Assunto proibido

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Lica

— Uma hora você vai ter que se levantar daí. — Lica 26 disse, sentada ao lado de minhas pernas. Eu não sei ao certo há quanto tempo eu estava ali deitada de bruços, mas foi tempo suficiente para meu corpo amassar meu próprio braço, sem sentir mais que ele estava ali. Sorte a dele, tudo o que eu queria era sumir mesmo.

— Me deixa. — Resmunguei contra o travesseiro. — Me esquece.

— Que nem a Samantha esqueceu? — Ela debochou e pela primeira vez em umas 2 horas eu levantei meu rosto só para a fitar com puro ódio.

— Você sabe que tecnicamente ela também te esqueceu, né? — Tentei virar o jogo, mas ela apenas riu de mim, novamente, como era de costume para seu ser extremamente irônico.

— Se você soubesse tudo que já me aconteceu... — Riu, nostálgica, mas novamente não me dizendo do quê. — Uma amnésia temporária e alcoólica de Samantha não é nada.

— Como você sabe que é temporária? — Resmunguei tentando esconder inutilmente meu fundo de esperança.

— Porque eu já vivi isso, sua burra. — Disse me dando um tapinha. — Agora, levanta vai fazer alguma coisa de útil, aproveita que você ainda é jovem. — Ouvi seus passos por meu quarto. — Vem cá, vem treinar desenho um pouco, porque você tá precisando.

— Eu te odeio. — Eu digo, ainda me recusando a mexer um músculo sequer.

— Amor próprio é tudo. — Lica 26 disse, se divertindo com a minha cara. Ouvi a porta de meu quarto se abrindo e eu já ia pedir que Leide fosse embora, de novo, quando ouvi vários passinhos e tarde demais percebi que eram minhas amigas quando senti um corpo todo ossudo se jogando em cima do meu.

— Cristina! — Reclamei de dor, mas ela permaneceu em cima de mim. Ouvi Lica 26 se divertindo com a cena.

— Por que você está no escuro, Lica? — A voz de Benê ecoou e de repente se fez luz em meu quarto, para meu desprazer.

— Ela é uma vampira. — Keyla respondeu, séria e eu permanecia de cara para o travesseiro.

— Keyla, vampiros não existem. Não teria como a Lica ser um, embora, pelo o que eu li, ela seria fisicamente compatível, porque ela é pálida como se evitasse o Sol para não morrer. — As outras três riram e eu finalmente fui obrigada a me levantar, fiquei sentada as observando. Eu as amava, mas ainda não estava entendendo aquela visita surpresa.

— O que está acontecendo, hein? — Eu as observei, confusa. — Por que vocês estão aqui?

— Que amigável. — Lica 26 resmungou, girando e se divertindo na minha cadeira de computador. As meninas me encararam ofendidas enquanto Benê parecia tentar tirar um zumbido do ouvido.

— Pensamos que você estaria triste. — Ellen disse, se sentando na cama junto de Tina e Keyla, Benê ainda permanecia de pé em nossa frente, mas sei que isso praticamente já era um abraço vindo dela.

Eu não conseguia olhar para Ellen e deixar de lembrar da cena, dela e Samantha se agarrando contra a parede... Não que eu me importe. Não me importo.

Não.

Ai, quem eu quero enganar?

— Eu tô. — Digo fazendo biquinho. Quando eu tinha me tornado tão vulnerável? Talvez seja efeito da sapatonice, não sei. Eu só queria ficar encolhida pelo resto dos meus dias.

— Quer contar para a gente? — Eu já estava negando com a cabeça quando Benê nos interrompeu.

— Mas Keyla, você não disse que tinha ouvido a conversa dela com a Samantha na rua? E veio nos contar que a Lica é lésbica e ficou chateada já que a Samantha se esqueceu dela? — Meu rosto corou enquanto as outras repreendiam Benedita. Não consegui deixar de achar graça da situação.

Amanhã - LimanthaWhere stories live. Discover now