Capítulo XVI - Primeiro estágio

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 Lawrence não aguentava mais ver a cara de Linda e imaginava, com razão, ser um sentimento mútuo. Entretanto, por mais que não gostasse da garota, o detetive se sentia na obrigação de contar algo a ela.

Não seria algo fácil.

Mais uma vez, bateu à porta da casa dos Barden, imaginando se seria novamente obrigado a expulsar os moradores da sala de estar. Desejava conversar a sós com a mulher loira e, contrário ao assunto anterior, este precisava ser discutido individualmente com ela. Seria um tanto vergonhoso ter seus chifres expostos na frente de todos os familiares.

Desta vez, foi Marie quem abriu a porta.

— Senhor Lawrence, o que faz aqui de novo?

O detetive imaginou que seus familiares tivessem lhe contado sua visita no dia anterior. Ignorar essa possibilidade seria dizer que a bibliotecária possuía dons paranormais, coisa que nunca havia ocorrido com uma bibliotecária antes e, por isso, era algo em que Lawrence se recusava a acreditar.

— Circunstâncias me trouxeram aqui — replicou, vago. Não era de todo uma resposta, mas Marie já deveria estar acostumada. De fato, estava.

Lawrence entrou na residência.

Carlos se encontrava na mesma posição da tarde anterior, sentado na sua poltrona lendo o que, para o detetive, era o mesmíssimo exemplar. Não que Knopp fosse especialista em jornais — ou que ele sequer lesse jornais. O pai das meninas não se deu o trabalho de questionar a presença do ruivo no recinto, apenas deu uma olhadela para sua filha e grunhiu, voltando os olhos para as notícias muito importantes e sérias diante dele. Algo dizia a Lawrence que o sujeito ainda não o havia perdoado por ter sido expulso de sua própria sala de estar.

Torceu para que não guardasse rancor por fazer isso de novo.

No fim das contas, acabou não sendo necessário. Linda se encontrava em seu quarto, deitada na cama da irmã, conversando com alguém por telefone a respeito de signos ou algo do tipo. Vendo que não era nada importante, Lawrence se permitiu entrar e interromper o diálogo.

— Precisamos conversar — disse para a loira, então aproximou-se e falou com aparelho: — Posso pegar Linda emprestada por uns minutinhos?

Então ele viu com quem a garota falava. "Amor" era o nome dado ao contato, seguido de um emoji de coração. Aquilo apenas apertou mais o peito do detetive. Ele torceu para que Roger não reconhecesse sua voz.

O homem não disse nada do outro lado da linha, o que sugeria que ele havia, sim, reconhecido.

Linda, por sua vez, disse algo:

— Hã, com licença. Estamos no meio de uma ligação. — Sua voz era o estereótipo perfeito de uma personagem rica e mimada de um filme de comédia. Então, voltando-se ao telefone, seu tom mudou mais uma vez, fazendo parecer que Linda estava falando com um bebê ou um cachorro: — Sinto muito, amor. Eu preciso desligar, mas já te ligo. Eu te amo.

Após encerrar a chamada, ela sentou-se na cama e se virou para Lawrence, seu rosto em fúria explícita. Era assombrosa a rápida mudança de humor da jovem ao se direcionar para o detetive. Ele não podia julgá-la: reconhecia que era um tanto inconveniente às vezes — além do que, ele próprio tinha a mesma reação quando olhava para ela. Conseguia compreender o sentimento de Benjamim quanto à garota.

— É bom que seja importante.

Não era, para falar a verdade. Não para o caso em si, mas para Lawrence era, e muito.

— Linda... Tem algo que eu preciso contar para você.

Receosa quanto ao rumo daquela conversa, Linda indagou o que ele queria dizer com isso.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora