capítulo seis

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Era uma péssima ideia na visão do caçula Stultus. Viajar? Sem ter o suficiente pra sequer sobreviver em Humble? Por ele, que apenas dessem sinal de vida para que enviassem as fortunas do pai para a nova casa em que viviam. Mas obviamente, não foi escutado. Mesmo que Hector tivesse ponderado pela ideia, que não fedia nem cheirava, era apenas mais plausível, não acharam viável mandar uma carta antes. David ainda julgou-a preguiçosa demais, e os outros concordaram. Que agarrassem o que era de direito deles a força! Mas, não tinham força. Como camponeses, comiam menos e trabalhavam mais. Muito mais. Kinille via apenas um complexo de superioridade que não deveria existir, visto que tudo o que tinham era a família, mesmo assim a desprezavam. Ele suspira, não tinha mais o que fazer. O pai já deveria estar longe pelas estradas de terra batida a fora, cavalgando velozmente sobre o cavalo que lhes foi dado por pena, o único que restou da antiga vida luxuosa.

E tinha razão. Hugo saltava em felicidade, não literalmente, pois quem fazia isto de fato era o cavalo, mas ele estava quase gritar à plenos pulmões que iria ficar rico novamente. Retornaram exatos 5 barcos ao porto, 2 carregavam um resto de ouro que sobreviveu a ataques de piratas, um deles esmeraldas, quase intocadas pela ação do tempo, o restante deles carregavam diversos itens vindos do egitos, jóias, ouro, prata, foram resgatados pela marinha britânica. Porém, mesmo com mais que o suficiente para voltarem a vida perfeita numa ótima cidade, Hugo foi descartado da possibilidade de conseguir todo aquele dinheiro. Quando os tripulantes ingleses foram falar com o responsável pela transação de barcos a procura do dono deles, o deram como morto. De fato, Kinille estava certo. Bastaria uma única carta ao porto para avisar prontamente que estavam vivos. Nunca mais fizeram isso, logo, todas as riquezas foram mandadas ou para museus ingleses, ou guardados em bancos oficiais da realeza, ou distribuídos entre os marinheiros britânicos, que se sentiam indiferentes em dizer pra si próprios "Graças a deus está morto".

Quando chegando ao porto, e sabendo que não haveria mais o que fazer por seu dinheiro distribuído sem permissão, Hugo quase desabou ali em meio a todos os homens bem vestidos. Ele tentou ir atrás dos bancos e museus, dizendo que aquelas mercadorias eram suas e que não permitiu que fossem levadas pra lá, mas como estavam sem os documentos dos barcos, que foram queimados, muito menos com provas que de fato elas eram suas, ele teve de voltar para casa de mãos abanando. E pior, com que cara amargurada iria encarar seus filhos e dizer "Não consegui nada, estamos realmente destinados a viver na pobreza do campo europeu"?. Ele prometeu tudo, mas não poderia fazer nada, isso o entristecia tanto quanto o irritava.

A viagem foi longa, longa, muito longa, foram 3 dias sem parar um segundo. Até seu cavalo não suportava mais dar dois passos. Havia o deixado no hospedagem que se estabeleceu pra fazer negócios e conseguir tudo de volta, mesmo falhando miseravelmente nisso. Quando voltou para lá, o viu pelo estábulo, comia bem e parecia estar mais descansado depois de 3 dias diretos de viagem. O corpo do velho Hugo lateja em dor, apelava e gritava por descanso merecido por sua idade. 50 anos não era pra qualquer um. Os cabelos grisalhos penteados pra trás, a barba e o bigode brancos, a pele flácida e com manchas e algumas rugas, um verdadeiro pedaço de carne velha e enrugada.

Parando no balcão que deveria ser uma espécie de bar, mas também era a recepção, observou todos os tipos de bebidas, de vinho à rum, mostrando o quão diverso poderia ser aquele pequeno estabelecimento, mesmo sendo bem barato.

- O senhor precisa de alguma coisa, senhor..? - Uma senhora que limpava os copos de madeira e canecas de metal perguntou a Hugo, com interesse de descobrir seu nome e se precisaria largar os copos para servi-lo algo de uma vez.

- Preciso apenas saber o quanto custaria uma noite aqui, junto a uma refeição e a estadia do meu cavalo. - Ele diz cansado, parecia tão abatido que chegava a assustar quem o via. A senhora, por pena e por reconhecer esse sobrenome, sorriu para ele.

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