15 | Medo e culpa

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Monique Price

Eu estava em uma das mesas do refeitório, com meu caderno de anotações aberto logo à minha frente e um lápis dentre meus dedos

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Eu estava em uma das mesas do refeitório, com meu caderno de anotações aberto logo à minha frente e um lápis dentre meus dedos.

James havia faltado e Kate tinha deixado o intervalo mais cedo para procurar algum professor, portanto, aproveitava a curta solidão para dar uma adiantada em meus deveres.

Contudo, eu não parecia nem um pouco focada nas matérias das aulas. Ao invés disso, eu estava distraída em meus próprios pensamentos, e só fui me dar conta de que estava desenhando coraçõezinhos na beirada de uma das páginas alguns minutos depois.

Retirei a ponta do lápis contra a folha quase que imediatamente, assustada com os atos da minha inconsciência, e, após longos segundos, ainda não soube me decidir se deveria me sentir um pouco patética ou se deveria estar feliz por algo enfim ter fluído de meu cérebro, mesmo que fossem esboços simples e quase idiotas.

Por fim, apenas me limitei a ficar satisfeita por me sentir como uma adolescente ridiculamente normal. Fazia algum tempo que não me sentia leve, e eu estava determinada a não me sentir mal com o que — ou quem — tinha me levado a ficar assim. Também estava aliviada por minha mente estar dando sinal de vida acerca de ilustrações.

Quando o sinal bateu, coloquei meus materiais em minha mochila e me levantei para tomar rumo em direção à minha próxima aula.

Percebi que estava mesmo contente quando tive de me segurar para não saltitar no meio dos corredores, e, por um instante, perguntei-me se eu podia mesmo estar apaixonada. Não sabia muito bem qual era a sensação, mas imaginava que teria algo a ver com querer sorrir sem algum motivo visível ou sentir uma espécie de euforia interior estranhamente boa.

E, bem, eu achava que, dado os últimos acontecimentos dos últimos meses, aquele era meu ápice de bem-estar em algum tempo. Sentia-me genuinamente... viva. Muito. Mas isso até meus olhos se deparem com um rosto o qual não pensava há semanas.

Um desespero começou a corroer meus ossos outra vez a partir daí.

Paralisei no mesmo segundo em que localizei Luke ao lado de alguns armários enquanto conversava com alguns de seus amigos em um ato malditamente relaxado.

Não levei muitos segundos para perceber que meu estômago se encontrava embrulhado e que minha pele já havia começado a suar.

O garoto parecia bem. Havia uma pequena cicatriz em sua bochecha e uma tala sustentando seu braço; entretanto, não havia mais nenhum outro vestígio do que realmente havia acontecido no parque.

Senti-me mal por isso, por ele não sofrer as consequências que merecia. Ainda nem mesmo entendia como Luke podia sorrir ou agir como se não tivesse feito nada de mais, como se quase tivera feito algo que arruinaria minha vida para sempre.

De repente, tudo que eu havia feito tanto esforço para esquecer voltou à tona de uma só vez. Ainda sentia o gosto da amargura de quando acordei na cama de James sem ter ideia do que tinha acontecido com meu próprio corpo.

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