Capítulo número 13

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A estaca de gelo que Theodore tinha feito nascer das suas mãos para me atacar, estava a milímetros do meu peito.

Ele caiu no chão, assim como o objeto de ataque antes que uma tragédia acontecesse. Os servos do homem caído nada puderam fazer, porque eu lancei os braços na direção deles e, para minha surpresa, congelei-os apenas com um movimento.

Olhei espantada para Jacob, ao meu lado, que continuava com ar feroz.

- O nosso poder depende do nosso estado de espírito - respondeu ele ao entender que eu não tinha percebido a situação.

Desviei o olhar para a minha mão. O Coração do Mar palpitava descontroladamente. Emitia uma luz agora ainda mais potente e o fio do colar, que era de ouro, estava novamente igual. Mas ele não se tinha quebrado quando eu o puxei?! Pensei eu. Parece que o amuleto tinha características insignificantes que alguns desconheciam.

- Vamos embora - disse Jacob secamente, olhando para um local do chão perto da porta.

- Nós temos de levar o corpo! - afirmei.

- Eu depois trato disso. Agora temos de ir e fechar bem o armazém.

Olhei para ele novamente, por causa da resposta inesperada. Ele ja estava à beira da saída.

Lá fora, passava-se um pôr-do-sol
avermelhado, que me feriu os olhos quando saí do espaço escuro atrás de mim.

Começamos a andar, de volta a casa, enquanto eu fazia pergutas, curiosa.

- É melhor eu colocar o amuleto ao pescoço e pô-lo debaixo da camisola, para ninguém ver o seu brilho anormal! - reparei eu distraída.

- Nãoooo!! - gritou Jacob. Até parou à minha frente, como que se certificando que eu não o punha.

- Porque não?

- Porque depois não o vais poder tirar! - respondia ele do meu lado - o Rei, quando o colar lhe foi tirado, caiu num tipo de sono ou desmaio infinito. Aconteceu o mesmo a Theodore, quando tu lhe arrancas-te o amuleto. O Coração do Mar tem um género de habituação instantânea, que causa consequências a quem o pretende usar, a menos que seja até à morte! Tu não o podias usar, porque ficarias adormecida e inconsciente para sempre! - explicou ele, lançando-me algumas miradas, para ver se eu estava atenta.

Eu não respondi logo. Fiquei a pensar no assunto.

- Quanto aos corpos... - entrei eu num novo tema.

- Os servos gorila de Theodore devem descongelar totalmente até à manhã.  E se forem um pouco espertos, fogem dali para nunca mais voltar. Quanto ao derrotado, eu depois chamo uma ninfa para entregar o corpo ao teu Reino.

- Como assim o meu Reino? O nosso Reino -  corrigi eu. Ele desviou o olhar para o seu lado.

Olhei para a frente com a testa franzida. O que é que ele quereria dizer com o meu Reino? Até nos meus pensamentos eu entoava mais na palavra que me intrigava.

Quando chegamos, ele saiu a correr, com um aceno como despedida.

Depois de o ter perdido de vista, dirigi-me para os bancos perto do liceu. Havia alguma possibilidade de Toby ainda estar ali? Olhei esperançosa para o local, mas estava vazio. Sentei-me, a sentir-me culpada. Apreciava os últimos raios de sol do dia.

- Também gosto de ver o pôr-do-sol - disse uma voz ao meu lado. Agora que ela falava, eu sentia um braço por volta dos meus ombros, que dantes, não sei como, não tinha notado.

Olhei para o lado e lá estava ele. Bonito, com olhos expressivos e voz meiga.

Atirei os meus braços por cima dele, para um abraço.

- Desculpa - foi só o que disse.

- Não faz mal - respondeu, baixando o tom de voz, para não se notar o desapontamento que tinha patente - Mas amanhã, que não há aulas à tarde, vens comigo a um sítio. Confias em mim certo?!

Aumentei a força com que os meus braços o apertavam em resposta.

Não sei quanto tempo estivemos abraços em silêncio, mas quando me dirigia para casa, já era noite cerrada.

No dia seguinte, depois do almoço, encontrei-me com Toby. Saímos da escola, abraçados com naturalidade. Ele vendou-me os olhos com um pano que devia ter trazido de casa de propósito, e levantou-me do chão, com destino no seu colo confortável.

Sentia movimento à minha volta, e o ar fresco a passar por nós numa brisa suave.

Quando ele me pousou no chão, os meus pés afundaram-se no solo arenoso, e pude concluir que estavamos na praia.

Quando ele me tirou a venda, vi um barco a remos, entre a água e a areia. Olhei para ele, com ânimo. Um sorriso rasgou-se na minha face, agora corada, libertando o seu.

Ele entrou no barco e deu-me a mão para me ajudar a entrar também. Sentamo-nos e ele começou a remar para longe da costa.

Eu olhava para ele, com admiração. O seu rosto contraído denunciava o esforço físico que estava a fazer. O seu músculo do braço estava visível, por causa da camisola sem mangas que ele usava.

Paramos um pouco longe. A costa era agora uma linha do horizonte.

Ele olhou-me, e demonstrava saudade, em cada mirada. Era tão  bom estar ao seu lado, com aquela sensação de segurança!

Aline, Destino Imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora