2 - A ESCRAVA

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A filhada natureza deverá sofrer para que aprenda a ser forte. Somente o sofrimento forja a resistência inabalável.❞.

𝕱𝖗𝖆𝖌𝖒𝖊𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖔𝖘 𝕽𝖊𝖌𝖎𝖘𝖙𝖗𝖔𝖘 𝕯𝖗𝖚𝖎𝖉𝖆𝖘,

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Escandinávia, ano de 846 d

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Escandinávia, ano de 846 d. C.

ƝINGUÉM! NINGUÉM É TUDO o que sou. Estou sozinha e todos a minha volta, lembram-me, a cada instante, que sou apenas uma escrava, que existo apenas para servir. Esse é meu propósito, só por isso estou viva.

Viva! Que grande ironia! Esse povo me matou há muito tempo, a morte da minha alma ocorreu quando eu tinha somente treze primaveras. Os bárbaros só estavam esperando meu primeiro sangramento — pelo menos não me defloraram antes disso — mas depois, não foram misericordiosos.

Lembro-me exatamente do dia em que Björn — o nefasto que matou meus pais — veio até a mim na calada da noite, enquanto eu voltava de uma tarde de pesca e, do mesmo jeito bruto com que possuiu minha mãe, o fez comigo. Recordo-me que depois que terminou com seu prazer, eu fiquei estirada no chão frio e duro olhando fixamente para as folhas secas caídas no solo enquanto meu ventre se contorcia em uma dor aguda. Não era capaz de mover um músculo sequer e muito menos andar. A dor era dilacerante e quase insuportável. Na verdade, eu permaneci encolhida, no meio da mata escura e fria até o dia amanhecer e, por incrível que pareça, não derramei uma gota de lágrima. Nos últimos anos eu acumulara muito ódio em meu ser. Já fazia um tempo que eu descobrira que chorar nunca me ajudaria em nada. Dessa forma, fiz apenas o que era possível ser realizado naquela terrível condição: somente murmurei o nome Björn a noite toda em uma promessa de morte; uma promessa que eu faria questão de cumprir.

No outro dia, logo ao alvorecer, Ragad o Jarl do povoado, encontrou-me em seu caminho de volta ao clã onde vivíamos. Eu ainda estava caída no meio do mato coberto por orvalho; ainda permanecia encolhida em meu próprio corpo. Minhas vestes estavam rasgadas e manchadas com o meu sangue. Meu pescoço doía de tal forma e a dor me dava a certeza de que havia marcas de mãos entorno dele. Qualquer um que me visse naquele estado saberia que eu estava destruída. Qualquer um, até mesmo o líder do clã a qual eu pertencia.

Ragad se aproximou de mim no momento em que eu estava quase adormecendo, e com muito cuidado, tocou meus ombros. Desesperada e em um último recurso de minhas energias que estavam prestes a falhar, afastei sua mão de forma brusca e rosnei feito um animal feroz.

O viking fixou seus cristalinos olhos azuis em mim e neles encontrei não só tristeza, mas também pena. Eu odiava que sentissem pena de mim.

— Consegue se mexer? — ele perguntou, friamente.

Naquela altura, já conhecia um pouco do dialético dos escandinavos, ou pelo menos o suficiente para me comunicar. Por tanto, em resposta à pergunta, balancei a cabeça em sinal de negação.

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