era-me familiar, por isso pus a cabeça à tona. Não era possivel distinguir-se muito bem quem, mas pelo cabelo branco, pude comprovar que era Jacob.

Ele saltou para dentro de água e ficou uns momentos submerso, até se transformar num tritão. A sua cauda era maior do que a minha e era verde e brilhante. O seu cabelo estava igual ao meu, com uma luz incandescente a irradiar em cada fio branco e os olhos azuis estavam mais claros do que o habitual. Fitou a minha cauda. Também ele ficara curioso por saber a cor da minha.

- Porque estás em terra? - perguntei-lhe calmamente.

- Eu estou dentro de água! - ironizou ele.

Tu percebeste o que quiz dizer - falei, revirando os olhos impaciente.

- Estou a controlar-te, para ver se vais na direção certa.

Olhei para ele duvidosa.

- Como assim na direção certa?

- Para ver se descobres onde está o Coração do Mar, obviamente!

Eu pensava que só me tinham enviado a mim na missão. Olhei para a minha cauda amistosa, que sobressaía claramente na cor escura do mar, fazendo-o parecer sem vida em comparação com o brilho sobrenatural que saía de parte de mim.

Senti-me uma fracassada. Ninguém confiou em mim para o serviço, acabei por concluir.

- Já descobris-te alguma coisa? - questionei, com a voz trémula e os olhos marejados de um líquido mais transparente do que lágrimas.

- Eu deixo-te todas as informações mais tarde - garantiu.

Quando ganhei coragem de olhar em frente, para ele, Jacob desaparecera. Olhei para a água, mas nada indicava que ele tinha saído a nadar. Na costa também não estava ninguém.

Procurei consolo no mar e nas suas ondas suaves que antes de chegar à costa, esbarravam em mim.

Encontrei uma concha algures na areia e com o espinho de metal que tinha ao pescoço, como colar, escrevi uma mensagem na sua superfície. Era uma língua diferente da dos humanos, tinha símbolos e traços que para uns seriam incompreensíveis. Escrevi, gravando na rogosa concha o seguinte:

"Pai:
Pensei que vocês confiavam em mim. Dei de caras com o rapaz de cauda verde e olhos azuis com a cor do cabelo parecida com a minha. Vou seguir em frente com a missão, mas não voltes a iludir-me. Não voltes mesmo, porque não serei tão passiente.

Da tua filha."

Reli o que escrevera. Depois, voltei a sentar-me como antes de Jacob aparecer.

Soltei um prolongado suspiro e comecei a cantar. Eu emitia uns sons ternos e cheios de sentimento. Apesar da maneira como cantava ser calorosa, conseguia-se perceber a tristeza e desapontamento na minha voz, porque até eu decifrava tal infelicidade nas minhas próprias canções de sereia..

Esperei um pouco, a olhar para a meia lua que era visível. Estava branca e bonita, como sempre. A minha pele começou a desenvolver uma espécie de luz própria, como sempre acontecia quando me concentrava demasiado nas formas da lua, na sua luz branca e inocente. Nunca ninguém me conseguiu explicar o porquê de tal acontecimento.

Uma linda figura ergueo-se da água, a uns metros da rocha onde eu estava sentada. Apesar de ter saído da água, ela não estava molhada, e nem as suas roupas estavam coladas à sua pele.

 Apesar de ter saído da água, ela não estava molhada, e nem as suas roupas estavam coladas à sua pele

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Era linda. Tinha uma pele branca e cintilante, que era confundida com o seu cabelo. Não se percebia muito bem, sequer, onde começavam os longos fios cor de prata que se estendiam e encaracolavam para trás de suas costas. Uma tiara com a forma de uma lua, era distinguida no alto da sua cabeça. O seu vestido era azul, da cor do oceano quando de noite. Tinha um cinto, também, com a forma de uma lua, com pedras preciosas cravadas.

A personificação da beleza estava diante de mim. Ela aproximou-se um pouco. Era uma Ninfa (ser mitológico) da Lua e dos Oceanos.

Tinha sido atraída pelo som da minha voz.

- Em que te posso ajudar, pequena? - perguntou ela, com uma voz muito fina e doce.

Eu estendi-lhe a concha com a mensagem - É para o meu pai, o súbdito mais importante do Rei dos Oceanos - disse eu baixinho.

Ela pegou no objeto, tendo o cuidado de não encostar a mão na minha pele, pois era tão sensível que se podia queimar ao tocar em mim. A Ninfa elevou a mensagem no ar, ficando uma poeira brilhante entre as suas mãos e a concha.

Depois afastou-se um pouco e voltou a entrar na água. Era impossível desviar o olhar. Quando mergulhou na água, com ar angelical, nem um tipo de ondulação foi possível distinguir-se.

Eu já tinha chamado ninfas para me ajudarem, mas nunca em terra, nunca fora do mar e as ninfas fora de água ou eram muito diferentes ou esta era especialmente bonita.

Fiquei expecada, a olhar para o lugar de onde ela desaparecera. Teria sido um sonho?

Aline, Destino Imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora