Capítulo 2 Saudades, amor e proteção

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Estaciono na frente do apartamento de Débora, era um dos apartamentos mais luxuosos do Recife. Não era de se estranhar, afinal a minha namorada é uma patricinha, seus pais lhe dão tudo de bandeja na hora que ela bem quer. Isso me irritava, mas o que eu podia dizer? melhor ter pais pra lhe mimar do que ser um órfão. Desço do carro e caminho até a entrada do prédio.

-Bom dia Guilherme. -diz o porteiro para mim sorrindo

Sorriu para ele e logo entro no prédio. Passo pela recepção, me deparo com um homem e uma criança em uma das poltronas luxuosas. Eles estavam rindo enquanto assistiam algo no celular. Acho que nunca vi uma cena como aquela desde que meu pai se foi, por um momento fiquei com vontade de chorar pela lembrança. Pisquei duas vezes e segui o caminho até o elevador, aperto no botão para ir ao 16°andar. 

Depois de alguns minutos finalmente chego no andar de Débora. Bato na porta e a mesma aparece com um sorriso no rosto, deixando a mostra suas covinhas. Débora era fofa, mas era tão mimada. 

-Você veio! -ela diz quase se jogando em meus braços.
-Claro que vim, quando digo que vou fazer algo, realmente faço. Não se esqueça disso. -digo tocando a ponta do seu nariz com o indicador. Vejo suas bochechas corarem, ela coloca uma mecha castanha e ondulada atrás da orelha sem parar de sorrir. Ela da espaço para que eu possa entrar. 

-E seus pais? não estão? -pergunto 
-Não. Só estou eu e a Vanessa. 
-E onde ela esta?
-No quarto dormindo.

Dou de ombros e sento no sofá. Débora me olha com um olhar que eu já conhecia. Ela percebeu que hoje não era o meu dia, as lembranças dos meus pais não me deixam em paz, por mais que eu tente seguir em frente não consigo. Sabia que eu era um ótimo sobrinho, mas  não estava sendo um bom namorado tinha certeza de que não estava passando o tempo necessário com Débora, pensei que esse namoro fosse me afastar do passado, mas percebo que estava enganado não quero fazer ninguém sofrer por causa do meu sofrimento. E do jeito que Débora me olhou na quele momento, foi como se eu tivesse levado uma facada no peito. 

-Não me olhe com esse olhar de pena, Débora. Sabe que não gosto.
-É que eu fico preocupada com você. -diz juntando-se a mim no sofá -Guilherme você tem que esquecer o passado, viver o presente e pensar no futuro. E também... sinto sua falta.
-Eu sei me desculpe por isso, sei que sou um péssimo namorado pra você, mas eu tentarei mudar. Por nós dois. 

Débora sorrir largo e me abraça forte. Sabia que não iria conseguir cumprir essa promessa, sabia que o meu namoro não iria durar por muito tempo. Um órfão depressivo e uma patricinha mimada não iria dar certo nunca. Só estou esperando o tempo dizer por quanto tempo ficarei nessa situação. Débora merece um cara que tenha tempo para ela e que saiba ama-la de verdade e não eu. Por mais que ela ache que eu irei mudar, creio que não vou. 

Ficamos o resto do dia assistindo TV e comendo muitas guloseimas. Até que Vanessa aparece na sala vestida com um pijama rosa-claro e com uma cara de sono. Ela coçava os olhos enquanto caminhava em nossa direção. 

-Já acordou? -pergunta Débora a pegando no colo

Vanessa confirma com a cabeça ainda coçando os olhinhos. Ela lembrava a Débora, porém sendo mais nova, tinha os cabelos castanhos e ondulados, os olhos também castanhos, também era muito fofa e mimada. As únicas diferenças entre as irmãs era que os olhos de Vanessa são menores e ela era mais branca. 

Vanessa assim que conseguiu abrir os olhinhos, sorriu para mim, também sorri para ela e fiz carinho em seus cabelos. 

-Guilherme, vamos brincar? -pergunta Vanessa saindo impressionantemente do seu estado de sono.

Olho para Débora que ria daquela situação. -ok vamos. - digo sem hesitar e logo Vanessa sai do colo de Débora e me puxa para o seu quarto que sempre estava repleto dos melhores e mais caros brinquedos.

-Vamos brincar de que? -pergunto enquanto ela caminhava até uma caixa
-De montar os blocos. 

Após dizer isso, ela joga todos os blocos no chão. Logo estavamos sentados no chão brincando. No inicio achei estranho ela dizer que queria brincar com blocos, afinal ela tinha outros brinquedos muito mais divertidos, mas já que ela queria aquilo quem sou para questionar? sei que ela é muito mimada, então para evitar pirraça deixei pra lá e começei a brincar com ela. 

Eu não conseguia explicar o que sentia pela Vanessa, é incrível o que uma criança pode fazer com as pessoas mais velhas. Enquanto montava os blocos, ela sempre derrubava tudo de novo na tentativa de me irritar, mas estava fazendo o oposto eu estava gostando. Eu me sentia como se fosse o meu próprio pai, brincando comigo mesmo, mas em vez de blocos era com uma bola de futebol. Nos finais de semana sempre iriamos para a praia jogar. 

Bons tempos.

                                                                                      ***

Vanessa acabou dormindo de novo. Peguei-a no colo e a deitei na cama. Olhei para o relógio que estava no meu pulso, eram quase duas da tarde. Lembrei do que a minha tia havia me pedido. Saí do quarto, chego na sala e encontro Débora deitada no sofá quase dormindo, me aproximo dela e dou um selinho. Quando me afasto para ir embora, meu braço é segurado.

-Você já vai? -pergunta meio sonolenta
-Sim baby, prometi a minha tia chegar cedo em casa.
-Por favor Guilherme, fique comigo.
-Outro dia eu fico por mais tempo.
-Promete?
-Prometo.

Débora me puxa para um beijo. -Acabei de achar o remédio para os meus dias ruins-. Separamos por falta de ar. 

-Tchau baby, cuide de você mesmo e da Vanessa. Não precisa me acompanhar até a porta. fique onde esta.

Débora sorri e me retiro. Entro no elevador e aperto no botão para voltar ao T°. Passo pela recepção novamente, mas não achei aquele homem e o garotinho, então segui o meu caminho até o carro. Entro no mesmo e encaro o apartamento antes de dirigir até a rua.

 Enquanto dirigia meus pensamentos não me deixavam em paz, agora entendi porque a minha tia não gosta quando dirijo estando pensativo. Meu celular vibra, olho para a tela, alguém mandou uma mensagem. Aproveito que o sinal estava fechado e abro a mensagem para ler.

Guilherme, se você chegar e eu não estiver em casa não se preocupe, dei uma saída rápida, mas não demoro. bjs tia Margarete.

O sinal abre, coloco o celular no bolso e volto a dirigi. A tia Margarete sempre me dizia pra onde ia quando saia, mas desta vez ela não me contou nada. Estranho. Quando chegar em casa irei espera-la e perguntar para onde ela foi. Mesmo sendo seu sobrinho, sinto que é a minha responsabilidade de cuidar dela também. Já que foi a única a cuidar de mim. A família da minha mãe sempre foi distante não sei por qual motivo, meus avós por parte de pai moram em outro estado, portanto só me restou a irmã dele. Minha querida tia Margarete. 


O garoto LoiroOnde histórias criam vida. Descubra agora