Capítulo número 16

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Jacob. Um tritão misterioso que dissera ser convocado para me acompanhar ao longe, na missão, mas acabou por me ajudar.

Saí da água e fui apressadamente até à clareira onde tinha deixado Toby para trás. Ele ja lá não estava. Senti a minha pulsação acelerar.

Corri para a beira da escola. Não tinha aulas naquele dia, porque Lilian também não tinha.

Sentei-me no banco de madeira, perto dos portões. Por esta altura, deviam estar a acabar de sair das salas.

Entrei apressada na escola, sem ligar às reclamações do porteiro, para passar o cartão na máquina.

Ao pé de um dos edifícios amedrontadores, Jacob falava com Lucas. Interrompi a conversa e arrastei comigo o platinado.

- O que estás a fazer?! - pergunta ele em tom curioso.

- Quem és tu? - perguntei diretamente, com os olhos arregalados e a testa franzida.

O seu olhar desviou-se para o chão, com o choque, com a surpresa.

- Receava este momento. Mas não podia contar nada - fez uma pausa, para um breve olhar e depois - E ainda não posso.

Larguei o seu braço, com medo de lhe espetar as unhas, com a raiva.

- Porque me mentiste? Eu confiei em ti! - ele baixou mais a cabeça - E pensei que confiavas em mim - ele encarou-me com as palavras entaladas e o lábio inferior a tremer - mas estava enganada! - terminei, lançando a última seta, espetando a última faca, a mais destruidora, com o poder da desilusão.

Virei costas e atravessei o portão da escola insuportável a correr. Não era só a raiva mortífera que matava quem se atravessasse no meu caminho, mas a sensação de perda era tão instável, que parecia que três bombas atômicas estavam prestes a explodir se eu não me acalmasse.

Corri por muito tempo, a pensar nas coisas, nas pessoas, nas mentiras. O meu sistema de cansaço parecia que não funcionava mais. Quando parei, sentia-me aliviada. Apetecia-me fugir de tudo.

Vi a Lilian, ao fundo da rua, e mudei a direção do meu trajeto. Precisa de estar sozinha. Livre de pessoas a perguntar se eu estava bem, porque a minha resposta sincera seria um redondo NÃO. Livre de mentiras que me faziam repensar no que é que tinha errado para não confiarem em mim. Livre do meu amor impossível, que nunca devia ter acontecido. Quando reparei onde estava, observando o mar embaçado pelas minhas lágrimas, que queriam ser expelidas e choradas, sentei-me no meio da areia. Senti as pedrinhas pequenas e infinitas, nos meus dedos, e desejei ser como elas, sem preocupações, sempre paradas, sem vida.

Quando a primeira gota de água cristalina escorreu pela minha face, sabia que um mar delas ainda estavam para vir para fora.
Senti os meus olhos a arder, provavelmente vermelhos. Pousei a cabeça na areia. Tudo o que me restava era voltar para casa, e fingir que tudo aquilo nunca acontecera. Mas como podia? Como podia deixar Toby? Como podia ir embora sem uma explicação de Jacob. Como podia ir embora e deixar aquela vida horrível, mas ao mesmo tempo desejada para trás?

Então, uma coisa branca roça o ar, a uns centímetros da minha cara molhada. Sentei-me apressadamente. Estava um papel dobrado em bico meio enterrado no chão, ao meu lado.
Abri-o e era uma carta. Fiz um esforço por perceber aquela letra.

" Tens razão. Não confiei em ti, e tu não devias ter confiado em mim. Sou um impostor, que se aproveitou do acaso de te encontrar." - parei de ler. Aquela carta, apesar de não estar assinada, só podia ser do Jacob - "Agora que descobriste que não sou quem realmente digo ser, espero que compreendas a razão da minha partida" - partida? Será que ele ia embora? - "Na verdade, eu já vivo em terra à anos. Fui expulso do Reino por infedelifade. Quando te encontrei e investiguei a tua história, aproveitei-me. Espero que me possas perdoar, apesar de nunca vir a saber a resposta. Adeus, Ziackhardiäniavski." - estremeci ao ler o meu verdadeiro nome.

A areia parecia que se movia por baixo do meu corpo, e uma vaga de calor e tonturas invadiram-me.
Caí, a seco e com força, para o lado. Sentia os olhos a revirarem-se nas órbitas, apesar de as pálpebras estarem fechadas.

Quando voltei à minha consciência, outra vez, Lilian batia-me ao de leve na face e segurava-me a cabeça no colo, entre as mãos. A minha visão foi focando, enquanto me passava pela cabeça que tinha de contar a Lilian que era uma sereia, antes de ir embora. Dei um pulo e depressa me levantei.

- Vai com calma, senão ainda voltas a cair e eu não vou estar ao lado para te amortecer! - falou Lilian com um sorriso rasgado, porém preocupado.

- Tenho de te mostrar uma coisa! - disse eu, dirigindo-me para a beira da areia molhada.

Ela franze o sobrolho, com uma careta que me faz rir. Não seria justo eu abandonar aquele lugar sem me despedir em condições.

- Então o que é?

- Anda comigo! - digo, incitando-a a seguir-me, com um gesto.

Quando a água já nos dava pela cintura, fi-la prometer que tudo o que visse tinha que manter em segredo. Quando ela assentiu com a cabeça, eu mergulhei e permaneci debaixo de água durante o tempo suficiente para a habitual luz erradiar da minha pele - ou escamas - e a cauda azul aparecer.

Lilian não conseguia acreditar no que via. A sua boca abria e fechava, como se um grito de espanto estivesse entalado. Ela só tinha olhos para o meu cabelo, ainda mais brilhante do que o normal, e para a minha longa cauda reluzente.

Olhei para a sua cara de surpresa e coloquei um dedo à frente da boca, pronunciando:

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Olhei para a sua cara de surpresa e coloquei um dedo à frente da boca, pronunciando:

- Shhhh....

Aline, Destino Imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora