Capítulo Nove: Em comum.

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Quando minha mãe ainda era apenas uma mãe normal, ela costumava dizer-me que não importava o tamanho da mentira, em algum momento ela acabaria ficando mil vezes maior e machucaria o dobro de pessoas. Durante toda a semana esse havia sido meu único pensamento.

Tudo havia começado a dar errado com Ester e Cloe no momento em que mamãe foi embora, ali havia sido o marco das mentiras, após aquele dia, mentir havia deixado de ser meu hobby para ser meu trabalho.

No entanto, por mais que eu soubesse como resolver parcialmente algumas questões, ainda havia outras que atormentavam meu sono. Como por exemplo, estar com Eike. Ele era tudo que eu havia sonhado e pedido, em parte, porém, estar ao lado dele havia deixado de ser algo bom para se tornar uma obrigação, e por mais que eu tentasse mudar as coisas, meu coração era teimoso e traidor demais para aceitar o que minha cabeça insiste em lhe mostrar ser o certo.

Respiro fundo e me indago quando foi o momento em que deixei de ser uma adolescente normal com problemas como faculdade, intrigas e discussões sobre quem usa o banheiro primeiro, para ser a adolescente que mente e guarda segredos, as trivialidades que muitos detestavam havia se tornado minha maior meta de vida.

Subo a calçada que da acesso a casa de Ester e suspiro apertando o interfone. Apesar das incontáveis vezes em que a loira havia insistido que eu deveria apenas ter a senha do portão que me daria acesso liberado sempre que eu viesse aqui, eu sentia em meu mais intimo que havia certos limites que deviam ser respeitados, e esse era um deles.

Javier, o segurança mais antigo da família, libera minha passagem, e pelos próximos três minutos eu me arrasto em direção a porta principal da imensa casa branca a minha frente. Cada passo é um pensamento que deixo guardado em reserva em um cantinho escondido de meu cérebro.

Olho à hora em meu relógio de pulso e confirmo que ainda está longe do fim do horário comercial, sendo assim, havia grandes chances de que Alexzander estivesse em algum lugar da cidade com Braylen  vendo possíveis locais para abrir uma nova loja dos cosméticos Ross, ao menos era isso que Ester havia mencionado alguns dias atrás, e era com fé nisso que eu havia aceitado seu convite de vim até sua casa.

Empurro a pesada porta de madeira e olho para o hall vazio, fecho a porta com cuidado e dou alguns passos em direção a cozinha, evito lembrar-me do dia em que andei por esse mesmo caminho sem a parte de cima de meu biquíni, o dia em que o conheci...

Sinto meu rosto e pescoço se esquentarem com a lembrança de seus olhos mel sob mim, a forma como havia me tocado, seu cheiro e a voz levemente rouca que me visitava em sonhos e pesadelos, cada pequeno maldito detalhe.

"Parece que alguém está tendo pensamentos perversos", diz Adele, parada em meio à cozinha com uma garrafa d'água em mãos.

Ela arqueia sua sobrancelha fina para mim e ri, mordo os lábios envergonhada e abaixo a cabeça dando mais alguns passos para o interior da casa.

"Não se sinta constrangida querida, se eu tivesse um namorado tão lindo quanto Eike também passaria um bocado de tempo pensando nele", diz piscando para mim.

Engulo em seco e meneio a cabeça concordando, aproximo-me dela e a abraço. Seu cheiro doce invade meu olfato e me traz conforto. Adele em parte era a razão pela qual eu simplesmente não conseguia perdoar minha mãe, pois sempre que eu a olhava e via a adoração em seus olhos ao ver Ester, eu me tornava incapaz de entender como um sonho de ser atriz podia ser maior que o amor de mamãe por mim e Sam.

"Estava com saudades", digo ainda a abraçando, Adele ri e aperta-me em seus braços finos, ela se afasta em seguida e beija minha testa, seus olhos verdes encaram-me com ternura e sinto a dor da saudade da minha própria mãe sumir aos poucos.

Love LiesOnde histórias criam vida. Descubra agora