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Ouvir aquelas palavras foi como tentar andar sobre uma nuvem, como se o meu corpo não me pertencesse mais

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Ouvir aquelas palavras foi como tentar andar sobre uma nuvem, como se o meu corpo não me pertencesse mais. Não sei qual foi a expressão de Laila naquele momento, pois não tive coragem de olhar para ela, mas eu tinha absoluta certeza de que eu faria de tudo para não perdê-la e não permitiria que as palavras de Sarah a afetassem.

Quando finalmente reuni coragem para lançar um olhar rápido em sua direção, me deparei com uma expressão de indiferença. Ela estava visivelmente magoada e tentava não demonstrar isso.

- Como pode ter tanta certeza de que vamos nos casar - comecei -, se eu sequer a pedi em casamento?

- O Sr. Thomas e eu sabemos que você está apenas esperando o momento certo.

- Não tenha tanta certeza, Srta. Thompson - Ela riu sem humor - Mas afinal, conte me, como se conheceram?

Laila finalmente voltou a falar:

- Aquela senhora simpática que você me apresentou no baile... Sra. Lawford? Ela fez a gentileza de nos apresentar.

- Quando a Srta. Greenwood disse que era sua prima - Sarah comentou -, sinceramente não pude acreditar. Você nunca falou sobre ela.

- Creio que... - Laila começou antes de mim - Creio que ele nunca havia comentado por motivos familiares.

Eu havia dito a Laila que ela se passaria por uma prima eu não via há muito tempo, filha de uma irmã da minha mãe. Minha tia não entra em contato com a família desde o falecimento da minha mãe, por isso, mesmo ela vindo para a minha casa, não correríamos nenhum risco de sermos descobertos. Por coincidência, o nome da minha prima também era Laila. E eu torcia para que esta Laila se lembrasse de toda a história que eu contei.

- Posso saber que motivos são esses? - Sarah parecia irritada.

- Bem, a minha mãe se casou ainda muito jovem com meu pai, Sr. Greenwood. Depois que eu nasci, as famílias ainda eram muito próximas; eu me lembro que tia Louisa e tio Edward sempre nos visitavam quando morávamos em Londres, mas quando a minha mãe contou à tia Louisa que nos mudaríamos para Bath, cidade onde meu pai nasceu, ela ficou tão triste que tentou de todas as formas convencer meus pais a desistirem. Por fim, quando nos mudamos tia Louisa já estava grávida e pouco tempo depois do parto ela faleceu, como deve saber, então as duas famílias se afastaram.

Ela se lembrou de tudo.

- Você tem tantos primos e tios, Srta. Greenwood. Por que decidiu visitar Henry? - Sarah nos pegou desprevenidos.

Laila olhou para o chão.

- Porque - voltou a encarar Sarah -, ele é um primo muito querido para mim, desde a infância. Procuro uma forma de encontra-lo há alguns anos, mas nada que tentei foi bem-sucedido e a minha mãe se recusava a me falar o nome ou a direção da residência da família Thomas.

- E como o encontrou, afinal?

- Durante uma viajem para Lyme, conheci um jovem muito simpático, Sr. Cohen, que em uma conversa, por acaso citou o Sr. Thomas. Ele me informou sua direção e eu lhe enviei uma carta com as minhas sinceras desculpas, então Henry me convidou para passar um tempo em Greenway Park e eu não hesitei em aceitar.

Sarah pareceu momentaneamente satisfeita com a resposta, então mudei de assunto, perguntando sobre o real motivo da volta repentina do meu pai. Apesar de insistir em falar que eles acertariam tudo para o suposto casamento, ela logo desistiu e passou a conversar com Laila em um tom mais amigável sobre coisas triviais como vestidos e acessórios que estavam na moda. Felizmente, Mary sempre conversava sobre moda com ela.

Algumas horas depois, apesar dos insistentes pedidos da dama ao meu lado para que Sarah ficasse um pouco mais, ela se despediu de nós, alegando que receberia uma amiga para o jantar daquele dia.

Acompanhamos Sarah até a entrada da casa e assistimos a carruagem se distanciar pelo caminho de cascalho, para fora da propriedade. Quando a carruagem estava há alguns metros de nós, Laila suspirou longamente se curvando para frente.

- Você não pode se casar com essa mulher - Laila disse me encarando com visível irritação.

Eu segurei uma risada.

- Você poderia me dar um bom motivo para que eu não me case com ela?

- Ela é uma bruxa! - Gritou - Quando nos conhecemos, eu achei que fosse só uma impressão ruim, mas agora eu tenho certeza... ela é uma cobra! Ai, que ódio. Ainda bem que vocês me ensinaram a ser uma dama, caso contrário, eu mandaria ela embora daqui, mesmo a casa não sendo minha.

Dessa vez não consegui controlar e desatei a rir. Ela me olhava curiosa enquanto eu me curvava para a frente em um movimento ridículo, mas era impossível parar de rir quando eu imaginava Laila perdendo a sua pouca paciência com a "minha futura esposa".

Quando consegui parar de rir, Laila já estava sentada em um dos degraus, melancólica e irritada. Me sentei ao seu lado, ainda ofegante.

- Não vai me perguntar o motivo de tanta graça? - Brinquei.

- Não mesmo - Ela abriu um pequeno sorriso.

Ficamos sentados em silencio por alguns minutos, olhando para o jardim e para o bosque distante.

- Você foi muito bem na sua explicação. Foi muito convincente - elogiei.

- Graças a você e Mary.

- Pensando bem, nós fizemos um bom trabalho. Mas você não aprendeu tudo isso apenas nas poucas aulas com Mary.

- Eu leio bastante, aprendi muitas coisas nos livros.

Encaramos o jardim novamente e depois de um breve silêncio ela mudou de assunto:

- Você sabe que não me sinto à vontade aqui na sua casa, não é?

- Talvez eu tenha percebido...

- Eu sei como resolver isso. Mary me ofereceu a casa dela, mas ainda seria estranho morar lá, então... - Fez uma pausa - Eu vou trabalhar aqui em troca de comida e moradia. Sei que já falei isso quando cheguei, mas, aceite dessa vez, por favor.

Ela me olhava com expectativa.

- Isso não vai acontecer - respondi sem acreditar que ela ainda não percebia o quanto era especial para mim. - Laila, como eu já disse, você não pode ser uma criada na minha casa.

- Por que não?

- Porque eu não aceitaria que você fosse nada menos do que a senhora desta casa. E para isso acontecer, basta você dizer "sim".

Ela estava tão confusa e surpresa que mal conseguia falar.

- Você está...? - Disse, cutucando o próprio dedo com a unha.

- Sim. Estou te pedindo em casamento.

Não Sei Como VoltarOnde histórias criam vida. Descubra agora