CAPÍTULO 06

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Richmond, Virginia
Julho de 2007

Ella

— Isso é loucura. — o agente Jordan grita na minha cara, mas eu não
recuo sob sua voz áspera. Ele olha na direção do agente Bates, gesticulando
com a mão para fazer algo comigo.
O agente se vira para mim e nos olhamos por um tempo. Ele deve ver
minha teimosia, porque com um suspiro pesado, ele concorda.
— Ela precisa — ele diz como se soubesse o que estou passando, mas
duvido.
Para entender meu pesadelo, você teria que vivê-lo.
O agente Jordan aperta o botão na porta e nós entramos no salão da
prisão onde cada movimento ecoa pelo espaço cheio de energia perigosa.
Minha pele estoura em arrepios enquanto o oficial da prisão nos cumprimenta e nos leva para o longo corredor repleto de portas fechadas.
Ele nos leva mais para dentro, onde passamos por várias salas com
detentos.
A mão do agente Jordan no meu braço aperta quando ele me empurra
para frente, não me deixando afundar em desespero, medo e desgraça.
Depois de mais alguns passos, chegamos à sala de interrogatório vigiada e, com o apertar de outro botão, a porta se abre, enquanto mais dois policiais nós encontram lá.
— Ele já está dentro — diz um deles, ligando a tela. Minha respiração
engata quando vejo Ben pela primeira vez desde a minha formatura.
A sala tem apenas uma mesa de metal, juntamente com duas cadeiras com um espelho bilateral. Ele usa um macacão laranja. Seu cabelo normalmente longo está muito curto. Antecipação está escrita em todas as suas características. Seus dedos tamborilam impacientemente enquanto ele
balança as pernas, claramente mal contendo sua excitação.
— Ele está algemado à mesa, então não tem como chegar até você. No
entanto, estaremos aqui o tempo todo, e se ele tentar ou ficar de pé ou te
machucar, estaremos ao seu lado. — o agente Bates promete, enquanto
pressiona mais um botão para que as portas próximas a ele se abram.
Sua confiança faz pouco para me acalmar, mas eu não tenho mais
ninguém além de mim para culpar por esta situação.
Com medo, porém, vem a determinação. O pai de Chloe será executado em poucos dias, e eu não posso deixá-lo ir sem ter uma resposta para a minha pergunta.
Apenas a porra de uma pergunta, e ele pode apodrecer no inferno.
Respirando fundo, paro ali enquanto a atenção de Ben se concentra
imediatamente em mim e sua boca se abre em um largo sorriso.
Ele tenta se levantar, mas as correntes não o deixam, batendo contra o
metal enquanto ele as puxa com raiva.
Então ele se acalma, e fala, com admiração e alegria em sua voz:
— Ella.
Sentando em frente a ele, eu seguro seu olhar enquanto pensamentos
diferentes passam pela minha mente.
Eu tenho me preparado para essa reunião nos últimos dois meses,
repetindo isso em minha mente centenas de vezes, imaginando cuspir na cara dele e exigir respostas. Eu cortei todos da minha vida, até mesmo Chloe,que sofre sua própria dor. Este homem destruiu a minha vida e depois fingiu ser um bom rapaz, quando na verdade ele era o malvado.
Mas quando sentei aqui, eu não pude reunir um pingo de emoção, exceto
profundo arrependimento. E antes que eu possa me impedir, faço uma
pergunta que não me deixa dormir à noite e destrói minha alma todos os
dias.
— Por quê?
Ele franze a testa.
— Por que eu matei seus pais? — ele pergunta tão facilmente, tão
descuidadamente, apenas curioso. Como se estivéssemos discutindo o tempo ou as últimas fofocas. Um pequeno sorriso levanta o canto da sua boca,lembrando-me de Chloe quando algo lhe traz alegria. Como posso continuar sendo amiga dela? Ela compartilha o mesmo rosto com ele. Eu costumava ter inveja da conexão que ela tinha com o pai, seus acampamentos e jogos de futebol. Meu pai não me deixava brincar ou fazer qualquer coisa perigosa enquanto ele constantemente me falava sobre o futuro.
Como eu gostaria de ouvir sua voz irritante mais uma vez. Eu daria tudo
por isso.
— Isso me trouxe prazer — diz Ben, e isso me arrepia. Eu tento entender
do que ele está falando. — Minhas vítimas. Quando o pulso deles param uma vez que eu corto suas gargantas, o medo em seus olhos, e o poder que isso me traz. Eu não era apenas um pai ou um marido perdedor lá. Eu era o
maldito rei e a vida deles pertencia a mim.
A bile surge na minha garganta por causa de sua descrição, mas ele não
para. Seu olhar é distante, enquanto ele entra em transe, ignorando tudo,
exceto suas sensações.
Então isso me atinge.
