Capítulo dezoito

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Demorou alguns dias e noites, mas enfim estava acontecendo seu retorno. Percorrer por aquela trilha de terra depois de tudo o que aconteceu era como uma experiência nova de renascimento. A terra pisada e cheia de barro da tempestade, o cheiro de mata molhada, os barulhos dos grilos e cantar sombrio das corujas, os flashbacks da primeira vez que caminhou por aquele mesmo pedaço de terra reapareceram em sua mente. O medo, os lobos, a corrida, nada tinha forma apesar de tudo ser matéria de um mesmo lugar. Era um novo mundo, uma nova realidade. Nada mais era como daquela vez. Ele sabia e tinha motivos reais e consistentes do porquê estar correndo pela lama espessa da floresta, porque estar chorando e sorrindo, do porque reviver toda a dor das lembranças do passado. Era o amor. Ele pulsava forte em seu peito e clamava para que ele voltasse lá e que somente se jogasse nos braços de seu homem, de sua fera, de Black Hat. Ele queria ouvir mais daquela grave voz sussurando em seus ouvidos, o fazendo arrepiar e pensar nas coisas mais impuras possíveis.

E estava quase lá, o escuro da floresta não era incômodo, o caminho estava traçado e chama de seu amor quente e viva guiava seus passos até o destino final, a pilha de madeiras banhadas na bebida do pecado que irá consumir tudo em um fogo brilhante e intenso de dois amantes que já tiveram o suficiente do Karma e mereciam viver felizes para sempre. Desta vez seria tão especial quanto a primeira, por poderem se tocar como humanos libertos e livres de todo o peso da maldição. Kinille iria sentir Black Hat beija-lo, toca-lo, toma-lo para si de uma maneira tão íntima quanto quando era fera. Quando viu os portões e o castelo seu ar fugiu dos pulmões, seu coração pulsava firme e forte, queria pular do seu peito, sua pernas tremiam com a força do impacto contra o chão, mas a ansiedade e a adrenalina ingeriam seu interior de maneira intensa e incontrolável. E somente diminuiria quando ele pudesse encostar suas mãos pálidas e suaves no peito másculo e peludo do homem que amava.

As portas escancaradas fizeram ele reviver o momento que Black Hat se tornou novamente humano, as pilhas de corpos, e seus irmãos caídos no chão, mortos. Era uma sensação estranha e mista de tristeza, pavor, ódio, felicidade, paixão e alívio. O lugar estava silencioso e meio escurecido, as tochas apagadas ainda não tinham sido repostas e surpreendentemente todos os cadáveres tinham sido removidos, mas o salão ainda estava imundo de sangue seco para ser limpo, jaziam espalhados por aí armas, pedaços de roupas, cinzas, destruição de uma batalha intensa que reverberou até atingir quem nada a ver tinha. Desde aquela noite pavorosa, Black Hat não se deu ao trabalho de limpar absolutamente nada, queria que a coroa visse o que havia acontecido, já que tomaram aquela decisão apesar de tudo que tinha acontecido. Enfim, após os minutos analisando o local, Kinille subiu as escadarias sedento, indeciso se chamava, ou se vagava, ele conhecia a todos e ao castelo, como era tarde da noite, Noah e Demência estavam descansado. E provavelmente seria num momento como esse que ele e sua fera se reuniriam para ler poesias e tomar chá até o sono bater.

Ansioso e querendo logo que toda aquela tensão acabasse, ele virou os corredores e enfim, estava lá, frente a frente com a porta do quarto da fera. Se aproximou, bateu levemente, e ela abriu. Black Hat estava lá, sorriu abertamente e eles se encaram por longos momentos, provavelmente apreciando a visão um do outro, Kinille estava uma bagunça minimamente organizada, cabelos esvoaçados pela corrida, roupa amassada, o único par de calças desgastas e sujas que tinha e pés descalços, Black estava num estado melhor que ele, ainda sim desalinhado, seus cabelos estavam presos por um laço preto de veludo diferente de como sempre ficavam antes, calças vinho de um tecido grosso, uma blusa de babados branca meio velha e rasgada pelas traças, provavelmente cheirando a mofo, meio aberta exibindo seu peito másculo e cabeludo. O novilho agora que tinha reparado que ele persistiu com algumas características da antiga aparição demoníaca que era: Suas unhas estavam grandes e afiadas, o bom é que não eram animalescas e poderiam ser muito bem o resultado de muito tempo sem cortá-las, seus dentes caninos eram proeminentes, seus olhos pareciam brilhar no crepúsculo do local, entre o corredor iluminado e o quarto escuro e as orelhas estavam levemente pontudas. 

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⏰ Última atualização: Nov 25, 2020 ⏰

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