Perdoando

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POV Luiza
Os dias tem se passado lentamente e a cada dia que passa minha ansiedade pra ver meu filho aumenta.
Estou no quinto  mês e estou me sentindo a grávida mais gorda do mundo. Tô começando a achar que o médico se enganou e estou grávida de gêmeos.
Maggie finalmente conseguiu descobrir o sexo do seu bebê, é uma menina e já tem até  nome. Luna.
Toco minha barriga redondinha e sorrio.
O bebê se mexe algumas vezes mas David nunca consegue sentir. É de dar pena o tanto que ele fica decepcionado.
A campainha toca e vejo Maggie ir atendê-la depois de dar um beijo leve nos lábios de Henry. Isso também é uma novidade, os dois se assumiram a poucos dias e ainda acho estranho essas demonstrações.
David entra junto com Oscar e Ludy, os três acenam pra mim enquanto vão guardar as coisas na cozinha.
Hoje é domingo e convidei meus amigos para almoçarem aqui, mas apenas Oscar e Ludy puderam vir.
- Como as gravidinhas estão? - Ludy pergunta me abraçando.
- Estou ótima, já a Maggie eu não sei. O humor dela muda a cada cinco minutos. - brinco e escuto ela me xingar da cozinha. - Também te amo gostosa.
- Falsa! - ela grita nos fazendo rir.
E então vejo David vindo em minha direção e meu coração quase sai pela boca. Eu e ele nos aproximamos bastante e as vezes até me esqueço de tudo que ele fez.
- Oi. - David diz se sentando ao meu lado e beijando meu rosto. - Como você está?
-Estou bem. Nosso filho está mexendo cada vez mais. - respondo sorrindo e ele beija meu rosto de novo.
- Pede pra ele mexer pro papai. É sério Liza. - David coloca a mão em minha barriga e acaricia o local. - Mexe pro papai ver meu amor.
- Acho que ele  não tá afim em? - começo a rir da sua cara e ele me encara um longo momento.
- Tá cada dia mais linda sabia?
-Obrigada. - agradeço corando e ele ri. - Meus tios ligaram hoje cedo querendo saber se podem vir assim que o bebê nascer.8
- Liza não precisa agradar meus pais. Eles vão entender se disser não.
- Mas eu quero eles aqui. Vai ser um momento muito importante pra todos nós.
O dia passa com uma alegria sem fim, ficamos todos trocando brincadeiras e rindo de algo que alguém fez no passado.
David tem se mostrado bastante maduro desde aquele episódio.
Sinto tanta falta da gente que a cada dia que passa vou o perdoando mais ainda.
- Quando vai ser seu parto Maggie? - Ludy pergunta enquanto almoçamos no jardim de casa.
- A médica disse que provavelmente no final de setembro. Vamos ver. - ela responde acariciando a barriga. - Só sei que tô doida pra ver a carinha da minha filha.
- Eu também quero muito ver o meu filho, e fora que já tô uma baleia. Tenho até medo de me ver nos últimos meses.
- Deixa de ser retardada mulher. - Oscar brinca fazendo todos rirem. - Continua a magreza de sempre, a diferença é que a barriga tá só um pouco grande.
- Oscar tem razão. - David diz me fazendo olhar torto pra ele. - Liza, tu sabe que tua barriga tá parecendo de quatro meses.
- O pai que devia engravidar, não a mãe. Fico me sentindo um botijão de gás.
- Deus me livre, Liza. - Ludy ri com gosto. - Imagina o quanto seria estranho os homens com barrigões e amamentando.
- Credo. - Henry diz sorrindo. - Quando eu e Maggie tivermos nossa filha eu vou amassar muito ela.
- Que gracinha gente. - Ludy diz emocionada. - Acho tão lindo você ter assumido a filha da Maggie. Pai é quem cria e tenho certeza que você vai ser o melhor.
- Olha, não sei se serei o melhor, mas vou sempre estar do lado dela pra tudo que precisar. - ele diz e Maggie sorri lhe dando um beijo. - O Lucas tá passando por esse momento de rejeição mas eu Maggie concordamos que quando ele cair na real, vamos fazer de tudo para convivermos bem. Ele vai poder ver a filha sempre que quiser.
