Capítulo XIV - O menor dos problemas

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 Já passava das seis da tarde quando o veículo estacionou em frente à casa dos Quint.

Durante o trajeto, repassou em sua mente o que pretendia fazer e dizer quando chegasse. Tinha o costume de imaginar episódios futuros para estar preparado na hora em que ocorressem, mesmo que o rumo da conversa pudesse desviar-se do roteiro inicial ou que ela sequer viesse a acontecer. Era um hábito que o ruivo possuía desde criança, e por várias vezes pegou-se falando sozinho, em voz alta, andando em círculos enquanto interpretava seu papel. Essa particularidade sua poderia ser útil caso Lawrence se interessasse por aulas de teatro, mas em sua vida aquilo só serviu para fazê-lo ser considerado esquisito pelos colegas de turma durante o ensino fundamental.

Ele nunca mais falou sozinho em voz alta.

Lawrence pagou ao taxista assim que chegou ao seu destino. Quando o carro amarelo virou a esquina, ele conferiu o cronômetro de seu celular.

Vinte e dois minutos e dezenove segundos. Dentro do previsto.

Com a mão direita, guardou o aparelho em seu bolso enquanto usou a esquerda para bater à porta. Não levou muito tempo até Roger atendê-lo, visivelmente surpreso com a visita do detetive.

— Olá, Lawrence. Não esperava vê-lo por aqui.

O homem foi bastante redundante em sua fala. Seu rosto já dizia tudo.

O detetive se adiantou para dentro da residência. Viu Ruth surgindo logo atrás do esposo, com a mesma expressão. Parecia acabar de vir da cozinha, ao menos foi o que seu olfato sugeriu. Também sugeriu que Ruth era uma boa cozinheira, mas aquilo não era importante.

— Descobriu quem é o culpado? — ela indagou.

Lawrence lamentou por ter de dar uma resposta negativa à mulher, mas não muito. Sua empolgação continuava a mesma e não havia desapontamento que retirasse isso dele.

— As investigações avançaram bastante desde a última vez em que os vi — disse o detetive, dando-se liberdade para sentar no sofá do casal, que, por uma infeliz infelicidade, também não era em formato de L. — Interroguei a família da mulher em cuja casa o corpo foi encontrado e troquei informações com a polícia. Acredito ter chegado a conclusões interessantes, conclusões essas que não posso compartilhar com os senhores. Ainda assim, a investigação ainda não está completa. Para isso, portanto, gostaria de conversar com cada um de vocês. Em particular.

O casal assentiu em concordância, após uma ligeira troca de olhares.

— Começaremos com Ruth. Roger, poderia fazer o favor de se retirar e ir para a cozinha? — pediu. — Em breve será sua vez.

Logo após expulsar o anfitrião de sua própria sala de estar, o detetive fez um gesto para que a mulher se sentasse ao seu lado. Ela assim o fez.

O sofá possuía espaço para que três pessoas pudessem se acomodar lado a lado. Lawrence se encontrava em uma das extremidades do móvel, enquanto Ruth se posicionava na oposta, com a clara intenção de não se aproximar muito do sujeito de boinas que praticamente invadira sua casa. Não que este fizesse questão de se aproximar da mulher.

— Muito bem, senhora Quint, devo dizer que estou bastante intrigado com o contexto da noite em que Anastasia desapareceu — contou o detetive. — Como disse a vocês, sua morte ocorreu no mesmo dia de seu desaparecimento, que, o que duvido ser uma coincidência, também foi o dia programado para a viagem de Linda Barden. Não faz sentido para mim, portanto, acreditar que sua sobrinha tenha fugido de casa para se encontrar com a Morte. Tenho para mim que alguém planejou o crime a partir de tudo isso, desde a viagem de Linda, a carona de Roger e sua ida ao mercado, para que pudesse sequestrar Anastasia, mas essa teoria tampouco faz mais sentido que a anterior. Salvo a primeira, as saídas de vocês não passam de acontecimentos ocasionais sem planejamento com antecedência.

Morreu, mas Passa Bem - Série LawOnde histórias criam vida. Descubra agora