Historinhas Para Não Dormir

Sete Alem

Lembro como se fosse hoje. Eu estava voltando do trabalho, havia saído mais tarde porque apareceu um homicídio de última hora, eu sou policial.

Era meu aniversário de casamento, eu iria jantar fora com minha esposa e estava com medo de me atrasar, então peguei um atalho.

Eu já conhecia aquele lugar, apesar de nunca ter ido para casa por ali. Então por segurança liguei o GPS, coloquei uma música e segui meu caminho.

Depois de uns 10 minutos dirigindo, percebi que algo estava errado, as casas eram cinzas, não havia vegetação ao redor e as ruas estavam vazias.

Pensando ter pegado a estrada errada, fui olhar no GPS, foi então que percebi que ele estava travado.

Pelo GPS  não havia nem mesmo saído da rua da delegacia, não havia entrado no beco, mas eu tinha certeza que havia visto o GPS me mandar entrar naquele beco.

Na hora pensei em voltar, mas seria mais demorado, então continuei. Depois de quase uma hora dirigindo, encontrei um posto de gasolina, havia apenas um senhor parado na frente de uma das bombas, então decidi parar e pedir informações.

Mas assim que desci do carro ele veio em minha direção com muita raiva, gritando comigo.

- Vai embora, aqui não é seu lugar, vai embora...

Eu entrei no carro e quando estava pronto pra seguir meu caminho, ele se jogou na frente do carro me mandando voltar de onde vim.

- Pra lá, pra lá, teu lugar não é aqui, volta...

Eu voltei pela mesma estrada, mas novamente tudo havia mudado.
Não haviam casas, mas havia muitas pessoas.

Eram velhos, crianças, mulheres e jovens indo na direção oposta a minha. Eu parei o carro e tentei falar com alguém, mas eles tiveram a mesma reação do senhor que estava no posto de gasolina.

Sem ter outra saída eu simplesmente dirigi sem rumo. Eu só torcia para que conseguisse sair dali antes que a gasolina e a água acabassem.

Mas não foi assim. Depois de 5 horas dirigindo, a gasolina acabou e a minha água já estava acabando também, então simplesmente fiquei parado ali, no meio do nada, tentando não entrar em pânico.

Eu não entendia o que estava acontecendo. Pelo meu celular eu via a hora, já era seis da manhã, mas não havia luz. Tudo era cinza, tão cinza que eu não conseguia ver o céu e nem muito longe na estrada.

Então percebi que se eu continuasse ali parado, iria morrer. Cheguei a acreditar que iria morrer de qualquer forma, mas estava decidido a morrer lutando.

Então peguei a minha última garrafa de agua, meu celular, minha arma e comecei a andar.
Foram horas caminhando e já exausto eu sentei na beira da estrada para descansar, mas quando tentei levantar senti uma dor muito forte na cabeça e desmaiei.

Quando acordei estava na cama de um hospital, minha mulher dormia no sofá ao lado da cama.
Por um momento me senti perdido, sem acreditar que havia conseguido sair daquele lugar.

Então quando consegui entender que estava em casa novamente, eu comecei a chorar, um choro de alegria e alívio.

Eu estava vivo.

Eu havia desaparecido por três dias. Mas como isso é possível? Quanto tempo fiquei desacordado?

Minha mulher me contou que um senhor havia me encontrado no chão do beco, eu não estava ferido, mas profundamente desidratado.

Minha vida nunca mais foi a mesma. Eu não tive coragem de contar o que havia acontecido, então tudo ficou como um surto psicológico.

Fui avaliado como incapaz de voltar para as ruas, então fiquei na parte administrativa. Isso acabou comigo. Eu era novo na polícia, ainda tinha muitos planos e de repente tudo foi tirado de mim.

Na época não havia internet e toda a investigação que fiz não me levou a lugar nem um.
Mas agora tudo mudou.

A internet esta ai, milhões de informações novas a cada segundo e no meio delas, um nome.

Sete Além.

Muitas histórias, muitos detalhes. Mas nem uma certeza.
Ninguém sabe que lugar é esse, por que existe.

Será uma nova dimensão? Uma falha na Matrix? O limbo ou a estrada para o inferno?

Acho que nunca teremos a resposta. A única certeza é que eu jamais irei ter paz novamente.
O medo de entrar novamente naquela estrada e nunca mais conseguir sair, não me deixa.

Ainda sonho com aquelas pessoas, ainda vejo aquela estrada interminável e cinza.

Mas não canso de procurar a resposta, não vou desistir de saber o que aconteceu e onde eu estive.

Se você quiser, pode se juntar a mim. Já foi lá? Já viu aquelas pessoas? Se sim, seja bem vindo ao clube Sete Além!