20 - Desabafar

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   Na manhã seguinte acordei e vi que o Louis já não estava no quarto.

   Desci e vi-o na cozinha a preparar o pequeno-almoço.

Eu: Bom dia, Louis. O que é isto? Convidaste um exército inteiro para tomar o pequeno-almoço contigo? - pergunto ao ver a quantidade e diversidade de comida em cima do balcão de mármore.

   Louis riu-se.

Louis: Não sabia o que preferias então fiz um pouco de tudo.

Eu: Não achas que já te dei trabalho a mais? - pergunto, como quem o está a repreender. Ele está a ser muito simpático comigo, e eu só tenho de agradecer por isso, mas eu não lhe quero mais trabalho.

Louis: Não, não acho. E vais passar o fim-de-semana comigo.

Eu: Nem penses! Já dei trabalho a mais. - insisto

Louis: Se eu disse que não dás trabalho, é porque não dás. – disse ele aproximando-se de mim.

Eu: Está fora de questão! – continuo a insistir

Louis: A casa é minha, nem que tenha de te amarrar, percebeste? – diz ele deitando-me a língua de fora.

Eu: Sim, senhor Louis. – cedo finalmente.

Louis: É doutor. 

Eu: Sim, senhor doutor Louis. - eu corrigo

   Nós rimos.

   Sentamo-nos na mesa branca que estava no meio da cozinha e começamos a tomar o pequeno-almoço, escolhendo entre as várias coisas que lá estavam.

Eu: Foste tu que cozinhaste isto?

Louis: Ya! Gostas? – pergunta entusiasmado

Eu: Está… maravilhoso! – digo enquanto petisco mais um bocado de torrada.

   Ele ri pelo meu desespero a comer, parecia que não tinha comia à anos.

   Só passado algum tempo, percebi que ele não tirara os olhos de mim.

Eu: O que foi? – pergunto. Ele não responde e por isso volto a comer. – Isto está mesmo bom. – disse, ouvindo-o rir de seguida.

   Quando terminamos, eu ajudei o Louis a levantar a mesa, e depois, ele manda-me sentar no sofá.

Louis: Então conta-me lá a história do teu pai, com calma. - ele pede

Eu: Ok…- disse suspirando – Espero que tenhas a noção de que nunca falei de isto a ninguém. – ele apenas assente com a cabeça, com um ar de compreensão. Eu ganho coragem e começo. – Então, à 6 anos atrás, na noite do meu aniversário de 12 anos, o meu pai desapareceu sem deixar rasto. Completamente do nada. – disse pegando na chave que tinha ao pescoço e apertando-a com força, mas continuando a olhar para o Louis - No dia seguinte quando descobri que ele não estava em casa, fiquei preocupada. Porque ele estava sempre em casa nos domingos de manhã. Ele adorava dormir até tarde. – solto um sorriso lembrando-me dos bons momentos que passara com ele, mas logo continuo – Assim, que percebi que algo estava mal, fui a correr contar à minha mãe. Ela apenas disse que sabia, mas nem olhou para mim. Aí, eu perguntei-lhe onde ele estava e ela olhou-me muito séria. Tão séria como nunca. Mas não era só seriedade. Também era tristeza… ela disse que não sabia onde ele estava. Quando ela disse isso eu pedi à minha mãe, por tudo, que se ela me deixasse ir procura-lo. Eu até lhe jurei que eu o iria encontrar se ela me deixasse ir. – sinto-me invadida por uma tristeza imensa, mas eu sou forte e por isso continuo – Mas ela disse que não, e ralhou comigo, enervada como eu nunca a vira. Ela pôs-me de castigo e disse-me que eu não tinha nada haver, que a deixasse em paz, e ao meu pai também. Eu fiquei muito triste com a reação dela. Lembro-me de ela chorar muito nas noites seguidas, de a meio da noite gritar “Volta”. Mas assim que percebi que ela não o ia sequer tentar procurar, fiquei muito revoltada e, eu sei que não era motivo para isso, mas foi a maneira que encontrei para descarregar a minha raiva. Comecei a roubar, a bater nas pessoas, a desobedecer a tudo, e à medida que fui crescendo, fui piorando, porque para além do que fazia comecei também a ingerir drogas, e…

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