Capítulo XIX (pt. 1) - Tudo faz sentido

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 Não há nada como a resolução de um assassinato para alegrar o dia.

Ainda que Lawrence tivesse experimentado essa sensação apenas oito vezes em sua nem tão vasta carreira de detetive, ele podia dizer, ainda que com certa presunção, que estava acostumado a ela — mais do que a maioria das pessoas, pelo menos. Era sempre uma boa sensação a de dever cumprido, que representava o fim de um trabalho bem-sucedido e dinheiro a mais em seu bolso.

Entretanto, essa sensação não era compartilhada por todos. Ao final de um caso, pessoas poderiam ficar magoadas, traumatizadas, inconformadas com a conclusão das investigações... E, definitivamente, era de se esperar que o assassino não ficasse feliz em ser preso, mas não havia muito a ser feito quanto a isso.

— Então cá estamos.

Lawrence Knopp observava todos, atento, sentado em um banco alto no centro da sala de estar de Linda Barden. Os seis suspeitos se encontravam diante do detetive, alguns sentados no grande sofá em forma de L. Roger se encontrava em uma cadeira ao lado do móvel, no canto oposto ao da anfitriã, que parecia fazer questão de se afastar o máximo possível de seu agora ex-namorado. Ele estava ao lado da esposa, que também parecia desconfortável com a situação — não que qualquer um dos seis suspeitos demonstrasse alguma emoção positiva naquele momento.

Marie e Benjamin ocupavam os assentos intermediários do sofá, enquanto Carlos era o único infeliz a ficar de pé, atrás de sua família, apoiando-se no encosto do sofá.

Eram uma e meia da tarde. O atraso já havia sido previsto pelo detetive — sempre havia um ou outro que "se lembrava de algo importante em cima da hora" e que se revelava algo sem qualquer significância, ou então que decidia se arrumar cinco minutos antes do horário combinado. Ainda que o detetive às vezes se encaixasse nessa descrição, ele se sentia incomodado quando outra pessoa fazia isso em um compromisso que ele havia marcado. Por sorte, não haviam demorado tanto assim.

De todas as residências dos suspeitos, aquela era a que representava maior dificuldade de locomoção a todos, mas Lawrence fazia questão de solucionar o crime no local onde tudo havia começado. Além do mais, adorava aquele sofá — mesmo que não estivesse usufruindo de seu conforto.

— Esse caso foi bastante interessante, preciso admitir — anunciou o detetive. — E preciso aplaudir a frase de efeito de Linda no final do primeiro capítulo. "Quero que investigue minha morte", mas que genial escolha de palavras!

Os demais se entreolharam. Capítulo?

— A morte teoricamente não foi sua — prosseguiu —, mas, se este caso vier a se transformar em livro, é provável que o autor não se importe com isso e coloque um título sensacionalista para chamar a atenção dos leitores. Se o encontrarem, façam o favor de processá-lo por propaganda enganosa.

O detetive então percebeu que não estavam cientes da metalinguagem em que estavam inseridos, por isso tossiu e mudou de assunto. Aliás, retomou o assunto principal daquela reunião:

— Como todos estão a par, Anastasia Quint foi encontrada morta no bosque atrás dessa casa, com uma facada profunda no pescoço. Foi Marie quem a encontrou ao regar as plantas, três dias depois de Linda sair em viagem, data em que a mulher desapareceu e foi morta. No momento em que Marie encontrou o corpo, saiu correndo, sem se atentar à identidade da morta: pensou que fosse Linda, e foi o que saiu gritando aos quatro ventos.

Marie se encolheu, um tanto envergonhada. Talvez não tivesse sido a melhor das ideias.

— Essa não foi a melhor das ideias — comentou Knopp. — Por sorte, os Barden foram ver o corpo na manhã seguinte, no mesmo momento em que Linda retornava de viagem. Tudo foi esclarecido, ela não estava morta, afinal de contas, e por isso estou aqui agora.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora