Capítulo XVIII - Ainda não

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 O detetive optou por esperar na delegacia enquanto Keplan e seus homens buscavam Roger em sua casa. Estava cansado de se deslocar de um lado para outro daquela cidade — em pouco mais de vinte e quatro horas, já havia ido à casa dos Barden duas vezes, interrogado os Quint e se reunido com os investigadores na delegacia outras duas vezes. Não estava nem um pouco a fim de repetir nenhuma dessas viagens, de forma que restou a Keplan a tarefa de ir sozinho buscar seu suspeito.

O homem de feições alongadas fez uma pausa para tomar um café antes de seguir seu rumo, enquanto Lawrence, ainda sem ter se levantado da cadeira onde havia se sentado, aguardava seu retorno.

Suas pernas se encontravam jogadas em cima da mesa, cruzadas uma sobre a outra, as pantufas à mostra para qualquer um que atravessasse o corredor e olhasse através da janela. Sua cabeça estava tombada, queixo tocando o peito, e seu rosto coberto pela boina. Estava cansado. Não apenas do caso, apesar de estar incluso na lista. Estava no sétimo dia de investigação, o que fazia deste o caso mais demorado de sua carreira até então — não que seu histórico fosse tão longo assim.

O que realmente o cansava era o aspecto psicológico de toda aquela situação. Além de toda a tragédia que a morte de uma jovem carrega, as próprias relações entre os membros das duas famílias deixavam Lawrence entristecido. O detetive sabia que não era correto se envolver emocionalmente na investigação, mas era difícil lidar com a rivalidade entre Benjamin e sua sobrinha, a traição de Roger e, mais que tudo, com a morte dos pais de Anastasia. Apesar de estar envolvido nesses contextos apenas como observador, era difícil não se lembrar de sua própria família.

Estava realmente cansado, mas em breve poderia descansar.

Já podia considerar o caso como encerrado, mas, por algum motivo, receava. Ora, era óbvia a culpa de Roger, ele não entendia o porquê de tanta cautela. Ainda que fosse essa a atitude correta que um detetive deveria tomar, não era uma atitude costumeira sua, que sabia sempre estar certo independentemente da situação.

Egocentrismo, por sua vez, era uma característica marcante sua, como era possível notar.

Como Keplan se demorava e o tédio começava a se fazer presente, Lawrence decidiu pegar novamente o caderno de poemas de Anastasia. Desistira de tentar cochilar, tentou por um tempo distrair sua cabeça até que concluiu que não conseguiria pensar em nada que não se relacionasse com a investigação.

Jogando suas pernas de volta para o chão e recolocando a boina na cabeça, o detetive abriu o caderno preto na data onde tudo começou. Vinte e cinco de maio.

Quero apenas sufocar
Me afogar em mim
Esquecer
Mas não dá
não dá, não dá, não dá

Daria tudo a quem pudesse,
jardineiro de meu ser,
arrancar de mim essas ervas daninhas
Arrancar desse jardim
Mesmo que nada mais venha a florescer


As ervas daninhas, Lawrence supunha, eram metáforas para seus próprios sentimentos. Quando escreveu essas linhas, Anastasia devia estar se corroendo em tristeza e decepção, preferindo não sentir mais nada a continuar com aquela emoção. O episódio fora realmente impactante na vida da jovem.

Quando o detetive interrogou os Quint, assim que haviam descoberto a identidade da garota, perguntou se Anastasia retribuía seu amor. Apesar de uma tensão ter sido colocada no ar naquele momento, ao que tudo indicava, a resposta era positiva.

Na alegria e na tristeza
Na saúde e na doença
Na riqueza e na pobreza

Tristeza, doença, pobreza
de espírito, só se for
ao mentir perante o Pai

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora