Capítulo 3 Preciso de um tempo sozinho

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Chego em casa jogando-me no grande sofá, pego o meu celular e ligo para a tia Margarete, mas a mesma não atende. Tentei umas três vezes, mas sem sucesso. Jogo o celular para o lado e caminho até o armário de vidro, pego uma garrafa de uísque, encho o pequeno copo e me dirijo até o jardim já que era o único lugar da casa em que me sinto bem. Onde a minha mãe plantou suas rosas brancas, são tão lindas como ela era. Tento segurar as lágrimas.

-Guilherme!

Olho para trás e vejo a tia Margarete. Bebo de uma vez o uísque, sei que ela não gosta quando eu bebo. Vou até ela.

-De novo nesse jardim.
-Eu gosto muito dele tia. Eu me sinto bem aqui. Perto das rosas eu me sinto junto da mamãe.

Ela sorri docemente. -Vem, vamos entrar tenho algo para lhe falar.
-Algo? -pergunto frangindo as sobrancelhas
-Sim, venha por favor.

A sigo até o seu quarto, a mesma senta na cama e tem consigo um envelope. Sento-me junto dela e a olho serio e ao mesmo tempo preocupado.

-Antes da senhora me falar, onde estava?
-Foi sobre isso que chamei você querido. Eu não estava me sentindo bem esses dias, então fui ao médico, ele pediu alguns exames e fiz todos. No inicio pensei que fosse passageiro, mas não é...
-Tia o que aconteceu você esta me assustando...
-Guilherme, acho que nunca contei pra você. Quando eu tinha mais ou menos a sua idade, eu fumava bastante e por causa desse vicio gerou um câncer de pulmão.

Parece que o mundo caiu sobre mim naquele momento. Ela tira alguns papeis dentro do envelope e me entrega. Li linha por linha quase chorando, não acreditando no que estava acontecendo. Não estava conseguindo pensar em mais nada, não estava conseguindo falar nada. Eu não iria aguentar passar por essa dor de novo.

Saiu do quarto, indo em direção ao meu e tranco a porta. Caminho até a varanda e fecho os olhos, a suave brisa toca o meu rosto úmido. Procuro nos bolsos o meu celular, mas lembrei que deixei no sofá. Vou para o banheiro e tomo um banho morno. Visto uma cueca com uma blusa branca longa, tomo um remédio pra dormi e deito-me na cama encarando o teto. Passam cinco minutos e já estou ficando com sono, o medicamento esta fazendo efeito. Logo adormeço.

Acordo com o despertador, são 05h30 da manhã. Levanto meio tonto, e vou para o banheiro começar a me arrumar para ir ao colégio. Após me vestir, pego a mochila, desço as escadas e vou para a cozinha lá encontro a tia Margarete sentada na mesa tomando o seu café da manhã ainda de camisola.

-Bom dia tia. -falo desanimado
-Bom dia querido, eu fiz uma salada de frutas para você, esta na geladeira.

A mesma levanta e pega a tigela com as frutas picadas e a coloca sobre a mesa junto com uma colher. A mesma sorri e começa a conversar sobre coisas aleatórias, como se quisesse ignorar o fato de esta com uma doença terrível.

-Tia você não liga de esta com câncer?
-Por que me pergunta isso?
-Sei lá, esta agindo de forma tão normal.
-Ouça Guilherme, é claro que estou preocupada e vou iniciar o tratamento o mais rápido possível. Mas isso não quer dizer que eu tenha que agir como se já estivesse morta, ainda estou aqui com você e ainda quero viver mais um pouco para esta com você, e no dia que eu parti, estarei ao seu lado assim como os seus pais sempre estiveram por todos esses anos, eu nunca vou abandonar você. Meu sobrinho querido.

Não consegui segurar as lágrimas, a tia Margarete me abraça. Naquele momento eu me senti um bebê nos braços da mãe, como eu precisava disso um abraço forte, quente, aconchegante, amoroso, carinhoso e materno. Não queria solta-la, queria ficar ali com ela e esquecer de tudo.

-Pare de chorar -diz me soltando e enxugando o meu rosto -você é muito bonito pra esta chorando.

Dou um pequeno sorriso, sento na mesa e como a salada de frutas, logo vou para a escola, de ônibus não estava com cabeça para dirijir.

O garoto LoiroOnde histórias criam vida. Descubra agora