capítulo cinco

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Noah respirou fundo, se livrou mais cedo que pensava de uma enorme bronca do amo. Fechou as portas lentamente, evitando o baque estrondoso delas. Se direcionou até a cozinha, guardou tudo o que retirou do lugar, colocou o queijo sobre sua tabua e a cobriu, jogou os restos de comida aos porcos, lavou o copo e retirou-se, deixando de lado apenas o cheiro de sangue que somente seres habituados, muito habituados, poderiam sentir. Algo que ninguém notou, mas os pés enfaixados de Kinille não estavam prontos para tocar o chão, cada passo seu equivalia mais daquela doce essência macabra espalhada pelo chão de porcelana do castelo. Tanto que nem mesmo ele o sentiu, de tão fraco e tênue era. Mas foi o suficiente para algo nas sombras do castelo despertar. Não tinha aura demoníaca, nem angelical, mas beirava as duas, uma existência meramente pesada, mas com uma aparência tão serena e suave, que todos dizem que era incapaz de machucar alguém, mas ela fazia pior.
Sentiu aquele cheiro forte, metálico, ainda fresco e recente, manchando muito brandamente o chão de madeira. Sorriu, parecia delicioso. Ela sentiu a vaga trilha, que subia as escadas da cozinha, seguia por alguns corredores, quase se esvaindo por alguns deles, ficando cada vez mais escasso, porém, dava pistas o suficiente de onde vinha aquela pequena e amena trilha de sangue. Acabou que ela terminou antes mesmo de chegar próximo ao quarto de 5, a presença bufou, deveria investigar mais depois, quem sabe pressioná-lo contra a parede, ela era a guarda do palácio e deveria saber de tudo que ocorria de anormal por lá. E aquilo era completamente fora da curva. Ela conhecia o cheiro de todos ali, até de alguns móveis e ambientes, principalmente, o de Noah e de seu senhor, estes eram inconfundíveis a ela. O sangue não lhe era familiar, não o reconhecia, e isso a deixava incomodada, intrigada.

Definitivamente, iria investigar.

- Demência! - Ouviu um chamado, olhando para ver quem era, viu apenas 5 a encarando, com um olhar confuso e irritadiço. - O que faz aqui? - Ele perguntou, a encarando.
- Ah, é só você urso. - Sua voz por dentro da armadura ficava amedrontadora, era grossa, ecoava, mas ainda sim tinha traços femininos delicados, mesmo abafados pelo capacete. - Sentiu esse cheiro? - A pergunta respondida com outra pergunta fez o sangue do pequeno gelar.

- Cheiro? - Ele se recompôs, fazendo a cara mais azeda que podia, mesmo que sua fofa aparência fazia o parecer um bebê irritado. - Não! Não senti. Deve ser apenas o cheiro do amo, agora, por que não volta para seu posto?! - Sua tentativa de parecer durão nunca funcionou.

- Sabia que fica adorável assim? - Ela debocha, fazendo-o enrubrecer. - E esse cheiro não é o do senhor Black Hat de jeito nenhum! O cheiro dele é muito mais forte, e não é tão doce e suave, na verdade, ele tem cheiro de cadáver apodrecendo. - Ela diz dando os ombros, mesmo sabendo que o chefe não reage bem a críticas.

- Não diga isso em voz alta! Ele odeia quando falam dele. - "mesmo que seja verdade", sentiu vontade de admitir, ele mesmo que não suportava contato gratuito com sangue, sentia que o amo não comia apenas aqui, quando era a hora do jantar.

- Ele sabe que dizemos a verdade. - Ela revira os olhos, às vezes era tão medroso que tratava o amo como uma criança de 7 anos.

- E é isso que irrita ele. Não precisa ficar dizendo isso em alto atoa, Demência. Agora, já para o posto! - Ele bate o pé, sentindo-se superior, mesmo que ela fosse bem mais alta que ele.

- Então certo, irei para o posto, capitão. - Ela diz rindo, enquanto passa lentamente por ele. - Eu posso sentir o cheiro suave do sangue que comentei, fique esperto, ou o senhor vai ter mais motivos para ir atrás de você. - Ela gargalha e sai dali, fazendo a armadura ecoar pelos corredores, deixando um 5 muito assustado e trêmulo.

O senhor Black Hat era conhecido entre todos os seus funcionários como alguém muito estressado e explosivo. Qualquer coisa o fazia gritar e rosnar como um cão enraivecido. Porém, 5 e Demência conheciam muito bem o senhor que tinham, então as explosões não os assustavam, apenas se fossem diretamente para eles. Tanto explodiu e esbravejou que depois de tudo o que aconteceu com ele, ficou apenas com aqueles dois. Noah suspirou, estava na hora de acordar a fera. Caminhou pelos corredores do palácio e subiu até o quarto do amo, a grande porta de madeira o intimidou o suficiente para ele demorar alguns segundos para abri-la.

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