22. Questão de Tempo

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Temos o suficiente aqui, pessoal!

(...)

Meus pés me levaram automaticamente para longe após Phi New anunciar que havíamos terminado.

Agora estou sentado à sombra de uma árvore. Não me despedi. Sou um grande imbecil mesmo. Estou terminando essa garrafa de água que já amornou. Que nojo. Deveria ter pegado outra na caixa de isopor. Mas tentei não chamar tanta atenção e a caixa estava em meio aos contra regras.

Que dia quente do inferno. Espero que a temperatura fique amena a partir de agora, início das filmagens.

Não sei a quanto tempo estou aqui. Acho que estou me distraindo com essa água, asquerosa descendo goela a baixo. Talvez eu precise me acostumar ao asco de mim mesmo pensando tanta merda sobre meu companheiro de trabalho.

Somos amigos, como ele fala. Estivemos um período afastados e temos sempre muito o que conversar e comentar amenidades.

Entretanto, quando o único som que ouço dele é sua respiração e seu riso rouco, eu juro que fico tonto. Eu quero interpretar o personagem. Só não queria me sentir possuído pelo ritmo de pulsação que me rasga.

Eu vou me acalmar e concentrar. Nem que seja a última coisa que me reste. Mesmo que esteja óbvio que ele tenta me seduzir, aquele sonso.

Fontes dessa afirmação: as vozes da minha cabeça. De ambas.

Vou ao banheiro e felizmente está vazio o corredor. Não quero que alguém me veja mal humorado.

Abro a porta e, puta que pariu!

- Sumiu, você.

Ele está de branco. Como se atreve a usar branco com os braços à mostra? Enquanto eu estou em brasas nesse uniforme social?

- Esteve me procurando?

Por que perguntei uma estupidez dessas?

Meus pés me levam.

Eu não posso contra os meus pés.

Que cheiro é esse?

Eu preciso cheirar essa combinação de suor e cheiro doce. Eu...

Ele fala alguma coisa, mas nem ouço. O puxo e ele é tão leve, tão...

- O q...

Calo sua boquinha. Ele quer isso. Ele merece isso. Prendo seus braços para impedir. Sei que acabei de falar que ele quer, mas o "seguro morreu de velho" e eu estou morrendo de uma sede que só consigo saciar ali. Tão úmida boca, tanto perfume. Eu estou louco. E ele tentar desvencilhar me deixa ainda mais louco.

Deslizo até o pescoço.

- Isso... isso é desumano... ai...

Ele sussurra num fio de voz ao sentir nossas protuberâncias roçando.

- Como você é capaz... seu...

Penso que ele vai reclamar. Ao invés disso. Ele aproveita que afrouxei o aperto por um segundo e leva suas mãos à gravata que uso. Puxa completamente desajeitado e enrosca seus dedos atrás da minha nuca.

Estou sem fôlego e sussurro frente sua boca.

- Me desculpa. Já tem sido demais. Eu não vou conseguir. Eu vou pular fora. Não vai ter modo de eu continuar. Eu...

- Cala essa boca, porra. Não começa!

- Ele vai me odiar para sempre. Nem quero pensar no contrato. Vou ter que vender minha alma pra pagar a multa.

Falo meio rindo meio chorando.

Ele abocanha minha boca fazendo estalos. Me beija com a mesma luxúria que eu. Roçamos mais um pouco até ele me soltar e falar sem voz alguma.

- Uma vez só, então. Isso vai te acalmar, não vai?

- Como? O quê?

- Não vou aguentar seu terrorismo. E ninguém vai pedir pra sair. Você fala como se não soubesse disso. Amanhã começam as filmagens. Que merda de chantagem essa sua?

- Mas você também quer, não quer?

Pergunto só para provocar. Mordo seu pescoço e novamente, bingo! Ele está completamente ereto comigo. A calça dele não é tão apertada quanto a que estou usando. Está "livre, leve e solto" rs. Do jeito que eu gosto. Excitação masculina é algo que adoro tanto. Se é a dele então... Estou tão feliz que poderia balançar a cauda. Mas antes... Uma pergunta importante:

- Você vai querer ser... Você vai deixar eu ser... Hm...

- Ai, tá bom. Porra! Que merda. Por mim, sim. Como vou dizer que não agora? Não tem outro jei...

(Calado por outro beijo. Eu amo a voz dele, mas não resisto em calá-lo.

E agora o sabor está ainda mais suculento. Quero ele agora mesmo e interromper o beijo me custa muito, porém...)

- Hoje? Vamos hoje?

- Não! Está perdendo o senso de responsabilidade? Hoje não.

- Quando então? Você vai na minha casa, não vai?

- De jeito nenhum!

- Mas você já foi. Sabe que estou morrendo de tesão por você desde aquela noite, não sabe?

- Mano, pára de me pedir confirmação a cada frase que você fala. É irritante!

- Desculpe, rs

(Novo beijo. Novo estalar de lábios).

- Me passa seu novo endereço?

- Eu passo. Mas eu que vou marcar.

- Claro, rs. Você precisa se "preparar".

Ele arrepia com a menção desse detalhe.

E eu sorrio pensando nele pesquisando como fazer isso. Avanço para outro beijo passional, mas ele me bloqueia.

- Chega! Tá pensando que tá onde? Numa novel BL?

Deixa-me sair daqui, homem...

- Ok. Vou deixar. Eu que não posso sair agora. Você poderia ser bonzinho e buscar minhas coisas para eu me trocar aqui?

- Não mesmo.

- Naaaa.

- Sai pra lá.

Ele arranca fora o corpo do meu aperto. Abre a porta da cabine e fala antes de sair.

- Você merece ficar aí "refletindo". Por ser tão...

Ele me olha de cima a baixo. Parando de forma provocativa e zombeteira na metade de mim, arqueada. - Desumano.

Ele vai até a pia e lava o rosto. Sai sem nem se secar. Ele foi embora mesmo então?

Ninguém é mais desumano que ele. Ninguém consegue ser assim e ainda manter o interesse de alguém como eu: um perfeito paspalho.

Bem...

Eu tenho alguns minutos "refletindo" aqui sozinho.

Pensando em coisas trágicas da humanidade. Para distrair o bixo da ideia fixa.

Se não fosse eu estar no trabalho, já teria batido umas 5 pelo menos. Eu nunca fiz isso na escola. Mas se lá estivesse, não teria vergonha de ser pego que me impediria.

Mas agora estou mais calmo. É questão de tempo. Tudo depende de um endereço e um

"Pode vir, homem"

(W.EngVer)MYIO: Era LBCOnde histórias criam vida. Descubra agora