Ele está revivendo tudo de novo.
— Mas as garotinhas... as garotinhas e seus gritos enquanto mostrava a
elas o quanto eu as amava, eram os melhores. Esses são os momentos pelo
qual valiam a pena viver.
Meus punhos apertam, mal me contendo de me jogar para ele e bater pra caralho nesse filho da puta doente.
Serial killer e pedófilo, eu o odeio. Tantas vidas destruídas porque ele
estava perseguindo alguém que nenhum de nós poderia entender.
— Você era a mais bela de todas — o quê? — Quando seus pais se mudaram para nossa vizinhança, você era tão bonita. Correndo em seu vestido amarelo com suas tranças escuras, uma criança descuidada de seis anos — ele lambe os lábios e quase geme, enquanto eu me afasto, como se me protegendo de suas palavras. — Eu não podia esperar para afundar minhas mãos em você e tirar sua inocência infantil. Mas seus pais sempre ficaram por perto, e eles se tornaram grandes amigos da minha esposa,então eu tive que recuar e encontrar outras pessoas — no minuto em que o significado de suas palavras se registra, eu suspiro em choque enquanto ele ri. — Matar todas as outras famílias? Eles satisfizeram meu desejo de matar.
Conquistando os dragões que me afastavam das princesas, eu os venci —esse homem está doente, o que mais pode explicar sua maneira fodida de
pensar? — Mas Sarah... ela era linda demais para resistir. Eu não pude
evitar — ele puxa suas correntes e grita de frustração quando elas não se
movem. — Ela me implorou para não fazer isso. Nada se compara aos
pequenos gritos e gemidos de uma menina pequena. Nada — ele afunda os dedos na mesa, os olhos brilhando.
Minha pobre irmãzinha, como poderíamos nunca ter visto essa insanidade bem debaixo de nossos narizes?
A morte é uma sentença muito fácil para ele. Ele merece apodrecer na
prisão por toda a vida. Mas mesmo assim, acho que ele nunca se
arrependeria de suas ações ou sentiria remorso.
Como é possível viver sem remorso? E quão bom manipulador você tem
que ser para viver em constante fraude, um lobo em pele de cordeiro?
Embora chamar esse pedaço de merda de lobo, um animal tão bonito, era um
insulto à própria criatura selvagem.
— Por quê? — eu repito a minha pergunta, e acrescento: — Por que você não me matou também?
Ele pisca em surpresa enquanto aguardo sua resposta, porque essa é a
única pergunta que me interessa.
Ele é tão arrogante e narcisista que achava que eu viria falar sobre ele ou
sobre os assassinatos. Mas, por mais que possa ser inútil para a polícia,
agentes ou outras famílias, não é para mim.
Eu só preciso saber por que me deixou viver neste mundo sozinha quando
ele levou meus entes queridos embora. Ele não foi tão cruel com as outras
famílias, mas eu tinha que ser a única vítima viva de todos os seus crimes.
Ele fica em silêncio e eu não aguento mais. Levanto e bato meu punho na
mesa, ignorando o tiro de dor que viaja dos meus dedos para o meu ombro.
— Porra, por quê? — eu grito em seu rosto enquanto ele apenas esfrega o
queixo.
— Eu estava em casa quando você voltou da festa com Chloe. Eu te ouvi
no chuveiro. Teria sido tão fácil ir e deslizar a faca sobre sua artéria. Sua
pele pálida é feita de sangue — uma gota de suor aparece em sua testa,
então eu bato minha mão para baixo novamente, não permitindo que entre
em algum tipo de nirvana que só ele entende. — Mas há algo sobre você,
Ella... traz mais prazer vê-la sofrer do que matá-la.
— Seu desgraçado! — eu grito, jogando a cadeira para a parede e
correndo em direção a ele, mas braços fortes me agarram por trás.
O agente Jordan me tranca em seu abraço enquanto ele late uma ordem.
— Tire-o daqui.
Soluços escapam da minha boca, enquanto eu choro pela vida que perdi por causa de uma mente doente e distorcida que achou que seria
interessante me ver sofrer.
Meus joelhos tremem e eu sento de volta, cobrindo meu rosto com minhas mãos enquanto meus ombros tremem de tant chorar e o desespero corre através de mim.
Embora eu tenha recebido a minha resposta, não me trouxe paz ou alívio.
Se alguma coisa, isso fez o meu sofrimento ainda maior.
Ele sai, mas não antes de voltar para mim com seu golpe final.
— Talvez se entendesse do que eu gosto, você poderia relacionar —depois disso, ele sai, mas suas palavras ecoam no meu cérebro.
Ninguém consegue entender monstros.
Ninguém pode explicar esse mal.
Ninguém pode justificá-los.
Mas há pessoas que podem prendê-los.

Psychopath's PreyOnde histórias criam vida. Descubra agora