Laila é uma jovem brasileira que se mudou para a Inglaterra com os pais, vivia uma vida solitária, mas normal. Contudo algo inesperado acontece... Henry, um inglês abastado, acostumado com a solidão tem uma bela surpresa em sua triste vida.
Direit...
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Eu a observei servir o próprio chá, estava estranhamente calada e desde que conversamos sobre o desconforto dela na minha casa, as únicas frases que disse foram "que bolo delicioso" e "eu gosto do café da manhã na sua casa". Ela levou a xícara a boca e deu uma pequena mordida em um dos pães.
– Não vai comer? – O vento balançava seus cabelos sob o chapéu enquanto me olhava com ternura.
– Sim – Despertei – Claro.
– Você está distraído – Exclamou me servindo uma xicara de chá – No que está pensando?
– Não é educado perguntar algo tão pessoal – Ela pareceu constrangida; sorri – Estava me perguntando... que tipo de pensamento a deixaria quieta dessa forma?
– Que falta de educação – Disse sorrindo – Na verdade eu estava apenas admirando a sua escolha.
– Eu poderia saber que escolha eu fiz que foi capaz de deixá-la calada? – Brinquei fazendo-a rir abertamente.
– Você escolheu um lugar lindo.
– Este é certamente o lugar mais lindo em toda a minha propriedade.
– Até onde vai a sua propriedade?
– Até o fim daquele outro bosque – Apontei para o bosque que ficava depois da área gramada a nossa frente.
– É bem grande – Ela ainda olhava na direção em que apontei.
– Como é a sua casa, senhorita Laila?
Voltou a me olhar.
– A minha casa deve ser do tamanho da sua sala.
Não consegui conter o riso.
– Para de rir – Disse seriamente – Estou falando sério. Onde eu moro as casas não são grandes como a sua, geralmente têm dois ou três quartos, não tem jardim e são muito próximas umas das outras.
Continuei em silêncio, ela prosseguiu:
– A minha casa tem três quartos, um dos meus pais, um meu e um fica vazio para quando chega visita. Tem uma sala, a cozinha e dois banheiros.
– Os seus pais dormem juntos?
Uma expressão de dúvida surgiu em seu rosto.
– Aqui os casais dormem em quartos diferentes – Expliquei.
– O mundo mudou bastante.
– Creio que sim.
Terminamos o café da manhã e decidimos voltar para casa, e apesar do frio que sentíamos, andávamos a passos lentos, puxando os cavalos em silêncio. Sempre que eu me oferecia para ajudá-la a atravessar alguma parte mais íngreme e escorregadia em meio a folhas caídas, ela recusava com um sorriso doce e eu me sentia estranhamente triste por ela não me permitir tocá-la como fizera na noite anterior. Dançar com ela e até mesmo abraçá-la me possibilitou vivenciar sentimentos nunca antes provados por mim; sentimentos estes que pareciam passageiros e insignificantes, entretanto, mesmo após algumas horas de profundo sono, permaneciam em mim.
– O que vai fazer esta tarde? – Ela disse, dando fim ao silencio.
– Pretendo cavalgar.
– Posso ir com você? – Finalmente tínhamos chegado ao jardim.
– A senhorita deve estar cansada, mas se quiser pode ir sim. Assim poderá conhecer toda a vila.
Ela parou e se virou de frente para mim.
– É impressão minha ou você está mais gentil depois que voltou de Londres? – Perguntou tentando não deixar a hesitação em sua voz transparecer.
– Voltar a ver o meu pai depois de alguns meses me fez ter ainda mais convicção de que eu não quero ser como ele – Respondi olhando em seus olhos.
– Então antes você estava agindo como o seu pai?
– Não! Ele é muito pior do que eu poderia ser. O meu pai afasta todas as pessoas da vida dele, inclusive a mim. A forma como eu a tratei quando chegou aqui te faria me odiar depois de um tempo e eu não quero que isso aconteça.
– Por que não? – Ela era realmente muito curiosa.
– Em dois anos você foi a única pessoa desconhecida a entrar na minha casa. Apesar de ser estranha, você alegra o lugar.
Ela sorriu e abaixou a cabeça timidamente, como fazia no baile quando estava com Richard. Me lembrar daquilo fez meu peito doer. Naquele momento eu percebi que não queria perdê-la.
Me aproximei devagar com o coração acelerado, toquei seu rosto tentando parecer calmo. Ela ergueu a cabeça até seus olhos encontrar os meus e assim que tomei um pouco de coragem comecei:
– Eu não sei como você veio para cá e nem como fará para voltar para casa... Eu estou sendo muito egoísta por desejar algo assim, mas eu espero que não encontre uma forma de voltar. Este lugar não será o mesmo sem você. Eu não serei o mesmo.
Eu notei sua timidez assim que as últimas palavras saíram da minha boca, ela olhou para a grama, perdida, como se pensasse em uma resposta. Em nenhum momento ela tentou fugir do meu toque, e eu não a culparia se o fizesse, aquela declaração foi precipitada.
Pigarreei e tirei a minha mão do seu rosto.
– Perdoe-me, Laila, eu... não precisa responder, eu não tive a intenção de desconcertá-la.
Encarou-me, ainda constrangida e segurou delicadamente o meu paletó azul. Fiquei paralisado ao ver sua aproximação e senti um frio percorrer todo o meu corpo ao sentir seus braços frágeis envolvendo minha cintura em um abraço tímido.
– Você sabe que eu gosto quando me chama de 'senhorita' – Ela disse com a bochecha colada no meu peito.
– Então, a senhorita não vai me repreender pela minha declaração egoísta?
– Não – ela disse com a voz fraca, se afastando – Não é tão egoísta. Foi bonitinho, mas você sabe que não posso prometer que vou ficar. Eu tenho a minha vida, minha família e por mais que eu goste daqui eu tenho que voltar.
Ouvir aquelas palavras fez a pouca esperança em mim desaparecer.