A Vovó do beco

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Eu ainda lembro a primeira vez que vi.

Era uma noite de sexta, eu tinha ficado até tarde na faculdade, pois a próxima semana seria de provas e eu queria revisar alguns temas, por isso acabei perdendo o ônibus.

Como minha casa é perto da faculdade e eu nasci e me criei nesse bairro, acreditei que não seria má idéia ir à pé para casa.
Estava uma noite gostosa, a lua estava cheia, iluminando os cantos escuros da rua.

Lembro que parei naquele beco e olhei para as casas antigas, todas de dois andares, com janelas grandes e paredes descascando. Um arrepio percorreu a minha espinha e eu respirei fundo.
Desde criança tenho medo desse beco.

Os mais antigos contam lendas sobre algumas dessas casas, onde espíritos de antigos moradores olham pelas janelas durante as madrugadas, outros vagueiam pelo beco a procura de algo que ninguém sabe o que é.

- "São apenas lendas"

Eu disse para mim mesma, tentando não deixar o medo me dominar. Lembro de entrar no beco de cabeça baixa, evitando olhar aquelas casas que mais pareciam gigantes prestes a me devorar.

estava na metade do caminho quando ouvi barulho de passos me acompanhando
O pânico começou a tomar conta de mim quando ouvi uma voz suave me chamando.

Quando me virei, vi uma senhora muito elegante, aparentava ter 50/60 anos, usava um vestido preto acima do joelho, com um decote discreto e rendas na barra.
Seu cabelo era preto, liso e curto.
Usava brincos de pérola e um colar de ouro.

Estava de sandálias igualmente pretas e com um pequeno salto.
Ela era linda e passava uma sensação de paz.

Ela sorriu e eu retribui o sorriso.

- O que faz na rua a essas horas, mocinha?

- Estou voltando da faculdade...

- Onde você mora? Talvez eu possa lhe fazer companhia.

A idéia me pareceu boa, assim o caminho pareceria mais curto.

- Moro logo no final da rua, virando a direita.

- Não rua Osvaldo de Morais?

-Essa mesma, senhora.

- Oooh por favor, não me chame de senhora, meu nome é Beatriz. E o seu?

- Me chamo Larissa, mas pode me chamar de Lari.

- Prazer Lari, me chame de Bia. Vou lhe acompanhar até o final da rua.

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