A manhã naquele pacífico dia desenrolou-se como todas as outras, neste hiato que aconteceu desde a fuga de Kinille e seu sumiço depois de reaparecer na casa dos Stultlus. O castelo acorda, comem e cada qual parte para suas atividades diárias, com pausas e as vezes, momentos de lazer e confraternização, pois a vida de confinamento era por si só triste, não precisariam tornar mais triste ainda. Ademais, não só no grande habitat da Fera e seu amante loiro, mas também na casa da família do tal, a tranquilidade reinava. Apesar dos ataques de ansiedade e nervos que o patriarca tinha durante a noite, seus pesadelos e o peso de perder dois filhos doía em sua alma e cobrava um preço alto de sua sanidade. Ele parou de sair, foi abatendo-se, parando de comer como antes, de beber, não saia da cama. Estava entrando em depressão. Mas, como tais tempos ainda desconheciam deste termo, achavam que o pai estava se deixando levar pelos malefícios da maldição do demônio que enlouqueceu o primogênito e sequestrou o caçula. Hector tentava convencer o pai que ele tinha de comer e se hidratar, ou morreria, mas nada adiantava. Kinille era o único remédio. E de toda forma, David não fazia bem a cabeça do velho homem, mesmo que Hugo amasse a todos com seu ser por completo. A briga entre eles fez-lhe um mal bocado.
A todo modo, apesar da saúde cada vez pior do velho Stultlus, a casa seguia numa harmonia só. Os irmãos revezavam-se para cuidar de tudo um pouco e ainda saiam para vender seus produtos. Conseguiram reformar toda a casa e mobilia-la um pouco mais, construir um celeiro e montar um cercado mais firme. Não havia mais esperanças que o louro retornasse e agora com a briga recente, eles decidiram somente seguir em frente. Já David permaneceu na ideia de capturar e arrancar a cabeça do gatuno endiabrado, pois depois de conversar com Baltazar e seus amigos, ele descobriu que o rei e a rainha sim pagariam-lhe muito bem pela captura do demônio. E isto encheu os olhos do moço de mais desejo por vingança, era culpa daquele rato de cabelos loiros que ele fora desherdado.
Era a noite quando reuniu-se para a grande invasão. Homens movidos pelo ódio e portando armas caseiras: facas, ancinhos, estacas de madeira afiadissimas, toras grossas e bastões com pregos, até mesmo garrafas de rum e cerveja cheias de pregos e pólvora. David, como o líder da seita, ditava o plano para relembra-los dos passos que tinham de ser minimamente calculados. Em tal hora noturna, a taberna estava fechada e não comportaria tamanha aglomeração de pessoas. Então, Balt ofereceu sua humilde casa, que era mais isolada e tinha um quintal grande o suficiente para que todos pudessem enxergar e ouvir o que tinha para ser dito.
– Temos ao todo 100 homens a nosso dispor, cavalheiros, e o local possui 4 entradas: Ala 1, que leva do jardim à cozinha, Ala 2, leva diretamente a entrada principal, Ala 3, entrada dos servos e por último, Ala 4, leva de um local de piquenique até a cozinha. Temos que concentrar-nos na entrada da Ala 2, pois é o centro do Palácio e acesso direto de todo seu interior. As outras entradas serviriam somente para fuga. Então, nas Alas 1, 3 e 4 quero 10 homens, e o resto, acompanha-me para a captura. Perguntas? — David desenhava com seu dedo jovial no papel onde estava o mapa, grudado na parede da casa de Baltazar, os outros seguiam curiosos e incertos de seu papel.
– Irá escolher tais guardas na hora? — Uma voz rouca da platéia questinou e o líder reteve-se a concordar com a cabeça.
– Algo mais? Não? Ótimo! Preparem as tochas, meus compadres, hoje a noite, o Inferno ganhará mais um demônio! — E os homens gritaram de êxtase e alegria, o desejo de guerra e sangue era nítido no olhar de todos ali.
Na mesma noite, em um outro lugar, poucos quilômetros de toda aquela algazarra, Hugo e Camille, que tornou-se sua maior companhia desde a ida de Kinille, liam um livro de poemas que ela havia comprado na feira. Descobriu haver uma pequenina biblioteca na outra cidade e não se conteve de emoção. Sua mãe havia ensinado todos os filhos a ler, ela era muito inteligente, mas só alguns pegaram gosto pela leitura, uma delas foi Camille. Seu pai também sabia ler, mas só tinham a bíblia em casa, até este momento. Os dois aproveitavam a luz do lampião, estavam quase acabando a história quando muitos pontos de luz começaram a surgir no horizonte. Ambos encararam e tentaram raciocinar do porquê, para onde e principalmente, para que todas aquelas luzes ambulantes estavam seguindo aquela direção? Qual era o seu objetivo?
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Paperhat: Beauty and Beast version
RomantiekA Família Stultus era a mais rica de toda a cidade de Humble, mas nem mesmo toda sua riqueza seria capaz de comprar um novo e próspero futuro, diferente do desgraçado que foi programado para eles. Mas é como dizem: "O que está ruim, ainda pode piora...