TIME

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KIM NAMJOON ODIAVA O TEMPO.

Mas, se parasse pra pensar, não tinha o que odiar. O tempo não existia. Não passava de uma invenção humana pra entender como diabos a terra rotacionava, e mais ainda, como diabos ela conseguia girar ao redor do sol.

Então, mesmo que Namjoon odiasse o tempo, ele era o responsável por muitas coisas, ainda que não existisse. Sua consulta na psicóloga, por exemplo, era às nove e meia da manhã. Muitos dias tinham esse horário, mas somente aquele representava a consulta de Namjoon. Porque aquele era o tempo certo.

Devaneios à parte, Namjoon tinha olheiras ao redor dos olhos. Não tinha nenhum dos itens que as receitas da internet indicavam pra reduzir olheiras, então foi na cara e na coragem, pegou o metrô e, na parte bonitinha de Seoul, caminhou até seu consultório.

Lá em cima, um sol do inferno. Estava quente, então Kim vestia uma bermuda preta, daquelas com quinhentos bolsos, uma regata verde musgo, o par de tênis velhos com meias pretas e seu boné azul marinho.

Ainda assim, sentia o suor escorrer pela nuca quando chegou no consultório. Mas lá tinha ar condicionado, coisa que não tinha em casa, então tudo bem.

Se sentou na sala de espera depois de avisar a recepcionista de que estava ali, e contemplou aquela caixa cinza. Salas, casas, prédios... todas caixas. Caixotes com suas peculiaridades, seu conjunto de ações previamente determinadas e ar.

Não era esperado, por exemplo, que Namjoon chegasse ali e subisse em cima do balcão da recepção. Então ali estava sentado, numa das cadeiras, como uma pessoa normal. Mesmo que fosse tudo, menos normal.

Cada uma dessas caixolas que a gente chama de casa, restaurante, prédio, estacionamento, ônibus, metrô, a porra toda: todas elas tem uma pequena sociedade dentro delas. Coisas que você pode ou não pode fazer. E ninguém fala pra você, por exemplo, que depois de entrar no ônibus você tem que sair da frente da porta. Mas você sabe.

E esse, para Namjoon, era um dos maiores mistérios da humanidade.

Dra. Song o chamou em cinco minutos. Conversou sobre o clima mas, quando percebeu que Namjoon não estava muito pra small talk, começou com o que estava sendo paga pra fazer.

— Sei que não estava na nossa agenda, Namjoon-ssi, mas vamos tentar usar o nosso tempo pra algo útil, sim?

— Tanto faz. — Namjoon respondeu, sentado naquela poltrona de couro sintético, sentindo a pele grudar onde estava mais quente. 

— O que está rondando sua cabeça hoje, Namjoon-ssi? Me fale a primeira coisa que vem à sua mente.

— Ele. — respondeu, fechando os olhos em embaraço dessa vez. Se sentia um idiota de falar esse tipo de coisa, mas era verdade.

— Seu pai?

— Não... é um cara. Um cara que eu gosto. — abriu os olhos. Não viu nenhuma repulsa na feição da mulher, o que o incentivou à continuar. — Eu, ele... não sei. Tá tudo incerto. Eu não sei o que fazer com o incerto, Doutora.

A mulher assentiu, abaixando sua caneta. Pela primeira vez, Namjoon sentiu que ela realmente lhe entendia.

O restante da consulta correu surpreendentemente bem. Namjoon saiu de lá se sentindo 13% melhor do que estava quando entrou, e o sol tinha dado uma baixada, o que quase lhe arrancou um sorriso.

A conclusão que tinha chegado era simples: dar tempo ao tempo. E embora Kim já soubesse disso antes, agora aquilo realmente tinha entrado no seu sistema.

Chegou em casa e, depois de tomar um banho, colocou todas as plantinhas pra tomar sol. Ele podia odiar, mas elas com certeza adorariam o calor que fazia lá fora.

bluequarantine {minjoon}Onde histórias criam vida. Descubra agora