- Na verdade gente foi o Henry que me convenceu disso, eu ainda estou magoada com o Lucas. - Maggie diz depois de um longo suspiro. - Mas eu sei que Henry está certo.
- É isso aí amiga, bola pra frente. - jogo um beijo pra ela.
Depois do almoço os meninos vão lavar as louças. Eu, Ludy e Maggie ficamos na sala jogando assunto fora e simplesmente adoro as duas.
Eu e Maggie nos damos muito bem e morar  com ela é  uma alegria sem fim. Henry desde que pediu ela em namoro vive dormindo aqui é quase como se fosse um casamento.
- Amor, vamos embora? - Oscar surge da cozinha e Ludy se levanta assentindo. 
- Nos falamos depois. - ela me diz quando beija meu rosto e depois o de Maggie. - Se cuidem as duas, qualquer coisa é só ligar.
- Obrigada Ludy.
Depois é a vez de Oscar e eles finalmente partem. Henry e Maggie vão até Lucinda e fico em casa para conversar com David sobre nosso filho. Nada sério só conversar sobre nosso bebê tão esperado.
- Vamos assistir um filme? - David pergunta sentado ao meu lado no sofá.
- No cinema?
- Não, lá fora está frio. Vamos assistir aqui mesmo. O que acha? - ele me olha.
- Acho bom. Vou fazer a pipoca, enquanto isso você escolhe um filme aí no Netflix. - falo me levantando e indo até a cozinha.
Preparo a típica pipoca com manteiga, pego uma Coca-Cola e chocolates. Coloco tudo na mesa de centro da sala e desligo as luzes para podermos assistir o filme.
- Qual escolheu? - pergunto me jogando no sofá maior.
- Estava te esperando pra você escolher. - ele diz sentado no outro sofá. - Nada de terror, não quero você levando sustos.
- Tranquilo David, você se preocupa demais.
Pego o controle de sua mão e começo a procurar por algum filme que me agrade.
Cinco minutos depois escolho o filme Se Eu Ficar, sempre quis assistir ele é agora que tenho tempo e oportunidade vou aproveitar para assistir.
- Fico aliviado que não tenha escolhido Titanic  como você sempre faz. - David diz assim que dou play no filme.
- Titanic é uma obra meu querido.
- É o pior filme que já assisti. - ele rebate só pra me ver irritada.
- Não é nada. - jogo uma almofada nele que ri com gosto. - Idiota.
O filme mal começa e já estou chorando.  Tenho certeza que não é só pelos hormônios alterados.
A história é triste demais e nos prende tanto que me sinto no lugar do garoto.
Deve ser horrível perder toda a família um acidente tão trágico e ser a única a sobreviver e ter que lutar para não morrer. O pior de tudo deve ser perder o amor de sua vida.
David fica o tempo todo me olhando, sinto que é como se ele quisesse me consolar e no momento isso seria tão perfeito que eu nem ligaria pro resto.
Penso no quanto eu o amo, o quanto ficaria longe dele durante esses meses foi difícil. Por mais que ele estivesse presente todos os dias, eu sentia falta de algo mais. Algo como um beijo dos seus lábios. Sempre ouço quando ele diz que me ama e acredito que seja verdade mas não deixa de ser diferente. Acho que é pelo fato de eu querer dizer o mesmo mas meu orgulho sempre me faz parar quando finalmente pretendia dizer.
Mas o que o orgulho nos dá em compensação? Para onde ele nos leva? Pra lugar nenhum é claro.
Somos cheios de orgulho e na maioria das vezes esse orgulho nos cega porque a gente só quer que  a pessoa sinta a mesma mágoa que a gente.
Nós humanos não sabemos como vai ser o dia de amanhã, não sabemos nem se um dia ele vai chegar mas mesmo assim nos privamos de perdoar as pessoas. Nos privamos de abraça - las mesmo sentindo um ódio terrível dentro da gente. Nos privamos por puro instinto de sermos orgulhosos. Mas pra que afinal?
Isso sempre afeta mas a nós mesmos. Queremos ferir o outro mas é sempre a gente que se fere. Causamos a nossa própria dor, por orgulho. Por uma crença boba de que devemos ser frios e pagar tudo na mesma moeda ou de uma forma mais feia é dolorosa.
David pretendia dizer algo quando por puro instinto e arrependimento caminho em sua direção aos soluços. Ele me olha confuso quando me sento em seu colo e o abraço com toda as minhas forças.
