Ao redor da lareira quente, que crepitava, ardente, no mais puro desespero para carbonizar todos os troncos de madeira que estavam ali, rodiava-se todos os filhos da família Stultus, curiosos para ouvir todas as histórias e o que haveria acontecido naquela viagem, que teve toda aquela demora. O patriarca, Hugo, sentou-se na única poltrona daquela pobre sala. Encarava a todos e se perguntava como iria dizer que teria apenas mais uma semana com todos os filhos, pois um demônio horrível haveria o pego como seu prisioneiro. Suspirou, uma vez mais, dando início a longa história.
Ao fim de tudo, dando o máximo de detalhes possíveis, Hugo ainda derramou pobres e dolorosas lágrimas pelo rosto enrugado, enquanto encarava o burburinho entre os filhos, e seus rostos tristonhos ou revoltados, no geral, desacreditados que o pai seria-lhes arrancado de suas vidas, apenas por uma rosa ínfima e inútil. Isto era absurdo para Sophie, a mais nova das moças, um demônio capturar seu pai?! Tudo por uma rosa?! Era... era...
- ULTRAJANTE! - Ela gritou, em um surto de ódio pelo outro caçula, Kinille. - ISTO TUDO É CULPA SUA! - Ela apontava pra ele, que se encolheu em seu canto, na ponta de toda aquela gente, escondido do olhar de todos, que agora se voltava contra ele.
- Sophie! Isso são modos de uma jovem?! - Hugo repreendeu, tentando privar seu filho mais solitário de mais problemas com os irmãos. - Cale-se e fique quieta, daremos um jeito nisto.
- NÃO! É IMPOSSÍVEL NÃO ODIAR ESTA DESGRAÇA! - Ela avança e o tira pelos cabelos do meio dos outros, e o ataca com tapas e arranhões, ele não fez nada a não ser se proteger do ódio da irmã. - VOCÊ IRÁ NO LUGAR DELE! VOCÊ! ENTENDEU-ME?! - Ela foi puxada de perto de Kinille, que soluçava, todo machucado e arranhado, caído no chão. Hector o ajudou a se levantar, mas ele lentamente se afastou e subiu as escadas, trancando-se no quarto.
Hugo o seguiu, enquanto desenrolou-se uma conversa de como impedir a fera de se apossar do pai. Até que entraram em um consenso geral de mandar uma isca, no lugar do pai, para que preparasse terreno para um futuro ataque em grupo. Enquanto tudo aquilo ocorria, Hector e Hugo estavam na porta do quarto do caçula, tentando entrar para acalmá-lo. Porém, tudo o que Kinille mais queria naquele momento, era a morte. Foi até a sua janela, que ficava de frente para a floresta, sorriu para a lua cheia amarelada que nascia no horizonte.
E se jogou.
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Ele abriu os olhos azuis, já era de manhã. Seu corpo todo doia. Estava enfaixado novamente na cabeça, nos braços, pernas e barriga. Tudo latejava muito. Porém, de nada lembrava da noite passada. Apenas que subiu no parapeito da janela para sorrir para a lua, pedindo que Deus tivesse piedade de sua alma; queria ver a mãe de perto novamente. Tentou se levantar, mas notou passos e viu Hector o deitar novamente.
- Nem ouse, pequeno atrapalhado. - Ele disse com um carinho que nunca viu por parte do irmão. - Papa está muito preocupado com você, colabore e fique quieto apenas por hoje, certo? - Ele assentiu.
- O que aconteceu? - Sua voz estava embarganhada de dor, cansaço e sono. - Como me machuquei tanto? - Hector imaginava que a pancada na cabeça causaria uma perda de memória rápida, mas estava indeciso se contava o que aconteceu ou se deixava ele acreditar que tinha apenas caído.
- Você caiu morro a baixo. Estava de noite, talvez não tivesse visto o fim do monte. - Fazia sentido e ele parecia acreditar que tinha acontecido isso mesmo.
- Ah, entendo.. - Ele suspirou, não se deixou levar pelos pensamentos obscuros que tinha, graças a Deus.
- Bom, vou trazer-te algo pra comer, fomos a feira hoje, tem o bastante para que se recupere rápidamente. - Hector sempre foi um homem sério e resguardado, característica herdada do pai, porém, a doçura de sua mãe não estava apenas nele, ao que se mostrava, Hector também apanhou um punhado dela em sua genética.
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Paperhat: Beauty and Beast version
RomantizmA Família Stultus era a mais rica de toda a cidade de Humble, mas nem mesmo toda sua riqueza seria capaz de comprar um novo e próspero futuro, diferente do desgraçado que foi programado para eles. Mas é como dizem: "O que está ruim, ainda pode piora...