Amanhã - Limantha

Instinto

Samantha

Oi, oi! Samanthinha na área! Você achou mesmo que eu ia deixar a Lica monopolizar essa história inteirinha para ela? Mas não mesmo, meu amor, eu também mereço meu momento de brilhar, meu lugar ao sol, por favor né. Então, como você vai? Eu vou bem. Quer dizer, pelo menos eu ia bem, até essa manhã horrorosa.

Bom, meus pais estavam viajando essa semana inteira. E já vou deixar claro aqui que quando eu digo meus pais são literalmente dois pais: Paulo e Samuel. Fique aí dois segundos digerindo essa informação. Já foi? Bom, então meu pai Paulo e meu pai Samuel foram comemorar os 30 anos juntos lá na Itália, onde eles se conheceram só com 18 anos de idade, quando estavam os dois estudando gastronomia.

Aham, meus pais são chefes de cozinha. Pode sentir inveja, eu sei que está acontecendo. Mas então, depois de anos juntos eles me adotaram. Sim sim, eu também era órfã, vários acontecimentos em minha vida, nada peculiar eu diria. Eles me tiraram do orfanato "Raio de Luz" (péssimo o nome, eu sei) com um aninho de idade e são meus pais desde então.

E essa sou eu. O problema daquela manhã é que geralmente antes de ir à escola eu sempre coloco um despertador. E eu sempre o ignoro. Então papai Paulo vem me acordar antes de ir trabalhar e eu não me atraso. Mas os bonitos haviam me deixado sozinha para visitar vinícolas na Itália então perdi a hora lindamente.

Eu só queria chegar no Colégio Grupo e ter um dia tranquilo. Fazer minha provinha, terminar a aula e ensaiar com minha banda. Tudo na mais bela e tranquila paz. Mas é claro que Heloísa Gutierrez não poderia permitir que eu tivesse esse momento de glória. Ah, não. Ela começou implicando comigo logo de manhã. Quem tem energia para ser tão insuportável 7 horas da manhã, sabe? Aí me vem essa maluca e mira uma bola de vôlei no meu rosto lindo! Uma falta de respeito sem precedentes, é o que eu te digo. E, como isso tudo não fosse o bastante, eu teria que ficar presa com ela arrumando uma sala a tarde inteira.

Procurei meus amigos ao fim da aula e eles estavam no lugar de sempre, sentados embaixo da árvore do pátio, provavelmente me esperando. Não que eu seja o centro do universo, mas são os fatos. Joguei a minha bolsa no chão e bufei irritada.

— Eita, Samanthinha, o que aconteceu, hein? Tá de TPM? — MB perguntou brincalhão cutucando minha bochecha tentando forçar um sorriso meu.

— Ai, MB, sem paciência nenhuma para construção machista no dia de hoje. — Ele fez uma cara confusa. — Se falar que eu estou de TPM de novo eu arranco teu fígado e depois faço você comer. — Ele riu.

— Putz, Samanthinha logo o fígado, parte mais podre do meu corpo. — Clara e Guto riram com ele. Felipe estava ocupado mexendo em seu celular. Para mim era melhor assim, o baterista da nossa banda (infelizmente) estava extremamente insuportável desde que Lica havia terminado com ele então o seu silêncio era música para meus ouvidos.

— Afinal, por que você tá assim, Sam? — Guto perguntou, preocupado.

— Ela se desentendeu com a Lica, de novo. — Clara explicou antes que eu tivesse a chance.

— Ela jogou a bola na minha cara! — Virei para Felipe. — Sua namorada é louca.

— Você sabe muito bem que ela não é mais minha namorada, Samantha. — Ele respondeu, irritado. Pude jurar que os pelinhos do bigode até se levantaram, de irritação.

— Eita que o corno tá irritado. — Clara sussurrou para mim e rimos juntas, cúmplices.

— Eu não sei com quem, mas acho que ela me traiu. — Agora todos nós rimos. Era óbvio que Lica não gostava do Felipe, as únicas pessoas que não sabiam disso era Clara, quando todo aquele drama ridículo entre os três aconteceu onde as duas irmãs burras disputaram esse homem tão sem graça, e o próprio Felipe.