Meus soluços fazem com que meu corpo balance constantemente. David afaga minhas costas ainda confuso. Acho que ele jamais esperava por algo assim. Deve estar pensando que é por conta do filme, mas não é.
Estou chorando por nós dois, estou chorando de arrependimento, estou chorando por profunda tristeza e ao mesmo tempo amor. Estou chorando pelo dia do meu aniversário em que fiquei sozinha, estou chorando pelo arrependimento de David.
Estou chorando por tudo, por nós dois. Pelo meu sofrimento e pelo dele.
É como se sentisse tudo de uma vez, tudo de uma só vez...
- O que foi Liza? - ele pergunta preocupado. - É o filme, eu tiro ele okay?
- Da- David... - tento dizer mas não consigo parar de chorar.
- Por favor não chora. Nosso bebê sente tudo.
Me deixo ficar em seu colo, rodeada em seus braços enquanto o choro vai diminuindo... enquanto só restam os soluços e minha exaustão.
- Não sabia que se emocionava tanto com filmes. Esse aí perdeu pra Titanic. - David diz enquanto escuta meus soluço e suspiro. 
Ainda estou em seu colo, minha cabeça descansa na curva de seu pescoço e sinto sua respiração leve. Suas mãos afagam minha cintura e meus cabelos.
- Não foi o filme. - consigo dizer de olhos fechados. - Eu não aguento mais... Não aguento.
- O que foi Liza? Está passando mal? - David pergunta muito preocupado. - Vou te levar ao medi...
- Não... Não. Por favor. Estou bem, só preciso que me abrace. - peço finalmente o olhando nos olhos. - Só preciso que me perdoe por ser tão orgulhosa. Eu... Eu não aguento mais isso.
- Como assim? O que você tá querendo dizer? - ele me olha enquanto lágrimas voltam a rolar em meus olhos. - Eu não tenho que te perdoar. Você não fez nada comigo. Eu fiz. Só eu. Estraguei tudo e sei que a culpa é só minha.
- É minha também. O tempo de raiva e mágoa que sentia de você já passou a meses. Sei que jamais vai fazer o que fez comigo no dia do meu aniversário. Mas... - um suspiro longo escapa e limpo minhas lágrimas. - Esses sentimentos feios me cegaram. Eu queria que você sofresse o que eu sofri.
- Liza...
- Eu fui tão egoísta que nem percebi que isso também me afeta.
- Tudo bem Liza. - David diz com a voz embargada. - Se eu perdi seu amor a culpa é só minha, não sua...
- Para David! - peço um tanto brava. - Está deixando seu rancor de si mesmo te cegar. Será que não percebe? Estou arrependida!
- Arrependida porque? Você não fez nada.
- Te magoei, me magoei porque o orgulho foi maior que eu e...
- Liza, eu sou o culpado! Sei que sou, não tente diminuir isso, eu...
- Para! Para! - Quase grito e ele me olha um tanto espantado. - Eu ainda te amo, nunca deixei de te amar e sabe disso. Te amo tanto, tanto que chega a doer.
- Ainda me ama mesmo depois de tudo que aconteceu? - ele pergunta um tanto receoso.
- Amo. Amo tanto quanto amo nosso filho. Mas são amores diferentes. Eu te amo como o amor da minha vida, o homem que eu escolhi.
- Liza...
David não consegue terminar a frase apenas fica me olhando como se fosse um sonho, uma ilusão de sua mente.
Tantos meses separados... Dias insuportáveis e intermináveis.
- Tem certeza?
- Tenho. Não duvide disso. - peço antes de enlaçar meus braços em volta de seus ombros e beijar seus lábios de modo leve.
Primeiro é só um leve roçar de lábios bem demorado. É como se ainda não acreditássemos no contato, é  como se fosse a primeira vez. É como se nos redescobrimos.
E então David finalmente pede passagem para um beijo de verdade, um beijo cheio de urgência e saudades.
Nossas línguas travam uma batalha prazerosa, não é nada sexual, é saudade.
Seus braços rodeiam minha cintura e eu só queria poder ficar assim para sempre.
- Eu te amo. - David diz entre Beijos. - Tenho tanto pra te falar...
- Depois, David. Depois. - falo voltando a lhe beijar.

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