capítulo quinze

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Demência chegou ao castelo apenas horas depois de sair, ninguém teve uma boa noite de descanso e toda aquela situação estava estressando os moradores de lá. A mulher escamada tirou o elmo e suas luvas, escorando-os no braço do trono, encarando o loiro de mãos atadas e face chorosa. Quando chegou ao casebre do rapaz, observou-o pela janela da sala, onde estava reunido com a família e muito convenientemente cruzou seus olhos com os da réptil, que sentiu desejos impulsivos de arrasta-lo dali pelos cabelos e dar-lhe uma lição muito bem aplicada. O que sentia em seu peito ardia como chamas, era uma ira sem fim, por ele ter ignorado seus avisos, por ter pisado em seus sentimentos, por ter simplesmente fugido. Estavam indo bem, estavam adaptando-se ao novo ritmo com alguém que confiavam e que dizia que não os deixaria nunca. Falácias, mentiras, calúnias!

– Mentiroso..! — Entregando-lhe um tapa fortíssimo, Demência encarou Kinille nos olhos. – O que dissemos-te entrou por uma orelha e escapuliu pela outra? Estávamos crentes que seria diferente contigo, o quão idiotas acha que somos? — Ela berrava rente ao seu rosto que sangrava pelo lábios e nariz, pequenos cortes abriram-se nessas regiões, porém nada de muito grave, o rapaz permanecia em sua posição de vergonha com o rosto abaixado. – Noah te tratava como se tivesse teu sangue imundo correndo pelas veias! E fazes isto com ele!? O que esperava ganhar? Um beijo na testa e afago nos cachos louros como teu papa faz sempre que erra? Não és mais criança, Kinille, do tanto que enche o peito para falar isto ao mestre, deveria ter noção!

– Perdão.. — Ele não sabia direito que fazer, foi o que pode soltar de seus lábios trêmulos, dentre tantos soluços e gemidos chorosos silenciosos. – F-fui injusto e impulsivo. M-mas.. Eu somente queria ver meu papa uma última vez, ainda voltaria para cá.

– Que bom que sabes. — Dito isto, a guarda o leva abruptamente pelos corredores em direção a sala do trono. – Não quero ouvir-te lamuriar, tive o suficiente, deve desculpas a Noah e ao senhoril.

Ela sabia que o amo estava a sua espera, não deveria demorar. Ela passou seus dedos finos pelos sedosos fios ruivos que lhe restavam no couro cabeludo, pois metade da cabeça e do rosto já estavam consumindos em escamas, estava exausta daquela estripulia, os nervos à flor da pele. Quando disseram ao menino que o lorde demoníaco era manipulável se flexibilizassem seu ego, pensaram que ele insistiria até a fera surtar e permitir de uma vez por todas que ele fosse, ou até mesmo, que o garoto desistisse e deixasse para o fim do ano ou qualquer coisa deste modo. No final do dia, eles esperavam sensatez de quem arduamente criticava este porte infantil que Black Hat possuía. Surpreenderam-se quando visualizaram que a história repetia-se com o loiro, bastou algumas grosserias para ele testar as ordens do demônio, sua paciência e sua lealdade, em uma única noite.

Pegou-se vagando em seus pensamentos e nem notou que estava parada em meio ao corredor de costas para o rapaz que soluçava baixo, tristemente. Agarrando-lhe pelas cordas que o amarravam, levou-o finalmente até o salão de festas, onde Noah e uma irritada fera estavam. Na realidade, todos estavam bravos.

– Tu..?! Como.. ousas! Eu lhe dou uma ordem e um bom motivo para ficar no Palácio, e tu desafia-me escapando bem debaixo de meus olhos?! — Black Hat aproximou-se teatralmente, caricato como sempre, mas desta vez não havia um clima delicioso de chá vespertino, somente o sombrio do demônio que rugia emputecido com tais atitudes reprováveis do rapaz. – Eres uma puta escorregadia! — O loiro nada disse, se contendo a olhar para baixo, evitando contato visual. – Olhe em meus olhos quando falar contigo! — Kinille lentamente levanta o rosto avermelhado, soluçando e derramando lágrimas sem parar. – Patético. Dê-me um bom motivo para não te matar agora.

– E-eu.. Não tenho. — Ele sorriu amargamente, não mantendo contato visual por muito tempo. – Tudo dependerá do senhor, porque.. Eu sei que fui imaturo de não ouvi-lo. Peço perdão. — Silêncio.

Paperhat: Beauty and Beast version Onde histórias criam vida. Descubra agora