Capítulo Oito: Sufocada

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A professora diz algo sobre termos que prestar mais atenção aos detalhes, ela risca alguma coisa no quadro e diz que a forma como temos feito está errada, eu olho para meu caderno e noto que a mesma folha que separei há trinta minutos para esta aula ainda esta em branco, eu não anotei nada.

Bufo irritada comigo mesma e me jogo de costas contra minha cadeira, olho para o meu lado direito e Ester mantém seus olhos castanhos atentos a cada detalhe da aula, totalmente fora de qualquer orbita que não tenha a ver com gramática e todos os seus incansáveis detalhes, a minha direita Cloe dorme sob seus livros fechados e sou incapaz de não rir baixinho pela baba que escorre de sua boca molhando parcialmente sua mesa. Uma foto agora não faria mal a ninguém.

Mas não! Não era para eu me sentir tão dispersa, não na minha aula favorita no ultimo tempo, não por causa dele.

Alexzander havia sido sincero sobre dizer que conseguiria dar o amor que as crianças precisavam, ele realmente fez isso, e agora cada pequeno pedaço do meu cérebro insistia em lembrar-me do quão bom ele havia sido com todos e em especial com Florence. Meu ponto fraco. Droga, ele havia me acertado mais uma vez!

Flor havia se mostrado distante dele e isso havia chamado sua atenção, digamos apenas que Alexzander não estava acostumado a ter bonitas garotas o rejeitando, palavras suas, não minhas. Ele havia sido incisivo de um jeito imbatível com ela, e no final do dia havia ganhado um aceno da mesma, muito mais do que varias outras voluntarias haviam conseguido em anos ali. Ele havia a acertado, e quem era eu para julgá-la?

Tudo poderia ter terminado bem ali se Sofie não tivesse o feito prometer que voltaria na próxima visita, e por mais improvável que poderia ser algo em seus olhos me diziam que sim, que ele voltaria, e a forma como Florence havia estreitado seus olhinhos claros para ele me dizia que talvez eu não fosse à única curiosa por ele.

A verdade é que vê-lo ali, em meio ao meu mundinho particular havia mexido comigo de um jeito diferente, de uma forma que eu ainda não havia sido capaz de entender, e depois, a forma como ele havia se colocado a disposição para ajudar o orfanato de forma monetária e dado atenção para todas as questões do local...havia apenas sido triste demais ver que um completo estranho estava tomando as dores do meu local quando meu namorado via meu tempo lá como algo mal gasto.

O mundo das comparações era terrível demais para se habitar.

"Olá? Alguém em casa?", diz Cloe rindo estralando os dedos em frente ao meu rosto.

Pisco assustada olhando-a e noto que todos já se levantam e caminham em direção a porta. A nossa frente à professora apaga o quadro, olho para minha folha em branca e suspiro. O que estava havendo comigo? Essa pessoa não sou eu.

"Tudo bem, eu anotei tudo", diz Ester ao meu lado ajeitando sua bolsa em seu ombro, olho para ela com o cenho franzido e meneio a cabeça em concordância. Sim, eu sabia que ela poderia fazer isso, mas a razão pela qual ela estaria fazendo era apenas errada demais.

"Vamos lá, eu quero ir embora dormir, não aguento mais", diz Cloe dando-nos as costas caminhando em direção a saída.

Levanto-me e jogo minhas coisas de qualquer jeito dentro de minha bolsa. Ao meu lado sei que Ester analisa cada movimento que faço, mas ao contrario de Cloe, sei que ela está longe de imaginar o que mantém minha mente perdida, e ao mesmo tempo que me sinto aliviada por isso, a culpa me corrói, pois sei que são os segredos que estragam as amizades, e perder minha amizade com Ester seria apenas muito para se suportar depois de tudo que passei.

"Você tem que encontrar Eike hoje?", indaga-me enquanto saímos da sala. Franzo o cenho, pois por um momento apenas não sou capaz de me lembrar se falei com meu namorado hoje.

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