Não posso te contar

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— Não, não, não... Isso não está acontecendo. — Eu já havia dado 10 voltas em meu quarto. Mais um pouco eu cavaria um buraco no chão, que nem desenho animado mesmo. Eu ainda me recusava a olhar para a mulher que estava agora sentada em minha cama me analisando.

— Nossa, eu não tinha nenhuma celulite. — Disse por fim. — Você tem que passar uns cremes hein. Quando fizer 19 vai aparecer algumas. — Me alertou e em seguida se espreguiçou em minha cama.

— Olha, eu não sei quem você é, mas eu preciso que vá embora. — Supliquei.

— Eu já te expliquei três vezes. — Ficou sem paciência. — Não é difícil, não é física, Lica.

— Como eu posso simplesmente aceitar que você sou eu do futuro e que voltou para tentar me ajudar a não estragar minha vida? — Gritei de volta tentando me convencer de que aquilo tinha mesmo acontecido.

— Porque é a realidade. Eu também não queria isso, ok? Eu tinha um encontro com a Francesca, uma aeromoça italiana que passa muito tempo sem transar... — Ficou sonhadora. — Ela é selvagem.

— Francesca? Uma mulher? — Arregalei os olhos, chocada. Essa minha reação provocou nela um suspiro de exaustão.

— Ah não, eu não acredito que você ainda não sabe. — Andou pelo quarto abrindo minhas gavetas. — Eu preciso fumar.

Eu já ia repreendê-la, dizer para que não mexesse em minhas coisas quando uma batida frenética veio de minha porta.

— Lica? Por que você está gritando? Aconteceu alguma coisa, filha? Estou preocupada! — Minha mãe perguntava do lado de fora.

— Tudo bem, mãe! Foi só um pesadelo. — Olhava para a mulher mexendo em minha gaveta de roupas íntimas e desaprovando meus sutiãs.

Marta fez silêncio por alguns segundos e voltou a perguntar:

— Lica, você está usando drogas de novo? — Senti meu rosto queimar de raiva.

— Claro que não! Eu não faço isso! — A mulher em minha frente soltou uma gargalhada alta enquanto eu ouvia os passos de Dona Marta se afastando.

— Shhhh! — Eu a repreendia mandando ficar em silêncio, mas ela não parava. Finalmente, depois de alguns segundos, limpando com as lágrimas como se tivesse ouvido a melhor piada do universo, ela parou de rir.

— Ai, muito mentirosa! — Ela gritou e novamente eu me aproximei mandando que ela se calasse. — Relaxa, Pinóquio, só você pode me ver e me ouvir. — Disse abanando a mão para mim como se fosse óbvio. — Mas você hein... Nunca prestamos, não é mesmo? Eu até sei onde... — Ela abriu minha terceira gaveta. Afastou habilidosamente todas as caixas do lugar, parecia saber o que estava sabendo. Eu ia gritar para que ela parasse até que encontrou a caixa.

— Ei, eu... — Tentei me explicar quando ela já tirava minha maconha da caixinha.

— Olha, eu vou te contar: essa maconha é horrorosa, você precisa de um fornecedor melhor. — Me interrompeu, bolando lindamente um baseado para si mesma. — Procura o namorado da Tina, o Anderson. Ele tem um amigo que vai te vender algo melhor pela metade do preço dessa porcaria.

Pisquei os olhos, assustada.

— A... A Tina não namora nenhum Anderson. — Ela se sentou de novo em minha cama, frustrada.

— Ai que porra. Ok, me conte sobre sua vida para eu saber mais ou menos em que época estamos. — Pediu. Meu Deus, ela iria deixar meu quarto fedendo a maconha. Como eu me explicaria para Leide, que com certeza iria contar para minha mãe?

Amanhã - LimanthaWhere stories live. Discover now