Capítulo IX - Uma ideia estúpida

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 — Você sempre cuidava da casa de sua irmã quando ela viajava?

O detetive esperava não manchar a primeira impressão que Marie teria dele da mesma forma que fez com Linda — embora, nesse segundo caso, a impressão não fosse a primeira, e sim a segunda ou terceira. Por isso, lutou para manter a calma desta vez, o que não se revelou uma tarefa complicada. Ele não tinha motivos para odiar aquela mulher.

— Sim — respondeu a bibliotecária, com sua cara de bibliotecária habitual. — Eu costumava alimentar Bessie quando ela ainda estava viva. Bessie era o nome da gata de Linda — explicou. — Agora que ela morreu, me ofereço para cuidar do quintal e de algumas outras coisas da casa porque Linda vive se esquecendo.

— Tipo o quê?

— Varrer o chão — respondeu, sem hesitar, com uma pequena raiva contida. Lawrence se lembrou dos comentários de Marie a respeito dos hábitos de limpeza da irmã, quando visitou a cena do crime com ela. A impressão que ficou foi que aquele assunto era motivo de várias discussões na família, e ele decidiu não se meter nos conflitos internos dos Barden.

— Ela viajava com muita frequência?

— Não tanta — respondeu. — A cada uns quatro meses, talvez, sem contar os passeios em família.

— E vocês passeavam com muita frequência?

— Não tanta. A cada uns quatro meses, talvez.

Aquilo não estava levando a lugar algum.

— Você conhecia Anastasia Quint?

— Não.

O sinal de reconhecimento que Lawrence vira no rosto de Linda se repetiu no da irmã, embora com menor intensidade. A impressão que ficava era a de que Marie não tinha ideia de quem era aquela mulher, mas que aquele nome lhe remetia a algo.

Ele não iria deixar isso para lá da mesma forma que fez com Linda.

— Tem certeza? — insistiu ele. — O nome não lhe é familiar?

Marie engoliu em seco.

— Pode ser que eu tenha ouvido esse nome antes — admitiu. — De fato, me parece um tanto familiar.

— Se lembra de onde o conhece?

Mas Marie fez que não.

— Eu me lembraria se conhecesse alguma Anastasia.

"Bom, já é alguma coisa", pensou o detetive. Aquele nome fazia a mulher se lembrar de alguma coisa, embora ela não soubesse exatamente o quê, assim como Linda. Talvez, como Marie dissera, ela não conhecesse Anastasia, mas de alguma forma tinham ouvido falar dela. Isso, é claro, se não tivesse mentido, mas Lawrence não percebeu nenhum indício disso em suas expressões faciais.

— Marie — disse ele, criando um vocativo desnecessário, já que só os dois estavam presentes naquela sala. — Você me disse que voltou correndo para cá assim que viu o corpo.

— Na verdade, eu vim de carro.

— Foi uma expressão! — Ele suspirou. Bibliotecárias... Se ele bem se recordava, ela própria havia usado este verbo uma ou duas vezes para se referir ao modo como saiu de lá. — Poderia me contar tudo o que aconteceu assim que você deixou a casa?

Ela tentou se lembrar. Não era tão simples, afinal já havia se passado mais de uma semana. Para sua sorte, também não era tão complexo, pois não havia acontecido tanta coisa assim.

— Bem... Eu voltei correndo para cá — contou, sem perceber que havia caído no mesmo erro pelo qual corrigiu Lawrence. — Tentei encontrar alguma explicação para o que tinha visto. Para mim, estava claro que era Linda, ou ao menos estava claro que deveria ser ela. Mesmo assim, me obriguei a me acalmar e continuei dirigindo.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora