Capítulo número 15

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Nadei para a margem. Toby seguiu-me no barco.

Como era Lua Cheia, também não era só sair da água para me tornar humana, tinha de estar seca. Lembrei-me de algo. Jacob dissera-me que os nossos poderes variam com o estado de espírito. Será que podia emitir calor se pensasse em coisas quentes? Foi no que me concentrei. Abri a palma da mão a uns centimetros da minha cauda e tentei lembrar-me da fogueira da clareira onde conheci o tritão bonito. Nada. Oh, se eu fosse humana e pudesse ter uma vida normal com o Toby! O Toby... O rapaz que não podia negar que mexia comigo... Então um formigueiro quente inundou-me, como se estivesse a ser queimada pelo fogo, mas a sensação era, provavelmente, muito mais leve. Quando olhei para o meu corpo, a cauda tinha desaparecido, dando lugar a duas pernas brancas. Tentei sorrir, satisfeita, mas as pontas da minha boca retorceram-se e eu não queria um riso forçado.

Toby chegou uns instantes depois. 

Eu estava já na forma mais humana possivel - estava núa, outra vez!

Ele tirou o seu casaco e deu-mo. Tinha o seu cheiro. Eu sentia o seu perfume, encantada como na primeira vez.

Quando o vesti e apertei o fecho, ele sentou-se ao meu lado na areia e abraçou-me. Eu enterrei a cabeça no seu braço forte de surfista. Tentava conter as lágrimas, porque podia tranformar-me sem crer.

- Ainda gostas de mim...? - perguntei muito baixinho e a medo.

- Sempre - respondeu convicto.

E naquele momento eu soube que gostava realmente dele.

Levantei a cabeça e encostei a minha testa à dele, num gesto amoroso. A seguir beijei-o muito ao de leve.

Depois, adormeci no seu colo reconfortante. Quando acordei, no sofá da casa de Lilian, pensei que tudo não passara de um sonho. Mas estava um papel na mesinha que dizia "Boa Noite -Toby." Ri-me ao lê-lo.

Depois de me vestir, saí apressada. Lilian já não estava em casa.

Andei até à clareira onde tinha conhecido Jacob - não sei como é que encontrei o caminho - e, por mero acaso, estava Toby sentado num galho de uma árvore a ler um livro.

Chamei-o. Ele olhou para mim, primeiro surpreendido e depois calorosamente.

Desceu da árvore e vei-o me cumprimentar.

Sentamo-nos os dois na sombra da árvore e ficamos a conversar.

- Então tu és uma... - disse ele, parando a meio, como se sereia fosse a palavra chave ou a palavra proibida.

Eu olhei-o nos olhos. Ficamos tanto tempo assim, que eles até começaram a picar, por não querer pestanejar e privar-me de ver aquela beleza por um segundo.

- Isso explica muita coisa! - falou ele, com uma voz calma e compreensiva.

Expliquei-lhe tudo com muito promenor. Todas as escapadelas, a minha missão e até coisas - que para mim não tinham importância e eram insignificantes - da minha vida como sereia.

Ele não ficava assustado. Isso era algo bom e, provavelmente, incomum. Se calhar ao início foi mais difícil de acreditar, mas agora levavamos o assunto com naturalidade.

Estavamos nós perdidos na conversa, enquanto as horas passavam por nós a correr, quando algo aconteceu. Uma bolha de luz azul, flutuou até mim. Tinha o símbolo do elemental aquático - que é o pai das ninfas aquáticas - e era azul vivo. A sua luz iluminava a minha cara e os meus olhos franziam-se por causa do brilho intenso.

- O que se passa? Porque estás com essa cara?

Eu olhei para ele. Se calhar não conseguia ver o que era! Nunca me tinha perguntado se humanos conseguem ver as ninfas, porque estas são muito raras, belas e puras.

A bolha permaneceu exatamente à minha frente.

- Aline? - voltou Toby a perguntar

A bolha exerceia movimentos de uma lado para o outro, como se pedindo para eu a seguir.

Levantei-me do chão e disse a Toby que tinha algo para fazer. A bolha começou a andar muito depressa para um lado e eu tive de correr com todas as minhas forças para a apanhar, deixando o rapaz sentado e especado atrás de mim.

Ela parou na praia. Era de dia, não havia problema em entrar na água.

Eu arfava descontroladamente, tentando recuperar o fôlego. Ela andou mais um pouco, em direção à rocha onde eu estivera quando cheguei a terra pela primeira vez.

Sentei-me nela. A luz desapareceu. Nada aconteceu. Então, mergulhei na água, e transformei-me no ser aquático que tinha por natureza.

Quando levantei a cabeça à tona, estava lá uma ninfa do mar e da lua. Esta era pequena, fraca e feia. Quando se aproximou de mim, pude ver que era a ninfa das águas que me tinha atendido da primeira vez, mas com um aspeto totalmente diferente. Depois percebi. Estava de dia. Sem um dos fatores que as mantém vivas e fortes, elas não são a mesma coisa. Até a Lua nascer novamente, aquela ninfa é só mais uma criatura fraca que vagueia nos oceanos para se refortalecer.

Ela entregou-me uma concha, uma mensagem.

Dizia o seguinte:

"Querida filha:

Nós só te enviamos a ti para esta missão. Não há nenhum rapaz de cabelo igual ao teu no qual tenhamos confiado para este importante salvamento de um objeto.
Espero que esteja tudo bem contigo. Volta depressa.
                 Adoramos-te, Pai e Mãe"

Olhei para a frente, com esperança de comprovar com a ninfa se a mensagem é real, mas ela já lá não estava.

Uma pergunta remoia agora na minha cabeça:

Quem é o Jacob.

Aline, Destino Imprevisível Onde histórias criam vida. Descubra agora