A torcida gritava de forma insaciável, haviam ao menos cinco ou seis jogos pela frente, mas cada jogo era como se fosse o último para todos ali - exceto eu, talvez.
Da minha cadeira no centro consigo avistar Ester, ela se mantém de pé e de lado observando as jogadas do time adversário, ela rói a unha apreensiva e ao menos nota os demais a sua volta, volto meus olhos ao campo e identifico Eike pelo número escrito em sua camisa, ele estava impaciente e um tanto quanto agressivo, o treinador Cop já o havia chamado algumas vezes, ele sempre voltava calmo, porém era questão de segundos até ter que ser retirado do campo novamente, eu mantinha meus olhos atentos nele e tentava entender sua notória apreensão, mas a verdade é que desde a noite passada - quando Arnold havia enfim sido preso - não havíamos tido tempo para nós falarmos, estava tudo uma grande desordem.
"Ele não me parece bem", diz Sam aproximando-se de mim, do seu lado esquerdo Michelle mantinha-se sentada de pernas cruzadas atenta às jogadas.
"Sim, eu também não consigo entender o que houve, estive com ele apenas alguns minutos antes do jogo começar, ele me parecia bem", respondo-a sem olhá-la.
Volto em minha mente o momento em que me despedi de Eike em seu vestiário, ele estava sorridente, e apesar de desconfortável por conta da presença do treinador havíamos trocados palavras amenas, nada que justificasse seu comportamento estranho.
"Talvez seja apenas a pressão, esperam muito dele como capitão", diz Michelle. Olho para ela, mas seu rosto se mantém firme em direção ao campo, gritos explodem e a arquibancada vai à loucura, encaro o campo a procura de respostas e vejo que nosso time enfim marcou seu primeiro ponto após quase trinta minutos de jogo.
Respiro aliviada e ponho a mão sob meu coração, um ato impensado que me faz tocar no pingente do colar que Alex havia me dado há vinte e quatro horas. Alex! Fecho os olhos e aperto meus dedos em volta do pingente.
"Meu coração é seu Darla, e isso é o mais longe que posso ir, mas já que literalmente não posso dá-lo a você, tome-o de forma figurativa, e se lembre que mesmo não sendo perfeito, ainda assim sou seu."
Abro os olhos e pigarreio recordando-me onde estou e por quem estou, pressiono meus lábios e franzo o cenho, por que ainda era tão difícil apenas deixá-lo no passado quando era isso que ele queria? Eu apenas devia ser capaz de ignorar todas as milhares de perguntas que minha mente insistia em fazer-me.
"Vou comprar uma bebida, alguém quer algo?", indago colocando-me de pé. Sam franze o cenho e aponta em direção ao campo.
"Você vai acabar perdendo alguma parte importante", diz. Reviro os olhos e encaro Michelle, ela olha-me com seus olhos suaves, como se fosse capaz de enxergar meus mais valiosos segredos e isso causa-me certa ansiedade.
"Eu estou bem", diz Michelle desviando seus olhos até meu pingente, engulo em seco e dou as costas a ambas.
Desço os degraus da longa arquibancada devagar desviando-me das pessoas em pé ou sentadas, em meio ao caminho enfio o colar por dentro da camiseta de Eike.
Olho para o campo e tudo continua igual: eles correm, tentam pegar a bola, Eike faz algum movimento errado e eles voltam a perder a bola. Franzo o cenho e paro no último degrau da arquibancada, encaro meu namorado e o vejo mexer os ombros para trás tentando aliviar a tensão, ele passa as mãos pelo cabelo e olha em direção ao banco do treinador, Cop por outro lado parece pronto para explodir algo, ou melhor dizendo, alguém.
Suspiro e caminho em direção a pequena área de refeição montada logo na entrada que dá acesso às arquibancadas, aproximo-me vendo que a fila ao menos está muito longa, separo o dinheiro em meu bolso e posiciono-me atrás de uma mulher à espera da minha vez.
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Love Lies
RomanceEu sempre fui a certa, não a santa, pois até mesmo os santos erram, eu era apenas a melhor versão do que uma boa pessoa poderia ser, mas então eu o vi, e tudo nele gritava para que eu apenas desse as costas e continuasse seguindo meu caminho, mas er...