🏆 Vencedor do WATTYS 2021 na categoria FICÇÃO HISTÓRICA 🏆
C O N C U R S O S:
#1º LUGAR no projeto OBRAS DOURADAS;
#1 ° LUGAR no concurso UM MAR DE ROSAS;
# 1º LUGAR concurso PENSE, CRIE E ESCREVA;
#1º LUGAR no Concurso HEROÍNAS EM PALAVRAS;
#2º L...
❝E todos lembrarão o seu nome, pois todos os sacrifícios são eternizados❞.
𝕱𝖗𝖆𝖌𝖒𝖊𝖓𝖙𝖔𝖘 𝖉𝖔𝖘 𝕽𝖊𝖌𝖎𝖘𝖙𝖗𝖔𝖘 𝕯𝖗𝖚𝖎𝖉𝖆𝖘,
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𝑰𝒓𝒍𝒂𝒏𝒅𝒂, 𝒂𝒏𝒐 𝟖𝟒𝟔 𝒅. 𝑪.
ASSIM COMO ACONTECE com os deuses, ninguém sabe quais são as origens das lendas. Na maioria das vezes ela é passada de boca a boca como uma tradição oral. O que se tem certeza é que nelas, sempre há existência de feitos heroicos, batalhas, e a todo momento, ressaltam a soberania dos deuses perante os mortais.
Talvez deus algum exista e tudo seja apenas uma invenção dos homens para mantê-los unidos e fiéis ao seu povo. Tudo pode se resumir somente ao fato da fé. E o que seria de nós, meros mortais, sem a fé? Era isso que meu pai, um sábio druida, sempre me questionava. Ele dizia que devíamos crer em algo e que até mesmo para manipular a magia, era preciso acreditar nela. Eu acredito na magia, pois vi tal poder ser usado por meu pai em inúmeras vezes. Porém, não acredito nos deuses porque eles nunca ouviram minhas preces, nem mesmo quando os impiedosos vikings invadiram meu lar e mataram minha família de forma brutal e impiedosa.
Eu implorei a Morrighan — deusa da guerra e das batalhas — para que ela viesse ao nosso socorro e dilacerasse nossos inimigos. Entretanto, a resposta de minha prece não passou do uivo do vento gelado do inverno, beijando minha pele de forma agressiva, enquanto um homem selvagem de cabelos claros como o Sol, degolava meu pai e depois, sem qualquer resquício de compaixão, estuprou minha mãe.
Lembro-me desse dia claramente e acho que jamais conseguirei esquecê-lo. Já que, todas as noites, incansavelmente, esse pesadelo se repete e ele só termina quando vejo os olhos sem vida de minha mãe fixos nos meus.
Recordo-me que naquele dia frio, logo pela manhã, meu pai sentou-se à mesa comigo e minha mãe e nos olhou com tamanha intensidade, que um pequeno temor se abateu sobre mim. Ele estava calado demais, e seu olhos verdes que outrora refletiam o brilho de uma aquecida manhã de verão, naquele momento estavam completamente desprovidos de luz. Havia preocupações esgueirando a sua mente; algo ruim estava por vir, o clima mudara de repente, até o vento parecia mais denso, como se soubesse que sangue seria derramado nos solos das antigas terras irlandesas que abrigaram nossos antepassados, e que mesmo sob ameaças de invasores, continuavam a nos abrigar; ainda pertenciam a nós, assim como o Sol pertence ao céu.
Em completo silêncio, papai olhou fixamente para os olhos azuis de minha querida mãe cuja coloração lembrava o céu em um dia quente de verão, e ele, com muita delicadeza, levou sua mão em direção a face de sua esposa que o fitava com tanta ternura, alheia aos perigos que a espreitava.
Observei com atenção os longos dedos de meu pai percorrerem a extensão dos cumpridos e negros fios de cabelos de minha mãe que escorriam livremente pelas costas. Depois, com demasiada suavidade, ele acariciou sua pele tão branca como o leite, contemplando cada traço do rosto da mulher que ambos amávamos; a bela mulher cujas heranças genéticas eu herdara.