Amanhã - Limantha

Você é gay?

Samantha

— Sam, para de ser doida, a Lica não está fazendo isso. — Clara tentava dizer, mas nada me convencia.

— É Samanthinha, a Liquinha é louca, mas nem tanto. — MB não olhava para nós, estava ocupado afinando as cordas de sua guitarra. Senti uma súbita vontade de enfiá-las em seu cu.

— Estou falando e vocês não acreditam: a Lica está armando para tentar me matar. — Ouvi Guto rindo cúmplice com a loira oxigenada que se dizia minha amiga. Me irritei. — E você está junto com ela né, Becker?

— Sim, Samantha. — Afirmou sarcástica. — Eu e minha irmã estamos planejando há anos. A ideia é te seduzir e depois assassinar.

— Ridículas, vocês duas. — Eu estava irritada com qualquer coisa. Já fazia dois dias que o fatídico dia do meu acidente e do trabalho tinham acontecido. O trabalho que Luiz Antônio nos mandou era fazer um jornal de alguma época histórica, colocando notícias e reportagens escritas por nós mesmas, bem criativo. Pegamos a Queda da Bastilha, o que deixou Heloísa muito feliz já que ela acha que é francesa só porque fala a língua do biquinho.

Não que seja sexy, nem nada.

Hoje era o dia que tínhamos combinado de começar, ela iria na minha casa e eu já não sabia se ficava nervosa com a sua presença lá ou com medo que ela realmente me assassinasse. Pelo menos estava ensaiando com a minha banda, uma mísera felicidade no dia.

— Se você acha que a Lica quer te matar, por que se comeu com ela na minha festa?

Fiz uma cara feia para ela na mesma hora, mas já era tarde demais. Deu para ouvir as anteninhas na cabeça de Felipe sintonizando, tentando captar e compreender aquela mensagem que tinha recebido.

— Você ficou com a Lica? — Perguntou meio ofendido, meio irado. Aquele garoto, que, diga-se de passagem, sempre chega atrasado nos ensaios, simplesmente se materializou em minha frente, com as baquetas na mão como se fossem armas.

— Felipe, a gente falou disso na lanchonete. — Clara disse, assustada com a reação do ex.

— Eu não ouvi. — Rosnou de volta, mas sem tirar os olhos ameaçadores de mim. MB sussurrou para nós que ele tinha ido ao banheiro na hora e eu ri mentalmente por não termos sentido sua falta.

— Fiquei sim. Ela é chata, mas olha... Que pegada. — MB pressentiu o que ele ia fazer, porque se colocou na frente dele antes que o doido avançasse em mim.

— Que isso? Tá maluco, Felipe? Vai bater na Samantha? — Meu amigo agora parecia bem puto. Olha, eu só estava rindo da situação, até Clara estava preocupada. Acho que perdi a noção ou a vontade de viver. — Não vai encostar mão em mulher não!

— Ela tá se gabando porque ficou com a minha mina, mano.

— Primeiro! — Clara intercedeu, se metendo na minha frente também. — Lica não é mais nada sua, não é namorada. Se ela quiser ficar com a Sam ou mais 15 pessoas ela fica. Segundo! Ela não é sua, não é objeto para você possuir não.

— Você seduziu ela. — Ele disse, com a maior certeza do mundo. — A Lica não é gay.

— Olha... Ela me pareceu bem gay quando enfiou a língua dela na minha boca. — Felipe avançou de novo e dessa vez até Guto segurou-o por trás.

— Para de show. — MB o empurrou. — Bora ensaiar, inferno. A competição está chegando, nossa vocalista gatíssima está com a pata machucada e o Gutinho está com a voz mais ou menos. — Guto concordou lamentando, colocando a mão na garganta. Desde que descobrimos que ele tinha a voz de um anjo, ele virou vocalista principal junto comigo, mas infelizmente acho que ele não estava muito acostumado.