Não Sei Como Voltar

Um

Há dois anos meus pais decidiram se mudar do Brasil para a cidade da minha mãe, Dover na Inglaterra. Não foi muito difícil me adaptar já que sempre passava as férias com os meus avós e já estava acostumada com o ritmo daquela cidade. Quando nos mudamos, fui a primeira a procurar emprego, o meu pai era arquiteto e a minha mãe tinha o plano de abrir um restaurante brasileiro. Depois de algumas tentativas falhas, eu consegui emprego em uma biblioteca pública na cidade vizinha.

Como de costume, meu pai me deu carona até uma rua próxima e eu segui a pé. Parei na frente da igreja que havia ao lado da biblioteca e olhei ao redor. Era uma área comercial e eu gostava de admirar a arquitetura do lugar, era bem antiga e a maior parte dos prédios era feita de tijolinhos vermelhos assim como a igreja e a própria biblioteca.

- Está perdida menina? - Alice parou ao meu lado.

- Não... só estava pensando em voltar para casa enquanto tinha chance - Brinquei.

- Serio? Você estava mais para uma maluca perdida.

- Bom dia, senhoritas - Disse o loiro sorridente assim que entramos.

- Bom dia, Tyler - Respondemos juntas.

- Ele sempre sorri mais quando fala com você - Alice reclamou baixinho.

- Não inventa paranoia Ali, eu acho que ele também gosta de você.

- É claro que ele prefere você, Laila. Quem não se apaixonaria por uma mulher como você?

Eu não concordava em nada com aquilo. Eu era uma mistura equilibrada dos meus pais; a minha mãe era negra, meu pai tinha a pele clara, minha mãe cacheada, meu pai tinha cabelo liso, ambos eram altos. E eu... bem, eu não era negra nem branca, tinha uma cor-de-nada que era o resultado da mistura da cor de pele deles. Meu cabelo era levemente ondulado e infelizmente eu não era tão alta quanto eles, era baixinha como a minha avó paterna. Pelo menos duas características eu tinha herdado de ambos, os olhos grandes, castanhos e o cabelo preto.

Alice, pelo contrário era linda, alta e magra, parecia uma modelo, os cabelos castanhos eram longos e ondulados, os olhos eram verdes e estava sempre com um lindo sorriso no rosto, além de um bom humor contagiante.

Tyler era muito bonito, alto, forte, cabelos loiros curtos e olhos castanhos. Os dois se davam muito bem, mas não tinham coragem de assumir que eram apaixonados.

- Deixa de besteira. Vou provar que ele gosta de você.

- Mas ele não tem cara de quem se apaixonaria por uma mulher mais velha - Fez cara de derrota.

- Você tem trinta e ele vinte e oito, não é uma diferença tão grande assim.

- Será que uma de vocês pode parar de fofocar e me dar uma força aqui? - Tyler abria uma das caixas que haviam chegado com novos livros para o acervo.