Capítulo XIII - Almofadas e lactobacilos

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— O que está fazendo aqui?

— Acredite, isso é tão desagradável para mim quanto para você — disse o detetive, pondo as pantufas para dentro da casa dos Barden mais uma vez. — No entanto, as circunstâncias do caso me fizeram vir até aqui e seria muito mais prazeroso se, durante a próxima hora, nós dois fingíssemos que não nos odiamos e agíssemos de maneira civilizada. O que acha?

Linda grunhiu em resposta. Não gostava da ideia de agir de maneira civilizada com Lawrence. Ele não merecia sua civilidade. Mas, por outro lado, ele era um detetive e poderia prendê-la a qualquer momento — o que não era verdade, mas Lawrence não fazia questão de corrigi-la.

Além disso, ela, mais do que ninguém, queria que o caso fosse solucionado.

Lawrence havia alertado à mulher para que não ficasse em sua própria casa por esta ser a cena de um crime. Era esse o motivo pelo qual ele se encontrava na residência da família em vez de na casa da própria Linda Barden.

— Senhor Knopp, o que faz por aqui novamente? — foi a vez de Carlos perguntar. O pai das meninas estava sentado numa poltrona lendo seu jornal. Benjamim se encontrava em algum outro aposento, ainda sem notar a presença do detetive naquela casa, assim como Lawrence desejava que fosse. Marie, por sua vez, estava no trabalho de bibliotecária fazendo coisas de bibliotecária, ele imaginou.

O detetive não estava nem um pouco a fim de lidar todos os residentes daquela casa — já não bastasse o interrogatório da tarde anterior. Linda era a única com quem desejava ter algo e ele cogitava se deveria expulsar o pai de seu aconchego na sala de estar enquanto conversava com a garota.

Decidiu que sim.

Uma vez a sós, Knopp se acomodou no sofá da família. Lembrou-se do enorme móvel em forma de L que havia visto quando fora com Marie visitar a casa de sua irmã. Gostava dessa letra, logo gostava daquele sofá. Além de ser a inicial de seu nome, era a inicial de várias outras palavras de que também gostava. Lactobacilo era uma delas, e lipossolúvel, e leucócito, e longínquo. Lascado também era uma delas, e esta palavra em particular representava como o detetive ficaria se não resolvesse o caso.

Parou de pensar em palavras com L.

— Linda...

Percebeu então que o nome da mulher também começava com L e, na mesma hora, deixou de gostar daquela letra. Não que isso fosse de vital importância.

— A senhorita se encontra em uma situação complicada, se me permite dizer — falou ele. A mulher, na ponta oposta, engoliu em seco. — Sei que já falamos disso ontem à noite, mas me vejo obrigado a repetir: seu álibi é um tanto quanto falho e conveniente.

Ela franziu a testa.

— Achei que tínhamos entrado em consenso sobre esse detalhe. A viagem já estava marcada para aquele dia havia algumas semanas.

— O mesmo dia em que Anastasia desapareceu — insistiu o ruivo. — Coincidência demais para ser uma coincidência, não acha?

— E o que pensa que fiz o dia todo? — Ela rebateu. — Que fiquei vigiando a casa dessa menina esperando seus pais saírem para poder sequestrá-la? Seria preciso um timing muito perfeito para isso tudo dar certo, e eu não me arriscaria a perder o voo.

Lawrence ainda não estava convencido, apesar de ser um argumento válido. Ainda tinha algumas ideias de como ligar a viagem de Linda ao desaparecimento de Anastasia, mas não chegaria a lugar algum apenas despejando suposições sem fundamento sobre a sua interlocutora. Também não fez questão de corrigi-la sobre os pais da garota morta. Em vez disso, pediu:

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora