Foi só um pesadelo

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Paty corre para a cozinha e se esconde na despensa, ela senta no canto da pequena sala e põe as mãos na boca tentando abafar sua respiração forte e se segurando para não gritar.

O ambiente cai em um silêncio assustador, o ranger das dobradiças, os passos sobre o assoalho de madeira e até mesmo o som dos grilos calaram-se. Os minutos parecem horas e nada acontece deste então.

Então ela resolve sair, vai engatinhando até a porta e sente o piso molhado o que chamou sua atenção, ela encontra o interruptor na parede e ao acender a luz vê um rastro de sangue que vai até ao lado da posição em que estava encostada na parede, no mesmo local sem ela perceber a presença está seu marido Jhonny desprovido dos olhos e sua mandíbula está tão escancarada que seu queixo toca no peito, a língua havia sido arrancada.

Ela abre os olhos no pulo do susto de seus sonhos e percebe que está em sua cama de peito pra cima. Paty olha para a porta do seu quarto com o canto de olho e observa uma criatura se aproximar vagarosamente como um um gato querendo pegar sua presa sem ocasionar barulho.

Ela tenta gritar mas sua voz não saia, tenta levantar o braço para acordar seu marido, mas seu corpo não obedecia os comandos.
Ela respira fundo e tenta não entrar em pânico então fecha os olhos e conta até três e quando abre os olhos novamente não vê mais a criatura no quarto, a porta está fechada e tudo está em silêncio.

Ao tenta mexer as mãos finalmente consegue, então começa a chamar pelo marido depois que percebe que sua voz esta normal, mas ele não acorda.

Ela se senta na cama e começa a balançar o marido, mas ele não responde, ela passa a mão nos cabelos ruivos dele e percebe que está molhado, uma aflição percorre seu corpo e sua mente.

ela puxa ele com toda força para que ele virasse para ela, com grande susto e horror ela grita em desespero ao ver o marido coberto de sangue, sem os olhos e a boca escancarada sem a língua.

-Acorda Paty, sou eu amor.

Paty bate com as mãos fechadas no peito de Jhony, mas ele continua tentando acalma-la:

- É só um pesadelo amor, já acabou... Acorde!

Paty se acalma e ainda chorando olha para Jhony:

- Amor você tá bem? Você tá vivo?

Ela passa as mãos pelo rosto, cabelo, pescoço e peito enquanto ele sorri de alegria tentando acalma-la:

- É claro que estou vivo amor, foi só um pesadelo.

Paty da um leve sorriso em meio às lágrimas tentando afastar o sonho, fazendo seu corpo buscar o relaxamento ao ver que realmente era apenas um pesadelo:

- Certo então... Foi apenas um pesadelo.

dizia ela buscando conforto e proteção na face de seu marido.

- Isso amor... Agora toma um banho e vem tomar café comigo, fiz bacon com ovos mexidos do jeito que você gosta.

- Ta bom amor, eu já desço pra tomar café com você. Eu não demoro, tá?

Paty pula da cama e prepara tudo para o banho, já havia esquecido do pesadelo.

Ela sente o cheiro do café recém preparado enquanto a água quente escorre por seu corpo e isso lhe trás uma sensação de paz. Em pouco tempo Paty termina o banho e desce para tomar café, mas não vê Jhony na cozinha, vai até a sala, ele também não está, ela procura ele pela casa toda, mas não encontra nem sinal de Jhony:

- Onde ele foi? Ele não teria saído sem me avisar.

Ela volta pra cozinha e vê café pronto na cafeteira, seu prato está preparado em cima da mesa, os copos estão no lugar.

O que tem errado então?

Enquanto mil pensamentos passam por sua cabeça, ela nota que tudo está novamente em silêncio.

O mesmo silêncio aterrador que lhe atormenta os sonhos. O mesmo silêncio que antecede a morte de seu marido, ela respira fundo tentando não entrar em pânico e com o canto dos olhos ela percebe um rastro de sangue em baixo da porta da despensa:

- Foi só um pesadelo, foi só um pesadelo.

Ela pega uma faca no faqueiro e vai em direção a dispensa.

Ao se aproximar abre a porta de vagar e cai de joelhos quando vê Jhony morto no mesmo canto que havia sonhado sem os olhos, com a boca escancarada e sem língua,

"é só um pesadelo, é só um pesadelo..."

Paty grita repetidas vezes com a mão tapando as orelhas enquanto olha para o marido.

Em pânico levanta e corre até a porta de sala, mas assim que toca na maçaneta ela ouve a voz do seu marido vindo da cozinha, pelo impulso e desespero ela corre pra ver e se depara com ele sorrindo para ela em pé na frente da mesa.

Ela vai até ele toca seu rosto, ele sorri ainda mais em sua cabeça os pensamentos contínuos:

"O que tá havendo? Ele tá aqui vivo, mas eu vi ele morto!".

- O que aconteceu meu amor? Você estava indo aonde?

pergunta Jhony tomando um gole de café.

- Eu... Você está morto, eu vi você morto.

Paty abraça Jhony e sua cabeça se deita nos peitos dele, ele ri alto.

- Você tem certeza amor?

- Eu tenho, você estava ali dentro da dispensa sem seus olhos, sua boca...

Ela olha para dentro da despensa, a luz interna da pequena salinha mostra Jhony no mesmo lugar, com seu rosto desfigurado.

Ela se afasta de quem estava abraçando e ao olhar para quem era se depara com uma criatura com a pele em estado de putrefação, dentes pontiagudos restando apenas alguns, seus olhos arregalados não possuíam pálpebras.

O ser horripilante sorri e pula em cima da mesa atrás dela, Paty cai no chão e ele pula encima dela como se fosse uma aranha:

- É SÓ UM PESADELO! É SÓ UM PESADELO!

Paty grita de olhos fechados.

Ela começou a sentir o hálito podre da criatura em sua narina e ouve a voz da criatura murmurando em seu ouvido depois de passar a língua em sua bochecha:

- Não é só um pesadelo

A criatura ri e arrasta Paty pelos cabelos, sumindo na escuridão da salinha da despensa.

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