Thomas Kitt conseguiu, a muito custo, convencer seus colegas a ajudá-lo naquela situação.
Os médico-legistas garantiram a Lawrence que qualquer avanço no estudo do corpo seria informado. Conforme Lawrence imaginava, as linhas de frente da investigação se referiam a buscar anúncios de mulheres desaparecidas espalhados pela cidade e posteriormente criar os próprios anúncios. Era o que podiam fazer no momento. Caso não encontrassem vítimas compatíveis e nenhum conhecido entrasse em contato, passariam a outros métodos de identificação, como o exame de DNA, análise de arcada dentária ou a necropapiloscopia.
Lawrence não fazia a menor ideia do que essa última palavra significava, mas estava feliz por aprender mais sobre o mundo da investigação criminal.
Ele desejava ajudar de algum modo com aquela tarefa e era por isso que se encontrava em casa, diante de várias folhas de papel.
O detetive terminou de analisar os relatos de desaparecimentos daquela região na última semana. Havia nada menos que trinta e dois relatos — talvez mais, Lawrence havia perdido a conta. Todos estavam acompanhados de um número de contato e alguns informavam também o endereço.
Alguns instantes analisando o rosto das vítimas e descartaram-se mais da metade das possibilidades, por claras diferenças de gênero, cor de pele e cabelo. Restavam, assim, oito possíveis vítimas, o que não era um número muito grande, mas que ainda assim desanimava o detetive. Havia a chance de o corpo pertencer a alguém que não se encontrava na lista de desaparecidos, e, ainda que a mulher esfaqueada fosse uma das oito, o passo entre possível vítima e vítima era gigantesco.
Mas, como dito alguns parágrafos atrás e repetido agora, era tudo o que ele poderia fazer naquele momento.
Linda Barden, no entanto, parecia não compreender os dilemas da vida policial.
— De quem é aquele corpo, senhor Knopp?
A voz fina da mulher se tornava ainda mais cômica quando ela gritava, o que não tinha graça alguma.
— Estamos trabalhando nisso, senhorita.
Tudo o que o detetive desejava naquele momento era desligar o telefone e voltar a suas tarefas, mas a boa educação o impedia de fazê-lo.
— Mas já faz dois dias que o procurei! Senhor Knopp, havia uma pessoa esfaqueada em minha casa. Eu preciso saber quem era.
"Como se eu não precisasse", Lawrence resmungou com seu próprio cérebro.
"Ela está aflita", o cérebro respondeu. "Dê um desconto a ela."
"Isso não lhe dá o direito de exigir de mim o que não está ao meu alcance."
"Se continuar agindo assim vai espantar seus futuros clientes."
"Pare de reclamar!"
"Pare você!"
E, encerrando aquele papo cabeça, ele voltou suas atenções para a mulher, que exclamava algo do outro lado da linha.
— ... medo... preciso... nome... casa... senhor... Lawrence... você... está... me... escutando?...
Foram as palavras que o detetive conseguiu captar, embora não encontrasse uma sequência lógica para elas.
— Fique tranquila, senhorita Barden — ele falou, calando a mulher. — Estamos avançando com as investigações. Em breve tudo será esclarecido.
Linda prosseguiu com as exclamações. Lawrence revirou os olhos. A boa educação já não era prioridade.
— Thomas, espere aí — gritou ele, olhando para a porta fechada de sua casa por onde Thomas Kitt não estava passando. — Linda, eu preciso desligar. Thomas, espere, preciso falar com você!
E desligou.
"Será que ela acreditou em mim?", ele se perguntou.
"É claro que não", respondeu o cérebro. "O que foi aquilo? Podia ter inventado uma desculpa melhor."
"Você sabe que eu sou um ótimo ator."
"Ela só precisava de dois neurônios pra perceber que você estava mentindo."
Lawrence decidiu ignorar seu cérebro. Sabia que o número de neurônios de Linda não era tão grande assim.
Ele não levava muita confiança em seu método de investigação, ainda que fosse a única opção possível. Para falar a verdade, a tarefa de identificar a morta entre as desaparecidas seria tão segura quanto bater de porta em porta perguntando aos moradores se alguém ali havia sido esfaqueado — isso supondo que a vítima não morava sozinha. Eram grandes as chances de o corpo esfaqueado não ser de nenhuma das oito, e, nessa situação, Lawrence não teria muito o que fazer para ajudar na investigação.
Só lhe restava torcer para encontrar alguém compatível entre os anúncios.
• • •
A última das oito desaparecidas foi riscada da lista.
Ainda que todas as mulheres se assemelhassem à morta, havia fortes discrepâncias em relação à altura e massa corporal. Houve certas dúvidas quando chegaram à quinta pessoa da lista, mas esta foi descartada pouco tempo depois devido à coloração dos olhos.
Lawrence estava desgostoso, mas havia feito tudo o que era possível. A vítima era alguém cuja existência nenhum dos investigadores tinha conhecimento, pois não se encontrava no registro de denúncias e ninguém havia comparecido à delegacia para prestar queixa, mesmo tendo se passado dois dias. Se a morta ao menos tivesse alguma característica marcante, como uma tatuagem... No entanto, ao que tudo indicava, o corpo pertencia a alguém cuja ausência não fora percebida — ou não havia recebido sua devida importância. Talvez a pessoa morasse sozinha, ou talvez os seus familiares tivessem decidido não colocar o anúncio de desaparecido, por algum motivo. Este era um dos casos em que o sucesso não dependia apenas da polícia, mas também dos parentes e amigos da vítima, o que complicava muito a situação.
Os outros métodos de investigação eram mais eficazes, mas poderiam levar bastante tempo até descobrir a identidade da vítima, e, se havia algo que Lawrence odiava, esse algo era esperar. Havia ainda a possibilidade de não haver registro do DNA da vítima, o que representaria um desperdício de tempo e dinheiro. E ele ainda não sabia o que era necropapiloscopia.
O detetive suspirou e enterrou o rosto em suas mãos. De quem diabos era aquele corpo?
— Estou do seu lado — ele murmurou, como se a vítima, onde quer que estivesse, pudesse escutá-lo. — Me ajude a te ajudar.
Lawrence não recebeu resposta.
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Morreu, mas Passa Bem - Série Law
Mystery / ThrillerQuando Linda Barden é encontrada morta no quintal de sua casa, com uma enorme faca ensanguentada e um ferimento profundo em seu pescoço, sua irmã Marie não teve outra reação a não ser voltar correndo para sua própria casa e avisar sua família. No en...