15. Anges et Démons

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Anjos são puros e teoricamente incorrompíveis.

Todavia

Anjos não são estúpidos.

&

Saint Suppapong não possui a estupidez como uma de suas características.

Ele já havia notado o esforço de mão única para manter a tradição começada há pouco mais de três meses.

Desde que ele e Mean Phiravich se conheceram na agência TROOP, eles usam um ao outro sem contratos nem laços. É cômodo. É constitucional. Mesmo entre homens, existem riscos de mal-entendidos. E em AiMean ele encontrou alguém em quem confiar. Apesar de desde sempre comentaram entre eles que não passaria disso.

Nem "isso ou aquilo" tem sido de grande proveito. Visto a atual conjuntura do trabalho de ambos.

Mean não tem frequentado a academia. Alegando não ter tempo. Supondo ser verdade, onde ele estaria mantendo a rotina de musculação?

Saint sabe que eliminando o local em comum, eles têm pouco ou nenhum combustível para partirem para sua atuação. Um malha, o outro olha. Um observa, outro malha. E nessa dança, o flerte é consumado na cama. Pra onde eles correm, terminam suas energias e relaxam os músculos.

Melhor dizendo, era assim que a dança era dançada.

E um dos dançarinos agora pede aposentadoria:

- Você concorda que isso pode prejudicar a gente com nossos casais na série, então?

Saint havia ligado e, entre comentários vazios, revela sua preocupação com os ghostshippers de MeanSaint. Que isso poderia afetar os shippes oficiais de cada um.

- Concordo. Mas precisa ser tão radical?

- As fãs veem muito além do que nós pensamos que evitamos mostrar. E ultimamente mal temos tempo, não é? Acho melhor se concentrar no projeto. Depois que terminar, a gente vê se continua rolando.

- Pode ser... Sim. Você tem razão. Então... Essa semana você já não vem mais?

- Você quer que eu vá?

- Só se você quiser.

Saint Suppapong reflete.

- Não irei. Assim está bem.

- Okay. A gente se vê no estúdio.

- Sim. Com certeza... Tchau.

- Tchau, Sup.

E assim um acordo de "foda fixa" é desfeito.

Saint Suppapong não é estúpido.

Saint Suppapong apenas sabe se valorizar.

(...)

"A aproximação do Demônio"

É assim que o exercício de química foi apelidado por Plan Rathavit e fez todos rirem.

Mean, Plan, Mark e Gun ameaçam seus pares. Um de cada vez.

Onde cada um empurra sem poder encostar, falando palavras de como "O quê?" "Por quê?" "Para quê?"

As perguntas não possuem nenhum sentido. O sentido está no tom que eles precisam usar. Eles precisam extrair medo de seu parceiro. Colocá-lo tenso e, assim, no limite, desenvolver o efeito desejado: transmitir que a aura dos dois é uma só.

O medo une as pessoas. Fortalecendo a confiança.

-O quê? Por quê? Pra quê?

Mean Phiravich avança intimando Plan Rathavit e o mais baixo recua para trás.

- Mais feroz.

New Siwaj pede. Mean Phiravich repete.

-O quê? Por quê? Pra quê?

- N'Mean, inverta as frases. Mais possessão. Mais ódio.

-Por quê? Pra quê? O quê?

Mean arregala os olhos ao máximo. Avança a cada pergunta causando passos de recuo de Plan. Que tenta mostrar a face amedrontada.

- Ele não está com medo de você. Ele não vai quebrar se você for mais firme. Ódio. Ameaça. Você tem que mostrar quem manda!

Mean já está com as orelhas doendo de ouvir tanto o diretor quanto a própria voz. Optando por usar o ódio real pela dor como personificação de seu "demônio para atormentar o anjo".

- O QUÊ?!

Passo à frente. Passo para trás.

- POR QUÊ?!

Plan sente o hálito de Mean bater e balançar sua franja. Com medo, recua para dar espaço para nova invasão.

- PA...RA QUÊ?!

Mean invade novamente o espaço.

Olhos, voz, seu demônio consegue fazer arrepiar os pelos da nuca do outro que engole em seco.

- Parabéns, Nong!

New Siwaj aplaude levemente.

Plan descansa a respiração e Mean ainda mantém o olhar fatal. Se afastando para o lado oposto. Ele pega uma garrafa e bebe água. Sua garganta em chamas.

- Quando estiverem prontos.

New sugere.

Em alguns momentos, Plan se sente pronto:

- Ok, krap.

Ele coça as têmporas e abre lentamente os olhos. Enquanto acompanha Mean se voltar para ele.

O mais alto treme um pouco para afastar a tensão.

Plan Rathavit chega rente a ele. Muito perto, porém sem tocar. Encara profundamente seus olhos miúdos e inicia o questionário:

- O quê?

Plan usa um tom mais para o deboche. Mostrando um pouco os dentes num sorriso maléfico.

- Por quê?

Ele aproxima. Outro recua. Desta vez é Mean quem tem feições de vítima.

- Para quê, hein?!

O algoz está a milímetros dos lábios do mártir Mean. Que lacrimeja os olhos d'água. Suas lágrimas são de cansaço e irritação.

Phiravich tem facilidade em chorar cenicamente. Mas nunca aconteceu com apenas um breve gatilho.

Plan usa isso a seu favor. Mantém as perguntas, a ameaça demoníaca e aos poucos, passo a passo, recuo a recuo, eles chegam à parede. Parando apenas quando as costas de um deles bate.

O diretor obviamente aplaude, seguido dos outros meninos sentados no chão.

Plan muda completamente. Agora volta a ser ele mesmo. Sorrindo orgulhoso pelo sucesso do exercício.

Mean também sorri. E ri mais pelo "o que e por que" do que pelo exercício.

Ele ri de nervoso. Mas disso ninguém sabe.

(...)

Felizmente esse intenso exercício de química foi o último da tarde. Ele passa no banheiro antes de ir embora.

E pelo por que, ele sabe o que.

Precisa usar a cabine apesar de ter apenas um xixi para fazer. Ação que será trabalhosa. Está tão duro que seu jato de urina acertaria a lâmpada. Então... A espera. Ele encosta-se à parede fria e espera aquilo passar. Alguns demônios são mais fortes que os de qualquer exercício de atores em sua arte cênica.

E esse está forte e reclamando alto. Ao "alto" e clamando.

(W.EngVer)MYIO: Era LBCOnde histórias criam vida. Descubra agora