Capítulo XV - Concordando com algo

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— Você o quê?

— Tenho um forte suspeito do assassinato de Anastasia Quint.

O táxi que levava Lawrence até a delegacia não chegava a correr em alta velocidade, mas tampouco ia devagar. Eram quase dez horas da manhã, o dia acabava de começar e ainda havia muito o que fazer.

O taxista ouvia a conversa entre seu passageiro e algum outro sujeito por telefone, com curiosidade mas sem nada dizer. Lawrence não se incomodava em explicitar seus pensamentos na presença destes profissionais — seria improvável sua participação no crime, visto que seria extremamente coincidente e conveniente que o detetive pegasse este exato veículo com este exato motorista —, portanto não via problemas em relatar tudo a Keplan naquele momento.

Bem... Quase tudo.

— Conversei com os Quint ontem à noite e descobri algumas coisas interessantes que os ligam à família Barden — disse ele. — O restante eu lhe contarei pessoalmente. Chego na delegacia em dez minutos.

— Espere! Eu acabei de me levan...

Lawrence desligou antes de escutar qual quer que fosse a exclamação do homem. Não era importante, ele supunha.

Como era de se imaginar, Keplan demorou muito mais do que apenas dez minutos para arrumar-se, tomar seu café, pegar seu carro e chegar na delegacia. Isso deveria ser óbvio para o ruivo, afinal ele estava a caminho do local antes mesmo de avisar ao superintendente para encontrá-lo lá, mas, por algum motivo, Lawrence pareceu irritado com a demora do parceiro.

Keplan não se importou com a irritação do detetive. Se Knopp de fato pretendia contribuir com o andamento da investigação e a averiguação dos fatos, deveria ter a prudência de esperar o superintendente avisar a seus próprios companheiros sobre a reunião marcada. Afinal, ainda que fosse o homem que conduzia a investigação, não era o único a participar dela: um representante da equipe legista e o chefe da perícia também estavam presentes para se colocarem a par das novas informações.

Tendo em vista o contexto em que Lawrence os convocou para a reunião — em cima da hora e sem maiores explicações —, ele não tinha por que reclamar de aguardá-los durante cinquenta minutos.

O legista e o chefe da perícia acompanharam Keplan até uma das salas de interrogatório, um pequeno cubículo com uma lâmpada que pendia do teto, acesa sem necessidade naquele momento. Havia, além dela, uma mesa de metal com quatro cadeiras onde Lawrence já se encontrava, bebericando um delicioso café em sua própria caneca com seu apelido estampado. Roch perguntou-se quanto dessa bebida o ruivo ingeria por dia e torceu para que o sujeito não acabasse sofrendo uma overdose, mas havia outras preocupações mais urgentes naquele momento.

O superintendente e o chefe da perícia, de nome Hudson, sentaram-se de frente para o detetive, enquanto Marco, o legista, teve a insatisfação de sentar-se ao seu lado.

— Lamentamos a demora — ironizou Keplan, sem lamentar-se de forma alguma. — Agradecemos sua contribuição neste caso e estamos dispostos a ouvir o que tem a dizer. — Sua fala desta vez não fora irônica. Seus dois colegas apenas assentiram, em concordância.

Lawrence não estava acostumado a ter suas considerações levadas a sério e ficou sem saber o que fazer durante alguns segundos. Logo em seguida, interpretou a situação como um sinal de que estava sendo reconhecido como um detetive profissional. Sob essa nova perspectiva, ele iniciou sua explanação.

— Bem... como disse a Keplan no telefone, conversei ontem à noite com Ruth e Roger Quint, um interrogatório bastante produtivo, devo dizer.

— Disse que tem um suspeito do assassinato de Anastasia Quint — lembrou Keplan.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora