O rapaz trêmulo desceu desconcertado e pálido pelas escadas de granito do Palácio da fera, o cheiro forte e metálico ainda impregnava sua cabeça, fazendo-a dar voltas e mais voltas, viajando de volta a cena da carcaça destroçada e espalhada no chão do mesmo quarto em que entrou, subiu e adormeceu na cama destruída, de um predador que não poupa esforços para caçar e devorar até os ossos sua presa. Ele suava frio, ofegante, tonto, se apoiando na parede ele sentou-se bruscamente no piso, como se a comida que beslicou a tarde estivesse afim de voltar pela goela.
Dito e feito, mas nada passou de uma gorfada grande, que caiu pela janela em direção ao jardim. O loiro seguiu pelo salão do trono e voltou a cozinha, onde já estava praticamente tudo pronto e Noah, como um bom serviçal, apenas esperava o amo descer pelas escadas, mesmo que fosse nítido que estava devorando a cena com olhos e alma. Durante aquele dia exaustivo, eles mal comeram, apenas algumas frutas que levaram para beslicar durante o caminho. Kinille, mesmo exasperado pela cena grostesca que presenciou por alguns instantes, conseguiu notificar a todos que o amo ainda demoraria uns minutos para descer, o que trouxe um suspiro de alívio ao encapuzado.
- Ah, graças ao bom divino Deus . . - Ele sussurou e logo começou a servir-se , o que confundiu muito o pequeno.
- Achei que servíamo-nos somente quando o amo terminara de comer. - Mesmo o louro desejando aquela macia e suculenta carne de carneiro fumegante em sua boca, que salivava apenas de imaginar tal cenário, ele conteve-se esperando uma resposta e também o enjoo de carne passar mais.
- Demência contou-me que o senhorio foi caçar a tarde, ele achou que demoramos demasiadamente. Apenas nestes casos estamos livres para comer sem ele. - Servindo-se, ele começou a comer calmamente, soprando a fumaça dos pratos mais quentes, diferente de Demência, que atacou a comida como se fosse correr dali. - Estás palidissímo Kinille, deveria comer também. - Noah insistiu que o pequeno sentasse e comesse junto deles.
- Hu hu, parece que viu o que não queria . . ~ - A réptil foi assertiva em suas afirmações, fazendo o novilho estremecer. - O viu comer, certamente. Animalesco, não é? É comum não sentir-se bem as primeiras vezes, Noah chegou a provocar uma vez. - Ela não era como o mais velho, se ele era sutil e gentil, ela era escandalosa e abrupta, sem rodeios. - Vai acostumar-se.
- Se dizes . . - Kinille não permitiu-se aprofundar-se-a no assunto, deixando que o silêncio consumisse o local.
O que não durou muito, pois pouquíssimos momentos depois, o demônio abriu a porta e deparou-se com os empregados terminando de jantar, o que ele já havia feito, então apenas queria complementar seu lanche do período vespertino.
- S-senhor. - Noah pigarreou e sugeriu que levantaria. - Que bom que chegou, o que pretende comer por esta noite? - O demônio observou bem a mesa.
O carneiro parecia ser tão grande, foi servido em duas panelas grandes, com batatas, molho de carne e legumes, pães, sucos e surpreendeu-se ao ver o vinho intocado na mesa, mergulhado em um balde de gelo feito de ferro polido.
- Ponha-me tudo, ainda tenho fome. - Ele olhou bem para a garrafa, querendo ler o que estaria escrito. - Ainda tínhamos vinho? Por que não serviu-me deles antes? - Noah colocava bastante comida, porções de cada prato sobre a mesa, e servindo uma grande tijela de vinho para o demônio.
- N-na verdade, reabastecemos hoje, senhor. - A fera bufou e meneou com a cabeça, comer o deixava mais tranquilo e preguiçoso para brigar, porém não o deixava menos ranzinza.
Ele não bebia nem comia mais nas pratarias convencionais. As taças, logo nos primeiros meses de transformação, quebravam-se com o simples pressionar de sua mão - ou pata - gigantesca, então para aliviar seus constantes desejos por bebida alcoólica, o empregado servia-o em uma tijela - que antes comportava molho -, agora era praticamente onde colocava todo tipo de bebida. Os lacaios terminaram de comer e deixaram que seu senhor pudesse desfrutar de sua refeição como todos os dias, como um animal gutural, ele devorava toda aquela refeição. Com tudo guardado, devidamente limpo e enxugado, todos foram deitar-se em seus quartos. Demência foi fazer sua ronda noturna, mas logo postrou-se contra o trono e dormiu por ali mesmo.
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Paperhat: Beauty and Beast version
RomanceA Família Stultus era a mais rica de toda a cidade de Humble, mas nem mesmo toda sua riqueza seria capaz de comprar um novo e próspero futuro, diferente do desgraçado que foi programado para eles. Mas é como dizem: "O que está ruim, ainda pode piora...