Capítulo 1

7.9K 575 82
                                    


Porque eu não comprei uma maldita casa de campo afastada de todo o mundo?

Essa pergunta ecoava na cabeça de Tiago enquanto ele dirigia para seu escritório. Estava morrendo de dor de cabeça e com um mau humor de matar qualquer um. Detestava acordar tão cedo, ainda mais quando a razão para isso era um despertador irritante que se repetia seguidas vezes até a sua vizinha folgada finalmente acordar e desliga-lo. 5h da manhã, quem acorda 5h da manhã?

Isso já estava passando dos limites. Nesse mundo existiam regras a serem cumpridas e ele já estava de saco cheio de ignorar isso. Iria hoje mesmo falar com o síndico, a semana de adaptação para a mudança já havia passado e era inadmissível haver tanto barulho altas horas da noite. Ele se sentia um chato carrancudo por isso, mas quem em sã consciência ouve Sia as 22h da noite? E faz suco no liquidificador as 5h da manhã?

Entrou em sua sala com cara de poucos amigos, algo raro para ele que adorava seu trabalho e todas as pessoas da sua equipe. Essa falta de sono estava o tirando do eixo.

- Tiago, posso entrar? – Carlos surgiu minutos depois com alguns papéis na mão. Ele era o vice diretor da empresa e um dos melhores amigos de Tiago, se conheceram na faculdade e juntos construíram tudo que têm hoje.

- Pode sim, eu precisava mesmo falar com você sobre o projeto daquele Hotel, eu deixei nas mãos do Renato, mas não tenho estado satisfeito com o atraso dos relatórios – ele expressou sua preocupação em relação ao arquiteto mais enrolado que eles tinham.

- Já falei o que penso sobre ele, por mim já estaria no olho da rua há um bom tempo, mas você quis dar outra chance.

- Eu sei, eu sei! Tenho sido muito bonzinho ultimamente. Acho que preciso ser mais como você, grosso e mal encarado – ele falou zombando do amigo.

- E sobra pra mim? Você precisava ver a cara de medo da Joana quando passei pela mesa dela, só faltou me desejar boa sorte para falar com você, o que tá acontecendo? Parece que você quer roubar meu posto de chato da empresa! – disse rindo.

- É a minha vizinha. Eu passei cinco anos com o apartamento ao lado fechado, pois o senhor que morava lá foi para um asilo, mas parece que ele faleceu e os filhos venderam o imóvel para essa criatura horrenda e intratável que só sabe me irritar! – ele desabafou.

- Nossa! Ela parece te irritar mesmo, nunca vi você falar de alguém assim, mas diga ai, ela é gostosa? – Carlos perguntou sorridente.

- Eu nunca vi o rosto dela, acho que ninguém nunca viu. Às vezes me pergunto se ela não é um fantasma me fazendo pagar os pecados em vida.

- Ual! Agora me senti falando com sua mãe – Carlos zombou do amigo – Se você me chamar para ir a igreja e dizer que preciso casar e ter filhos pra não morrer sozinho eu digo que você foi possuído.

- Pode mangar de mim. Qualquer dia desses eu morro de tanta raiva e você vai carregar isso tudo nas costas sozinho! – ele falou num tom sério, mas logo começou a rir com a imitação que fez da sua mãe – Falando nela, fiquei de passar na casa dos meus pais hoje, tenho uma sabatina marcada sobre namoro, casamento, filhos. O de sempre.

- Boa sorte! Eu agradeço sempre por minha mãe ter dez netos e suprir sua carência com eles assim me deixa em paz – ele disse aliviado – Bem, então vamos deixar sua vizinha maluca de lado e falar de negócios?

Deram início a uma mini reunião, atualizando e estabelecendo algumas mudanças nos projetos que eram necessários, além de escolher os últimos detalhes do restaurante de seus amigos que seria inaugurado em poucas semanas. A construção havia atrasado um pouco por causa do sequestro e acidente, mas depois que todos se acalmaram deram início a reforma e agora faltava apenas os toques finais para a grande inauguração.

De Repente Vizinhos - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora