A escada

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Lica

— Não, coloca aquela blusa de antes. — O lugar favorito da minha eu folgada de 26 anos era na minha cama, comendo. E mandando em mim, obviamente. Ela estava bem bonita lá esticada, comendo um croissant (ficou falando que estava com um pouco de saudade de Paris, o que para ela era uma surpresa).

Lica 26 estava decidindo o que eu deveria usar para a festa. O certo seria falar que ela estava me ajudando, mas basicamente só estava mandando em mim. Me virei de novo de costas para ela antes de trocar a blusa pela décima vez.

— Heloísa, por que você fica se virando? Você sou eu. Eu já te vi pelada, inúmeras vezes. Porque EU me vi pelada inúmeras vezes. — Disse impaciente.

— Me deixa, eu hein. Sou envergonhada. — Ela concordou porque sabia que era verdade e coloquei a blusa como ela me havia ordenado.

— Isso, agora a jaqueta de couro. — Lica 26 ficou mais animada com meu visual e esqueceu de encher meu saco sobre ficar pelada. — Perfeito! Nossa eu tenho que usar couro mais vezes, fazer jus. — Olho-a pensativa.

— Isso foi uma referência sapatão? — Ela sorriu orgulhosa e me abraçou.

— Muito bem, você está aprendendo. Um girininho sapatônico. — Heloísa mais velha se afasta e volta sua atenção para o croissant novamente. — Você tem que correr atrás mesmo, Lica, porque a Samantha está muito na nossa frente.

— Então, era isso que eu tinha para falar com você... — Digo brincando com o zíper de minha jaqueta. — Eu não vou me apaixonar pela Samantha. — Ela me olha confusa:

Pardon? Você não vai o quê? — Reviro os olhos sabendo que ela definitivamente tinha ouvido e estava tirando com a minha cara.

— Eu não vou me apaixonar por ela. — Digo, decidida. Lica 26 gargalhou.

— Ok... Vai nessa, Heloísa.

— Eu estou falando sério. Eu vou burlar o meu destino. — Ela olhou para mim e fez um gesto como se estivesse fingindo que havia se rendido.

— Ok. Vamos só ver onde isso vai dar.

Fiz aquele mesmo monólogo que fiz para você anteriormente sobre livre arbítrio e escolhas, bem inspirador, diga-se de passagem, Lica 26 até disse que se tudo desse errado de novo tínhamos futuro como pastora ou líder de um culto. Mas ela continuou concordando falsamente comigo então basicamente decidiu fingir que daria certo o que eu estava falando e eu fingi que ela estava botando fé em mim. Sucesso.

Ela sumiu poucos minutos antes de eu entrar no uber com Tina para a festa e somente reapareceu quando estávamos na porta. Percebi que ela sempre brotava pelo meu lado esquerdo, então eu estava me acostumando.

— Vamos que a Ellen está perdidinha lá dentro.

— Não sabia que a Ellen vinha. — Comentei com Tina antes de entrarmos. A Benê e ela nunca iam nas festas conosco, raramente nos acompanhavam.

— Com certeza ela veio. — Lica 26 comentou comigo meio rancorosa. Eu olhei estranho para ela, mas, mesmo assim, continuou se fazendo de esfinge enigmática. Sabe, para quem disse que podia me contar as coisas que não teria problema algum, ela não estava me contando nada.

Entramos na boate e já estava um caos. A turma inteira do Grupo e do Cora estava rebolando até o chão no meio da pista de dança, Samantha e Clara estavam no centro, ao lado de MB e K1. Claro que ela estava no meio, não poderia ser diferente, né? Achei melhor nem cumprimentar Clara no momento, porque não queria lidar com Samantha. Ela estava bem bonita e isso não estava nos meus planos. Não. Não posso. Além do mais, tínhamos que resgatar Ellen que depois de um tempo encontramos sentada em um sofá totalmente acanhada assistindo K2 se esfregando em um dos meninos de nossa turma.

Amanhã - LimanthaWhere stories live. Discover now