Capítulo VI - Descobrimos! Finalmente!

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Os dias que se passaram foram de uma monotonia deveras incomum na vida do detetive.

Havia pouco a se fazer até descobrirem a identidade da morta, e, na ausência de possíveis vítimas, Lawrence só podia esperar a polícia realizar seu trabalho. Insistiram nos anúncios por mais algum tempo, esperando que amigos ou parentes da vítima caíssem em si e dessem a este sumiço sua devida importância, mas também deram início às outras análises.

Até então, não houve resultados positivos e a monotonia apenas crescia, quebrada apenas pelos constantes telefonemas enraivecidos da jovem Barden e suas falhas tentativas de tocar alguma música em seu violão. Sua mãe havia lhe avisado anos atrás que seria melhor ter feito aulas, mas ele não lhe deu ouvidos.

Nessas horas, o detetive desejava poder participar das buscas policiais. Haviam revistado a casa da mulher, em busca de pistas que levassem à identidade do corpo e, mais importante, ao assassino — embora estivessem fadados a duvidar da inocência de Linda. O médico legista determinou a data da morte como a mesma da viagem da mulher, mas as conclusões a serem tiradas a partir disso não passavam de especulações.

Havia uma perfuração no pescoço da moça e, como afirmou Marie, uma faca ao lado, mas não encontraram outros respingos de sangue, digitais no corpo e nem aquele conveniente fio de cabelo que simplificaria a apuração do caso.

Não encontraram um motivo para o crime, e nem poderiam. Sem conhecer a vítima, seria impossível descobrir uma justificativa para o que aconteceu.

Havia uma concordância quase unânime entre os membros da polícia de que Linda Barden era a principal suspeita. Essa desconfiança, entretanto, não tinha bases sólidas além do fato de que o corpo havia sido encontrado em sua casa. Na verdade, a viagem da mulher ter sido marcada para o mesmo dia da morte foi um acontecimento que polarizou as opiniões policiais. Enquanto para alguns aquilo servia de álibi, para outros era conveniente demais para ter sido apenas coincidência.

Lawrence não sabia com quem concordar. Tudo o que sabia é que, na cadeia, Linda não poderia mais telefonar para ele. Talvez não fosse má ideia...

Ele balançou a cabeça. Era um detetive profissional, ora, precisava agir como tal! Ainda não era tarde demais para isso — mesmo que já tivesse resolvido oito casos antes daquele. Antes de prender qualquer um, precisaria descobrir a identidade o corpo.

O que, no terceiro dia, aconteceu.

A princípio, Lawrence pensou que fosse a mulher loira mais uma vez cobrando dele o que não estava ao seu alcance. Estava prestes a ignorar quando percebeu que o número que lhe telefonara não estava salvo com o mesmo nome do de Linda. Na verdade, não estava salvo. Lawrence não sabia se deveria atender ou não, mas sua curiosidade falou mais alto. Poderia ser a equipe de polícia com alguma notícia. Atendeu.

Ele estava certo.

— Senhor Knopp? — chamou uma voz grossa um tanto anasalada.

— Eu mesmo.

— Sou o superintendente Keplan, encarregado do caso. Trago boas notícias.

Nesse momento o detetive deu graças aos céus por ter resolvido atender. Linda quase lhe fizera perder sua oportunidade de voltar a atuar no caso.

— Recebemos uma ligação de um casal afirmando que sua sobrinha havia desaparecido alguns dias atrás, no mesmo dia da viagem de Linda Barden. Quando viram o nosso anúncio no jornal, decidiram comunicar o ocorrido conosco. E, quando fomos averiguar...

— Era a vítima?

— Era a vítima.

O detetive socou o ar. Poderia finalmente esfregar aquilo na cara de Linda — e era o que faria assim que surgisse uma oportunidade.

Então, percebendo que aquela não era a atitude correta de um detetive após uma descoberta tão importante, se recompôs. Afinal, era a notícia que ele estava esperando a semana toda.

Ele se posicionou melhor na poltrona, com as pernas dobradas para debaixo do assento.

— Informações gerais — pediu.

— Seu nome é Anastasia Quint. Vinte e seis anos. Não possui irmãos e nem filhos. Órfã. Mora com os tios em Toulon. Fez faculdade de jornalismo, mas não concluiu o curso. Vegetariana.

Lawrence franziu a testa.

— Órfã?

— Sim — o tal Keplan disse. — Não estou a par dos detalhes. Creio que o senhor possa confirmar isso com seus tios.

— Tudo bem. — O ruivo ficou um tanto abalado com aquela infelicidade na família da garota, mas não se permitiu mostrar. — Me passe o endereço completo dessa residência em Toulon.

O superintendente lhe passou a informação. O detetive não se deu ao trabalho de anotá-la, pois já a havia decorado, mas assim que Keplan desligou, Lawrence correu em direção a um papel e uma caneta e anotou o endereço antes que se esquecesse.

Foi ao pousar a caneta na mesa que o significado daquela descoberta pousou em sua mente. Haviam identificado o corpo! Agora sim ele entraria em ação. Ele sairia do tédio. E os capítulos poderiam chegar a duas mil palavras.

Não tinha como ficar melhor.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora